Ali era o casarão
Foi demolido para dar lugar
ao suntuoso edifício de apartamentos
Máquinas barulhentas interromperam
a quietude que afagava a ruazinha vazia
Tempo sossegado… flores de flamboiã
colorindo a imensa árvore antiga
que refrescava com sua sombra
o vasto quintal nas tardes estivais
Algazarra de bem-te-vis e gritinhos
estridentes de crianças crescendo
sem saber que cresciam
A menina-moça estreando o sutiã
e a canção de Tom Jobim e Vinicius de Moraes
fazendo crepitar a fogueira do primeiro amor…
Tilintar de talheres entre cascatas
de risadas ao redor da mesa fraterna
Pratos exalando sabores e aromas capitosos
O velho relógio de parede despejando
badaladas com inefável sonoridade poética
Os dedinhos da vovó saltitando com ternura
no teclado amarelado do piano de armário
para enfeitar a calma das tardes fagueiras
E agora perdido na minha perplexidade
contemplo o imponente e silencioso arranha-céu
com centenas de pingentes luminosos cintilando
insistentemente em todas as sacadas desertas!…
É noite de Natal e Papai Noel aflito e ofegante
procura inutilmente as crianças do casarão daquele tempo