José Renato Nalini *
Não bastasse a fuga dos investimentos, a condição de “pária ambiental”, as mais de seiscentas e mil e cinco mortes – e o número continua a aumentar – a inflação voltando, os setenta mil jovens mortos por ano e agora o estouro do limite prudencial.
A luta contra a inflação foi heroica. Ninguém acreditava que ela pudesse vir a ser debelada. Mas foi. Durou pouco a alegria. Em nome da matriz da pestilência, que é o instituto da reeleição, vale tudo na frágil e contaminada economia tupiniquim.
O retrocesso brasileiro mostra o quão difícil é vivenciar a democracia. O governo do povo, pelo povo e para o povo, tem sido aquele em que a maior vítima quem vem a ser: o povo! Não tem por ele ninguém, nada obstante – formalmente – seja o único titular da soberania.
É o que diz a Constituição Cidadã, que completou trinta e três anos, a idade de Cristo, a lembrar sua flagelação, sua caminhada rumo ao Calvário, sua coroação com espinhos, sua crucifixão e sua morte.
Se o Estado brasileiro tivesse cuidado da educação há décadas, não pondo a perder o trabalho e o empenho dos verdadeiros “fundadores” da nova escola pátria, valendo mencionar Prudente de Morais, Fernando de Azevedo, Caetano de Campos, Santiago Dantas, Paulo Freire e tantos outros que deram sua inteligência e seu sangue para modernizar o ensino, essa massa desvalida teria adquirido condições de sobreviver.
A incúria governamental se reflete nas ruas cheias de moradores sem teto, de mendigos, de desempregados, de subempregados, de informais, de invisíveis. A pandemia escancarou a triste, mais do que triste, a trágica e dramática situação brasileira.
É hora de ir correndo pedir auxílio da comunidade internacional, não para cumprir a Constituição e a lei, como se afirmou às vésperas da COP-26, mas para uma ajuda humanitária.
Não é possível que vinte milhões de irmãos passem fome permanentemente, mais vinte e cinco milhões têm a certeza de que chegarão a esse estágio e cinquenta e cinco milhões sofram de insegurança alimentar.
É hora de rever todas as insanidades, os vetos às normas que amparam a agricultura familiar, um apelo à consciência de quem ainda não a perdeu, para que o Brasil volte a ter esperança em dias melhores. Por enquanto, vê-se que é possível piorar. É como estamos hoje.
* Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras – 2021-2022.