O homem que transforma desertos em Jardins

Aqui, Ali, Acolá

José Ortiz de Camargo Neto *

Frase do dia: “Água também se planta”

Caros amigos:

Ele faz uma agricultura totalmente ao contrário da que se pratica em várias partes do mundo hoje em dia. Ou seja, ao contrário da agricultura predatória que se disseminou por muitas partes, que consiste em matar todas as árvores, plantas e matas de um terreno e plantar uma única espécie, geralmente uma planta de uma altura só, como a soja, mata rasteira que fica exposta ao sol.

Como consequência, os insetos, dos quais privaram toda espécie de comida, pois derrubaram toda a vegetação, vão procurar comer aquilo que sobrou, ou seja a “mata” plantada, no nosso exemplo, a soja.

Logo, como um erro puxa outro, os agricultores jogam venenos agrícolas para eliminar os insetos – venenos esses que em maior ou menor grau, vêm parar na mesa dos consumidores.

E, com o esgotamento do solo devido à monocultura, usam-se os fertilizantes químicos. E, com a falta de árvores, desaparecem a umidade do ar e as chuvas, surgindo os incêndios. Essa é a agricultura burra, invertida, destruidora do ambiente e da vida, que vem sendo a tônica no trabalho agrícola em muitos lugares.

Pois bem, na Suíça, nas proximidades de Zurique, surgiu um homem, expulso três vezes da escola por contestar as ideias tradicionais apresentadas, que há 40 anos faz uma revolução na área agrícola, no Brasil, no Estado da Bahia. Chama-se Ernst Götsch e seu método é simples: consiste em imitar a natureza.

Dizem que na Suíça, de vez em quando, aparece um Guilherme Tell, um herói solitário que faz grandes mudanças. Para mim, este homem é um gênio, um Guilherme Tell da agricultura. Ele vai contra tudo o que a técnica agrícola invertida faz – e regenera a natureza!

Para testar suas ideias, ele comprou uma terra árida e improdutiva na Bahia e começou a reflorestá-la – a água voltou a correr, os pássaros e bichos da natureza retornaram e ele produz cacau onde o cacau não se produzia mais – e quem visita sua terra hoje, sente-se penetrar em uma floresta, com muitas árvores frutíferas, plantas intermediárias e outras rasteiras, como hortaliças.

Segundo ele, o cacau, por exemplo, é uma planta que gosta de sombra. Quem lhe dá sombra, na natureza, são as árvores copadas e, portanto, ele as plantou, e sua agricultura se faz em andares, plantas de alturas diferentes uma protegendo a outra, no que ele chama de agricultura sincrética, ao contrário da entrópica.

Recomendo aos interessados a reportagem da BBC sobre o trabalho deste indivíduo genial Ernst Götsch: o agricultor suíço que ensina a ‘plantar água’ na Bahia – BBC News Brasil

Até breve!

* Jornalista e escritor tatuiano.