Jheniffer Sodré
Yamalui Kulkuro mostra aos alunos como é o ‘cabo de guerra’ dos índios
Desde a última semana de março, oito índios da etnia kuikuro, da região do Alto Xingu, estão hospedados no sítio Santa Rosa, na zona rural do município. Esta é umas das 14 etnias que vivem no Parque Indígena do Xingu.
A família de índios ficará em Tatuí pelo período de um mês, para desenvolver atividades de intercâmbio cultural com estudantes.
O projeto “Intercâmbio Indígena” é desenvolvido pelo sítio Santa Rosa há 11 anos, em abril, quando é comemorado o Dia do Índio, no dia 19.
Com ele, os alunos de escolas públicas e particulares, de quatro a dez anos, têm a oportunidade de conhecer e vivenciar a cultura dos índios, interagindo com representantes de diversas etnias indígenas do Brasil.
Na segunda-feira, 31, cerca de cem alunos da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) participaram da abertura das atividades do intercâmbio cultural.
Na ocasião, eles conheceram um pouco sobre a cultura e os hábitos diários dos índios do Alto Xingu, visitaram dois tipos de moradia e um pequeno museu do índio, aprenderam as técnicas do arco e flecha e da zarabatana, tiveram os rostos pintados e conheceram o artesanato indígena.
Para a diretora pedagógica da Apae, Elen Adriana Teotônio, o intercâmbio cultural indígena é um momento importante para os alunos da instituição, pois proporciona atividades diferentes das quais eles estão acostumados e têm acesso no dia a dia.
“É muito interessante e um grande aprendizado para todos eles. Os alunos ficam ansiosos e ‘numa alegria só’ em sair da rotina, até mesmo aqueles que já participaram do passeio e sabem como é”, relatou a diretora.
O índio Yamalui Kuikuro, 30, é tradutor, transcritor e pesquisador indígena, recebeu uma bolsa do Museu do Índio para estudar, vai publicar um livro no próximo ano e participa do intercâmbio cultural pelo segundo ano.
Para ele, é importante participar de atividades como essa, por ser oportunidade que os índios têm de contar a própria história e receberem o “respeito” das pessoas, ou dos “homens brancos”, como eles dizem.
“Este é um convite importante para mostrar aos ‘homens brancos’ a nossa realidade, como vivemos, o que fazemos e toda a nossa cultura. E eles vão aprender comigo e vão me ouvir a falar dos índios, não é um antropólogo, um filme ou um escritor que está falando da gente, somos nós mesmos. É dessa forma que recebemos o respeito do ‘homem branco’, e o índio precisa disso”, ressaltou Kuikuro.
Além de dois irmãos, vieram com Kuikuro a esposa, duas filhas, a cunhada e o sobrinho dele. Todos eles ficarão em Tatuí durante todo o mês de abril.
Kuikuro também contou que, na aldeia dele, vivem 750 índios e que, atualmente, já existe uma escola de ensino médio em português para todos eles.
“Eu e meus irmãos somos alunos, e tivemos que pedir licença para o professor para estarmos aqui em Tatuí. No final dessa experiência, a gente tem que escrever um relatório relatando tudo o que vivemos aqui para não sermos reprovados na escola”.