Pesquisador atenta para problemas originados a partir de onda de calor





A onda de calor registrada na região Sudeste do país tem sido objeto de diversos estudos. Em Tatuí, ela virou assunto de debate para o professor José Carlos Ferreira, da Fatec (Faculdade de Tecnologia) “Professor Wilson Roberto Ribeiro de Camargo”. Ele é mestre em ciências atmosféricas pela USP (Universidade de São Paulo) e membro do Nupe (Núcleo de Pesquisas da Fatec).

Em material encaminhado à redação de O Progresso, o professor atenta para problemas originados a partir do fenômeno meteorológico. Explica, também, as causas que levaram o país a enfrentar altas temperaturas no final do ano passado e início deste ano e que impediram precipitações.

De acordo com Ferreira, por conta das temperaturas elevadas e da ausência de chuva, houve um aumento do consumo de água e energia elétrica.

Por essas razões, as “administrações públicas” voltaram atenções para “possíveis níveis de apagões ou racionamento de água”. Também providenciaram “orientações à população sobre o uso racional do precioso líquido”.

Essa seria a razão pela qual a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) solicitou que os consumidores tivessem bom senso na utilização da água, mesmo informando que os reservatórios da cidade apresentam “nível satisfatório”. A empresa manifestou-se após contato da reportagem, enviando informações também para outros órgãos do município.

Segundo o professor, a redução dos níveis dos reservatórios naturais e artificiais pode comprometer programas de uso de água para irrigação e nas indústrias. O resultado disso reverte-se em alta dos preços dos alimentos.

Ferreira alerta, ainda, que a escassez pode atingir “mesmo os municípios que sempre tiveram boa disponibilidade de água para abastecimento”. Este é o caso de Tatuí, que tem captação do rio de mesmo nome e não sofreu desabastecimento.

O pesquisador explicou que o fenômeno registrado nesses dois primeiros meses do ano deve-se a uma grande massa de ar quente e seca com alta pressão. Segundo Ferreira, normalmente, a energia do sol chega à Terra por meio de ondas. Dessa energia, uma parte é absorvida pelas nuvens e outra, refletida de volta para o espaço, enquanto uma terceira chega à superfície do planeta.

Durante o dia, parte da energia que chega à superfície aquece o ar. O calor sobe na forma de vapor de água e, com isso, encontra o ar frio e se condensa, formando nuvens.

“À noite, esse processo não ocorre, e a Terra reflete para cima parte desse calor na forma de ondas longas chamadas de infravermelho”, relatou.

Por conta da massa de ar quente, o calor não consegue “subir” e as nuvens de chuva não se formam. Quando esse fenômeno ocorre, Ferreira descreveu que se forma uma espécie de “sanduiche de calor”, deixando a atmosfera estável e reduzindo os ventos. É por isso que a temperatura se mantém mais elevada.

Outro fator que contribuiu para o aumento, conforme o pesquisador, é que, nesta época do ano, a Terra passa pelo “solstício de verão”, período no qual a irradiação solar é máxima sobre o hemisfério Sul.

“À medida que formos nos aproximando do outono (que, neste ano, tem início no dia 20 de março), o hemisfério Sul vai mudando de posição em relação ao plano de órbita da Terra ao redor do Sol e essa irradiação tende a diminuir lentamente”, descreveu o professor. Com isso, há queda na temperatura.

Ferreira disse que o “atual estado climático” somente mudará quando uma massa de ar frio e úmido formar uma frente fria. Isso acontecerá quando ela encontrar uma massa de ar quente. Com isso, a pressão atmosférica voltará “aos níveis normais”.

“Uma frente quente ou fria é o resultado do encontro de massas de ar com diferenças termodinâmicas. Prevalece a mais forte. É o que vem ocorrendo nos últimos dias”, disse ele.

A depender das condições climáticas das duas massas (ar quente ou frio), o pesquisador afirma que pode haver a ocorrência de ciclones seguidos de fortes chuvas, ou, até mesmo, granizo.

“Vamos torcer para que uma frente fria e úmida venha sobrepujar a massa atual sobre nossa região, formando ciclones moderados de baixa pressão e chuvas bem distribuídas”, escreveu o professor.

Conforme o pesquisador, uma massa de ar quente pode ser seca ou úmida. Ferreira disse que ela se forma, geralmente, em baixas latitudes. Já as massas de ar frio são oriundas dos polos (Norte e Sul), sendo, também, secas e úmidas.

“Dependendo do estado termodinâmico da atmosfera, uma massa de ar pode cobrir grandes extensões de superfície, como a que estamos vivenciando nos últimos dias. Do ponto de vista dinâmico, esse estado atmosférico no hemisfério Sul é denominado de anticiclone tropical”, descreveu o estudioso.