Nesta terça-feira, 22, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) publicou o “Relatório sobre Violações à Liberdade de Expressão”, um estudo sobre os casos de violência de diversos tipos contra a imprensa brasileira em 2021.
Conforme o relatório, a situação da imprensa é novamente preocupante no Brasil: em 2021, houve aumento de 21,69% no número de profissionais e veículos de comunicação que sofreram algum tipo de ataque no país, em relação ao ano anterior.
Pelo menos 230 jornalistas foram envolvidos em 145 casos de violência não letal, que incluem, entre outras agressões além das físicas, ameaças, intimidações e ofensas. O número corresponde a uma média de 2,7 casos por semana.
As ofensas, inclusive, foram o tipo de violência mais detectado, com 53 ocorrências e 89 vítimas. Na sequência, aparecem as agressões (34 casos e 61 vítimas) e intimidações (26 casos e 43 vítimas).
Em 2021, não foram registrados casos de assassinato de jornalistas pelo exercício da profissão. É apenas a segunda vez em que isso acontece desde 2012, quando a Abert começou a monitorar a violência contra a imprensa no país.
A entidade destaca, porém, que, em abril do ano passado, o radialista Weverton Rabelo Fróes foi executado a tiros em Planaltino (BA), mas o caso não foi incluído no relatório porque a polícia ainda está investigando a autoria e a motivação do crime.
Mesmo sem casos de assassinato, o relatório destaca o aumento de 100% no número de atentados em relação a 2020, especialmente pela forma como foram executados, muitas vezes com armas de fogo. Foram oito casos, com oito vítimas.
Em relação aos ataques virtuais contra a imprensa, a Abert aponta uma pesquisa da empresa de análise de dados Bites, segundo a qual, em 2021, houve cerca de 4.000 ataques virtuais ao trabalho jornalístico por dia (167 por hora, ou 3 por minuto). Já em 2020, foram 7.900 ataques por dia (331 por hora, 6 por minuto).
O estudo considera como ataques “palavras de baixo calão, expressões depreciativas e pejorativas contra a imprensa profissional”.
Apesar dos dados negativos, os números configuram uma redução de 54% nos ataques virtuais ao trabalho jornalístico em comparação a 2020.
A Abert ainda aponta que, de acordo com um relatório da Pesquisa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), 55 profissionais de imprensa foram assassinados no mundo em 2021.
O documento elaborado pela Abert ainda traz informações do Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa da organização internacional Repórteres sem Fronteiras (RSF). Os primeiros colocados são Noruega, Finlândia, Suécia e Dinamarca.
A organização estuda o nível de liberdade de expressão em 180 países e os separa em cinco cores: branca (muito boa), amarela (boa), laranja (problemática), vermelha (difícil) e preta (muito grave).
De acordo com o levantamento, em 2021, o país ficou na 111ª posição. “No Brasil, infelizmente, tivemos um dado vergonhoso. Pela primeira vez em 20 anos, o país entrou na zona vermelha do ranking mundial de liberdade de imprensa”, afirmou Flávio Lara Resende, presidente da Abert.
“Foi o quarto ano consecutivo de queda e, desta vez, o Brasil perdeu quatro posições no rol, passando da colocação de 107 para 111. Desde 2002, quando o ranking começou a ser publicado, esta é a pior posição do Brasil”, acentuou Resende.
“A classificação mostra que, nesses países, o trabalho do jornalista é considerado mais difícil. O cenário brasileiro é mais uma vez bastante preocupante”, ressalta.
Resende conclui (mais uma vez) com o óbvio: “O direito constitucional da sociedade brasileira de ser informada sobre fatos que impactam o seu cotidiano somente estará garantido com uma imprensa livre, independente e plural”.
Considerando os dados e as corretas observações, há necessidade de muita atenção pelos brasileiros como um todo – pelo menos daqueles que ainda creem na ideia de ser a democracia o pior sistema de governo no mundo, excetuando-se todos os outros.
Ou seja, quem não gostaria de viver sob as botas de uma ditadura precisa levar a sério o que fará nas próximas eleições, não se esquecendo, sobretudo, de que todos os governos totalitários são iguais na prática, a despeito de suas hipotéticas “cores ideológicas” – haja vista à guerra iniciada pela Rússia “comunista”, com apoio (ou “solidariedade”) de governos de extrema direita.
Importa aos candidatos a ditadores, na verdade, não terem de lidar com os demais Poderes, com os movimentos populares organizados, com a opinião pública e – claro! – com a imprensa profissional.
Ora, ao não ter de dar satisfação a ninguém, é muito mais fácil governar, tal como dar porrada em qualquer um que não seja submisso também é muito mais tranquilo – senão prazeroso – para quem somente enxerga soluções na base do coice.
Não há outro motivo para tamanho fetiche por ditadura da parte dessas figuras. Pela mesma excitação absolutista, no momento, presencia-se a euforia em defesa de uma rede social que não respeita as mínimas regras da legislação nacional – muito menos a dignidade humana e a “verdade”.
O tal Telegram, esse aplicativo cujo uso é incentivado e defendido pelo governo federal – a pretexto, quem diria, da “liberdade de expressão” – carrega em seu tráfego o comércio ilegal de todo tipo de produtos (de armas a drogas), estelionatos, incentivo a golpes e, entre fake news sem miséria, até pedofilia. (Pelo menos até esta semana seguia assim.)
Fica a pergunta, portanto: a quem interessa tirar da TV um filme por suposta pedofilia (uma comédia, com indicação de idade) e, ao mesmo tempo, defender, com mecanismos do próprio estado, a manutenção de uma rede social onde, de fato, a pedofilia é compartilhada? Que defesa da família é essa, afinal?
Talvez, a defesa histérica desse aplicativo por alguns seja pelo fato de ele ainda ser o maior instrumento usado para disseminar mensagens nazifascistas com o objetivo de, em última instância, tirar do virtual e levar para o mundo real as milícias extremistas, armadas e em seguida à contagem dos votos nas próximas eleições.
Dúvida? Por outro lado, algo é certo: a imprensa “tradicional”, “profissional”, submete-se a todas as leis do país, estando sujeita à Justiça, portanto. Resta, a partir de agora, a população já observar os candidatos das próximas eleições, avaliando-os por critérios do que também entende ser justo, lembrando, finalmente, que mentiras, agressões e desrespeito às leis e à democracia, francamente, não são coisas de gente “do bem”.