O ‘sonho’ tatuiano em imagem e som

Uma palavra esteve presente nas manifestações de praticamente todos os que tiveram a oportunidade de participar da reunião promovida para a formação de um comitê consultivo destinado ao futuro MIS de Tatuí: “sonho”!

Justo e compreensível, nada redundante ou demagógico. Quem conhece a história da qual partiu a ideia de se criar um Museu da Imagem e do Som em Tatuí sabe muito bem disso.

Portanto, tão justo quanto é lembrar de dois tatuianos em especial, os quais, há décadas, pediam por esse espaço cultural na cidade: Erasmo Peixoto e Renato Ferreira de Camargo.

Aqui mesmo, nas páginas do jornal O Progresso de Tatuí, ambos deixaram muitas colunas publicadas nas quais apontavam a importância de a cidade possuir uma instituição específica para resguardar sua memória em imagens, sons e vídeos.

Com o tempo, naturalmente, outras tantas pessoas interessadas na preservação da história e, assim, da própria identidade do município também se engajaram nesse desejo e passaram tanto a cobrar por esse museu quanto, também, a reunir seus arquivos particulares.

Pela soma de tanto potencial de acervo, Tatuí chega a este momento em situação privilegiada, podendo mesmo buscar a participação de diversas pessoas interessadas e, claro, bem-intencionadas para contribuir com a expografia do MIS.

O grupo deve, assim, opinar sobre o que, entre um universo tão positivo e farto de opções, mais poderia representar a cidade e, ao mesmo tempo, tornar-se um atrativo tanto para turistas quanto para os próprios munícipes.

Conforme já publicado pelo jornal, esse encontro aconteceu no dia 24 de junho, na Secretaria de Esporte, Cultura, Turismo e Lazer, onde se anunciou o início da última etapa de construção do MIS, prevista para ser concluída ainda em 2022. A princípio, o comitê participará do levantamento de conteúdo para a exposição permanente do espaço.

Estiveram presentes a arquiteta, especialista em museografia e sócia-proprietária da empresa Arquiprom, responsável pelo projeto da expografia do museu, Sílvia Landa, o historiador e pesquisador Roney Cytrynowicz, o historiador e chefe de gabinete da prefeitura, Christian Pereira de Camargo, o secretário do Esporte, Cultura, Turismo e Lazer, Cassiano Sinisgalli, o diretor municipal da Cultura, Rogério Vianna, e diversos representantes da área cultural.

Segundo Sílvia, o projeto vem sendo trabalhado há mais de um ano pela empresa, que também fez a expografia do Museu “Paulo Setúbal”. Ela contou ter, inclusive, a expectativa de unificar o MIS com o museu em uma administração conjunta, “otimizando recurso público e mantendo Tatuí como polo cultural da região”.

“Agora, estamos no momento de realmente construir o projeto, a pesquisa, o roteiro expográfico e tudo o que terá dentro do museu”, pontuou.

Ela conta que veio a Tatuí, em 2017, trazer a proposta do Museu da Língua Portuguesa, quando a então prefeita Maria José Vieira de Camargo conversou com a arquiteta e levou-a ao antigo prédio do matadouro, “sem nenhum compromisso profissional”.

O projeto, segundo Sílvia, começou então a ganhar corpo e foi feito um diagnóstico, enfatizando-se os objetivos gerais e iniciais do MIS, que são preservar e divulgar o patrimônio cultural e artístico da cidade, proporcionar um projeto educativo, programação cultural, atividades ao ar livre e ações conjuntas com o Conservatório e demais instituições culturais do município. A aprovação do projeto foi imediata, conta ela.

Sílvia descreveu que o prédio do antigo matadouro era “bonito, porém, pequeno”. Em conversa com a prefeitura, foi proposta a utilização da praça em frente ao espaço e a construção de um anexo, para uma área administrativa.

Já o prédio histórico concentraria as exposições de longa duração. Haveria, também, um espaço para eventos culturais na área externa. “O MIS ganhará visibilidade em toda área em que está inserido”, afirmou a arquiteta.

O projeto, exposto aos convidados na reunião, também engloba uma praça de eventos, em frente ao antigo prédio, com um pequeno teatro de arena. Já na entrada, que será coberta, a ideia é ter um banco comunitário, pensando-se em “espaços de convivência”.

Segundo Cytrynowicz, a procura pelos acervos da cidade já começou. “Trabalharemos em conjunto com o comitê. Isso ajudará no levantamento e na formatação de forma eficaz do material que será exposto”, detalhou.

O historiador destacou que alguns elementos do antigo matadouro serão mantidos. “Haverá um espaço no qual será contada a história completa da edificação. É legal que o público saiba o que acontecia naquele lugar. Esse resgate é genial”, frisou.

Para Sinisgalli, era essencial que se criasse o grupo, que se foca no acervo agora, mas que, após a inauguração do espaço, deve continuar atuando, para que os atrativos do museu sejam “mutáveis”.

Pereira de Camargo, filho do historiador e jornalista Renato Ferreira de Camargo, enxerga o MIS como um espaço que venha a contar a história de personagens, pessoas e situações de determinada época para os dias atuais.

“É essencial que o público conheça a história de alguns tatuianos que não aparecem em livros de história, por exemplo”, reflete. Para ele, o museu tem essa vocação e vem para atender a essa necessidade, na forma de audiovisual.

Em uma próxima etapa, serão marcadas novas reuniões, tanto presenciais como virtuais, a fim de se estabelecer uma forma de comunicação entre a equipe responsável pela construção do MIS com as demais pessoas interessadas no assunto.

O MIS foi criado por meio da lei municipal 5.286 e sua sede será no antigo prédio do matadouro municipal, situado na avenida Domingos Bassi, esquina com a avenida João Batista Correia Campos.

Em fevereiro deste ano, houve a aprovação do projeto da chamada “fase 2” do museu, que está sendo revitalizado para abrigar o equipamento de cultura. O setor recebeu o aporte de R$ 361.108,44 do governo do estado.

O recurso já havia sido anunciado em maio do ano passado, oriundo de repasses do Dadetur (Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos) aos MITs (municípios de interesse turístico), referentes ao pleito do ano de 2021.

O setor de turismo de Tatuí ainda aguarda a liberação de R$ 253.965,52, que também devem ser aplicados na fase 2 do MIS. O valor é oriundo de descontingenciamento dos recursos do pleito de 2021. Com o adicional, os repasses do Dadetur devem totalizar R$ 615.073,96.

Os recursos são destinados, única e exclusivamente, para a execução de obras e programas ligados ao desenvolvimento do turismo nas cidades reconhecidas como MIT.
A revitalização do prédio, datado de 1859, começou no final de outubro de 2017. Até então, as obras estavam sendo realizadas com recursos próprios.

A prefeitura quer viabilizar, no museu, apresentações musicais, exposições permanentes e itinerantes, entre outras ações. O espaço também permitirá aos tatuianos e visitantes conhecerem um pouco mais da história da cidade.

Tudo excelente! Apenas, além do reconhecimento ao sonho, deve-se atenção exatamente à memória, em especial daqueles que, lá atrás, plantaram e cultivaram a ideia que hoje floresce no antigo matadouro, permitindo-lhe uma nova e, certamente, bela vida.