Tem um ditado que diz que Deus desconta dos pescadores os dias que passam na barranca. Talvez seja um fato. Lá pelos anos 80, um grupo de amigos residentes, em sua maioria, na Vila Esperança resolveu ir pescar em Mato Grosso. Alugaram um ônibus, caniço, samburá, 30 garrafões de pinga da boa e rumaram para o estado dos peixes grandes. Entre os eméritos aventureiros, estavam o Carlos Rodrigues, Dito Beija-Flor, Claudio Lâmpada, Dinho Pires, Davi Padeiro, Carlinhos Mecânico Roberto Japonês. O mestre-cuca da cambada era o Carioca. O lugar escolhido foi o rancho do Zé do Mamão. Esse local ficava pertinho de uma cachoeira muito bonita. Montamos o acampamento, tomamos uma talagada e rumamos para o caudaloso e piscoso rio. Barco pronto, todos sentadinhos, e lá vamos nós, rio abaixo, encontrar um remanso legal para dar início ao saboroso esporte. Horas depois, jantar garantido, e, muito cansados, voltamos para o acampamento.
No dia seguinte, pulamos da cama muito cedo, e alguns foram procurar um bom lugar na barranca do rio; outros treparam no barco e sumiram. Na hora do almoço, o Carioca preparou deliciosos filés de peixe com arroz e ervilhas, pimenta da boa e uma garrafinha de mé, e mandou o Batata entregar para o pessoal gordas marmitas.
O Dinho apareceu com a mão parecendo um bolo de fubá, alguma coisa tinha-o mordido. Foi sugerido que ele fosse até a cidade procurar cuidados médicos. Dinho recusou, argumentando que um pingão é um santo remédio para essas coisas.
Avançou até um garrafão, derramou um pouco de pinga no local da mordida e tomou o restante no grut-grut, ficando de fogo imediatamente. Nesse momento, surge rio abaixo um barco de policiais vindo de Coxim.
Desceram, cumprimentaram e pediram documentos. Tudo em ordem, mas, antes de irem, um deles foi atrás de uma moita para fazer xixi. De repente, o homem dá um pulo para trás, volta apressado e comenta que, atrás da moita, havia uma baita cobra dando seus últimos suspiros. Estava morrendo envenenada por alguma coisa.
– “Cês” deram veneno para a cobra? – indagaram. Todos negaram.
É que a cobra está lá atrás, estrebuchando, com a língua de fora. Já era! Pela aparência, a cobra estava morrendo de cirrose, dado o alto grau de álcool circulando em seu sangue. Afirmaram.
Ficamos por lá mais uns três dias e, finalmente, tomamos rumo em direção à terra do Dirley do Amaral. Na volta, paramos para comer alguma coisa num restaurante de estrada. Todos tomaram assento, mas ninguém sentou ao lado do Dinho, por precaução, é claro!
Chegando à Cidade Ternura, uma amostra de sangue do Dinho foi enviada para o Instituto Butantã, cujo resultado foi um convite para passar um tempo no dito instituto.
Dinho recusou, justificando que o melhor remédio era o caldo de cana, facilmente encontrado no Bar do Toninho Moita, na vila Esperança.