Obras do complexo da PC são concluídas





Cristiano Mota

Andreucci apresentou interior de antiga Cadeia Pública e demais ambientes do complexo a moradoras e representantes de clube na quarta

 

Funcionários da Camargo Engenharia Construções encerraram, na sexta-feira, 4, os trabalhos referentes às obras do complexo da Polícia Civil. Na data, eles concluíram a construção de um novo prédio, a reforma da Delegacia Central e da Cadeia Pública – desativada em 2006 após sucessivas rebeliões.

Dois dias antes de ser entregue oficialmente ao delegado titular do município, José Alexandre Garcia Andreucci, a antiga unidade prisional recebeu a visita de representantes do bairro Chácara Junqueira e do Clube Renascer “Terceira Idade”.

Ao todo, 11 mulheres – lideradas por Maria Flora Luciano de Campos Andreucci – estiveram no complexo. Elas foram recepcionadas pelo delegado.

O titular informou que a obra teve conclusão no dia 4, praticamente, um ano depois do início. “Ficou de altíssima qualidade”, disse o responsável pela Delpol.

De acordo com ele, a solenidade de entrega deverá acontecer após a Delegacia Seccional de Itapetininga concluir processo de licitação para aquisição de mobiliários. Só então, a inauguração do complexo poderá ser feita de forma oficial.

O agendamento da solenidade – que não tem previsão de acontecer – dependerá da agenda do governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e do prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu (PMDB).

Em função da conclusão, Andreucci informou que a Seccional não renovou o contrato da obra. “Não somos mais obrigados a fazer isso, porque ela está entregue. Quando ela estava em andamento, todo mês tínhamos de renovar”, contou.

O delegado afirmou que a conclusão aconteceu “antes do prazo previsto”. Em maio do ano passado, o empresário Dirceu Vieira de Camargo, proprietário da empreiteira que venceu a licitação, havia informado que o contrato previa o término de todas as obras (construção e reformas) em 540 dias (um ano e meio).

“Foi tudo feito dentro do cronograma. A qualidade do material é excelente, os prédios ficaram muito bons e eu fiquei muito contente com a atuação da empreiteira, tanto no entendimento pessoal como de qualidade”, destacou o titular.

Seis meses antes do prazo final, a construtora entregou um novo prédio (que, inicialmente, seria destinado a abrigar a DDM – Delegacia de Defesa da Mulher), reformou todas as salas da Delegacia Central que tem mais de 40 anos e recuperou a extinta Cadeia Pública, unidade que sofria com superlotação.

Antes mesmo da entrega, as salas da delegacia e do Cartório Central e do novo prédio já estavam sendo utilizadas. Em acordo com os delegados e funcionários, Andreucci destinou o prédio para uso do SIG (Setor de Investigações Gerais) e para o plantão policial – que abriga a Central de Flagrantes.

Ele aumentou o espaço do Cartório Central e realocou os investigadores. Também mudou a sala de recepção e determinou a construção de um novo estacionamento.

O delegado vistoriou todas as etapas da obra, uma vez que havia sido designado pela seccional como gestor. Ele teve apoio do delegado assistente, Emanuel dos Santos Françani, e ficou encarregado de enviar, para Itapetininga, relatórios mensais de medição das obras – assinados por engenheiros.

A antiga Cadeia Pública abrigará funcionários do 1º e 2º DPs (distritos policiais). São oito salas, sendo duas delas destinadas aos respectivos delegados e plantonistas. O espaço também recebeu melhorias não previstas no projeto original que havia sido costurado entre o município e o governo do Estado.

“O objetivo é dar um ar melhor, principalmente onde era o interior da cadeia”, sustentou Andreucci. Por conta disso, o delegado conseguiu junto a empresas e colaboradores doações que incluíram um jardim central (com coqueiros), a instalação de uma fonte de água e de refletores, bem como de portas de vidros.

“Criamos tudo para dar uma condição melhor de uso do prédio. Eu gostaria, realmente, de tirar aquela imagem da cadeia, de quase um ralo”, afirmou.

Já utilizada pela corporação, a obra é considerada pelo delegado como um facilitador. Andreucci disse que, por concentrar todos os atendimentos num mesmo espaço, o complexo desafogará os servidores e dará mais conforto à população.

Os registros realizados no plantão policial não terão mais de ser transferidos para as outras unidades de destino (1o e 2o DP) que funcionam até o momento na rua 15 de Novembro, 997. Os despachos serão realizados de “modo interno”, o que permitirá mais rapidez na comunicação entre as equipes e celeridade aos processos, inquéritos e casos investigados pela corporação.

“Todos trabalhando aqui, dá para unir esforços. Fora isso, nós daremos um melhor atendimento à população”, alegou o titular. “É bom não só para o pessoal que trabalha aqui, mas para o povo que tem de vir até uma unidade policial. A polícia tem a obrigação de tratar bem a pessoa que precisa dela”, salientou.

Para ele, a proximidade entre todos os setores da PC permitirá “maior flexibilidade” entre os funcionários. Andreucci citou, como exemplo, que equipes de investigadores poderão solicitar viaturas umas das outras. “Isso acaba fazendo com que até mesmo os delegados permaneçam mais unidos”, alegou.

Outra vantagem é a facilidade na realização de operações. De acordo com o titular, o complexo possui três estacionamentos (e, consequentemente, saídas para as equipes) que são independentes. “Enquanto uma equipe sairá por um lado, a outra poderá entrar por outro. Isso facilitará a logística e dificultará interpretação do que está ocorrendo no caso de operações grandes”, disse.

No total, 18 salas de escritórios serão mobiliadas pelo Estado. Essas serão utilizadas pelos servidores lotados na Delegacia Central e no 1º e 2º distritos policiais. A DDM deverá ser transferida para o prédio da Praça da Bandeira, 53.

Antes mesmo da inauguração, moradoras do entorno da antiga Cadeia Pública e associadas da “Terceira Idade” estiveram no prédio para verificar a reforma. Maria Demetirde de Souza, que reside em quarteirão “nos fundos” do prédio da extinta unidade prisional (atualmente, frente das salas do 1o e 2o distritos), quase não conseguiu descrever a satisfação em ver o prédio reformado.

Assim como outras três residentes, ela disse que viveu momentos de angústia e relatou – durante o período em que esteve no complexo – episódios que, até então, não consegue esquecer. “Estávamos enfeitando a rua, num Natal, quando vimos bandidos correndo e rendendo um vizinho”, comentou.

Numa das muitas fugas, dois detentos abordaram o morador quando ele chegava à residência, de moto. “Assim que ele encostou, os dois pegaram as chaves da moto e fugiram”, relatou ela, que reclamou das condições estruturais do prédio e do transtorno que a unidade prisional causava aos moradores.

Maria Demetirde lembrou que os moradores tinham de conviver com o cheiro do esgoto da cadeia despejado para fora dela. Por conta das constantes rebeliões e depredações internas, o sistema de abastecimento e esgoto ficou exposto. “Era uma sensação horrível. O cheiro se espalhava pela vila toda”, descreveu.

“Condenada” a conviver com o mau cheiro, a dona de casa também tinha de se trancar em casa quando ocorriam fugas de detentos com medo de ser atingida por tiros.

“Certa vez, eu fiquei presa sem conseguir dar aulas de Eucaristia”, relatou a dona de casa. “Noutra, eu saí na rua para colocar o lixo fora e quase levei um tiro. A bala passou zunindo pelo meu ouvido e foi parar numa árvore”, falou.

Os momentos de angústia se transformaram em emoção quando Maria Demetirdes viu a transformação do local – de unidade prisional a prédio revitalizado. “É muito emocionante, porque a gente sofria com tudo. Foi um alívio quando a cadeia saiu e é um alívio ver no que ela foi transformada”, disse.

A dona de casa mudou-se para o bairro na época em que só havia a cadeia e umas “poucas residências”. Na época, ela afirmou que a Cadeia Pública era “tranquila”. “Ela veio para cá para ficar fora da cidade. Aqui, era tudo mato, só que, com o tempo, a cidade cresceu e a cadeia ficou no meio de tudo”, contou.

A angústia dela e dos demais moradores – que vieram com o tempo – aumentou junto com a população carcerária. O prédio que tinha capacidade para abrigar 48 detentos, chegou a quase 300. O fechamento aconteceu após sucessivas intervenções do delegado titular, da Prefeitura, da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança).

Moradores também realizaram abaixo-assinados na época. Entre elas, Maria de Lourdes Campos Sallum, que reside na “quadra de baixo” do prédio da antiga cadeia. “Pegamos muitos transtornos. O pior foi a última rebelião”, disse.

O “grande motim” ocorreu em 27 de março de 2006, depois de uma tentativa de fuga frustrada. Na ocasião, os detentos fizeram um carcereiro refém, quebraram grades, salas e, com a arma do policial, conseguiram trocar tiros com investigadores e com policiais militares que isolaram o bairro.

“Na época, a gente se fechava em casa, de medo. A primeira coisa que eu pensava é que se eles fugissem, poderiam pular o muro e se esconder na minha casa”, disse.

A visita ao prédio no dia 4 representou a primeira feita por ela em mais de três décadas em que reside no entorno. “Não havia entrado antes, mas este prédio representa para mim um lugar muito acolhedor, muito bonito. Acho que é uma mudança enorme. O local tem claridade e luz que mudou tudo”, descreveu.

Considerada uma conquista para o município, a desativação e a reforma da antiga Cadeia Pública são descritas por Maria de Lourdes como um ganho para os moradores.

“Ajuda a valorizar. Naquela época (das rebeliões), além de sofrermos com a instabilidade dos presos, todas as casas se desvalorizaram. Se a gente tivesse que vender, decididamente, ninguém compraria. Ficamos sem solução”, disse.

Sônia Pavanelli não viveu nenhum momento de estresse relacionado à Cadeia Pública, mas, mesmo assim, se impressionou com a reforma. Amiga das moradoras da região e representante do Clube Renascer da “Terceira Idade”, ela classificou o complexo como uma “grande conquista para o município”.

“Acredito que não tenha nas redondezas uma cidade com uma estrutura dessas, que nós estamos recebendo. Acho que é uma conquista do delegado (Andreucci) e das autoridades locais que devem ter lutado para conseguir isso”, iniciou.

“A recuperação é outra realidade. Algo impressionante tanto para o entorno quanto para a cidade, porque do jeito que estava era uma bomba-relógio”, concluiu.