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Da reportagem
Em sequência à série de entrevistas com os parlamentares recém-chegados ao Legislativo local, o novo vereador de Tatuí Kelvin Joelmir de Morais (PT) falou sobre o mandato compartilhado e projetos para o município.
De acordo com o parlamentar, “o mandato compartilhado visa enfrentar a crise de representatividade, aproximando o representante do representado, com fóruns de participação temáticos, os quais ocorrem periodicamente, onde qualquer cidadão pode comparecer aos espaços e levar sugestões e indicações”.
Kelvin sustenta que “as pessoas não se sentem representadas pelas instituições porque há essa distância, e isso é um vácuo tão grande que possibilita a ascensão de ‘caçadores de marajás’”.
“Na história brasileira, isso de caçadores de marajás, de mito e tudo mais, é uma ideia de um salvador da pátria que vai resolver todos os problemas, mas a saída não é individual, ela é coletiva”, argumenta.
“O povo brasileiro venceu a escravidão e duas ditaduras. Inclusive, o cara que me formou politicamente foi um preso político na ditadura, Clodoaldo Rodrigues Nunes, pois foi um dos mentores da fundação da Práxis”, contou.
“Tenho uma perspectiva e, quando falo assim, fazer algo não necessariamente precisa ser da forma que eu faço. Seja no movimento social, seja no parlamento, seja, enfim, em qualquer lugar, você pode fazer diferente e promover valores humanistas”, observa.
De acordo com o vereador, o mandato compartilhado (antes realizado por Eduardo Dade Sallum, do PT) nos últimos oito anos “construiu alguns espaços como educação, cultura, urbanismo, sustentabilidade, direitos humanos e hip-hop, levando as reivindicações para a bancada do nosso partido na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional”.
“Além disso, houve um bairro que nos acolheu, a vila Angélica, onde fizemos alguns encontros periódicos com a comunidade. Assim, se você pegar essa ferramenta de participação popular, verá que ela fez com que o Sallum saísse do menos votado em 2016 para se tornar o mais votado em 2020”, acentuou.
“E, se você pegar nos arquivos da Câmara Municipal, verá que ele (Sallum) foi o vereador que mais produziu na história da nossa cidade. Como consequência, isso contribuiu para que eu fosse eleito para a Câmara Municipal”, complementou.
O vereador destaca que o objetivo, a curto prazo no mandato, é retomar os laboratórios populares “para qualificar o debate e a atuação na Câmara Municipal”. Além disso, ele comenta que, desde a posse, passou a fazer visitas a apoiadores, não apoiadores e pessoas que o procuram levando reivindicações.
Conforme o parlamentar, até a semana anterior, tinha acontecido seis visitas a bairros, onde encontrou pessoas que participam do mandato compartilhado, chamados por ele de “vereadores populares”.
“A gente também vai discutir quais pautas colocar nos encontros temáticos que vão começar e dos quais serei porta-voz na Câmara Municipal, além de encontros com sindicatos e associações”.
Como uma de suas bandeiras, Kelvin cita a afinidade com a educação, a cultura, a defesa dos direitos humanos e das minorias, mas, como principal pauta, a “radicalização da democracia, aproximando o representante do representado”.
“Isso é feito através dos laboratórios populares e transformando o cidadão comum em um vereador popular, porque ele tem acesso ao mandato para levar as suas reivindicações com a certeza do compromisso de levá-las adiante”.
Em relação ao período de campanha, o vereador o cita como curto e intenso: “Foi uma campanha muito difícil”. Ele também menciona o falecimento da companheira Mayara Soares, durante esse período.
“Tivemos que, além de enfrentar as adversidades da campanha, viver o processo do luto. Mas, ao mesmo tempo, foi uma campanha tranquila, porque a gente, de fato, defendeu aquilo no que acreditávamos, além de ouvir muito, pois entendemos que temos muito mais a aprender do que simplesmente falar e dizer o que precisa ser feito. Precisamos ouvir”.
Sobre os motivos que o fizeram pensar em um cargo público, o parlamentar cita que se entende como “uma peça de uma grande engrenagem”, lembrando que todos os espaços que ocupou na vida foram construídos a partir de decisões coletivas do Movimento Popular Práxis.
O parlamentar enumera que foi presidente do grêmio estudantil da escola estadual “Prof. Fernando Guedes de Moraes”, coordenou a primeira campanha de Sallum a vereador, foi presidente do Partido dos Trabalhadores de Tatuí de 2017 a 2023 e primeiro-secretário político do Movimento Práxis, com 16 anos.
Sobre o início do mandato, ele destaca ter sido montada uma estrutura de atendimentos no gabinete, visitas a bairros, sindicatos e associações, além da volta aos lugares onde pediu votos para agradecer e ouvir as reivindicações populares.
“Até porque, entendo que a principal tarefa na Câmara Municipal, para além de ser um porta-voz da comunidade e do mandato compartilhado, é também atuar como organizador das reivindicações populares, orientar as pessoas sobre como organizar suas próprias reivindicações, quais são os seus direitos e como garanti-los”, anumerou.
“Isso tem relação até com a minha formação política. Eu vim de um movimento social voltado à área da educação, cultura e direitos humanos. Participei de um movimento educativo, tendo essa visão de que a solução para todos os problemas sociais só acontece quando há mobilização da população”, complementou.
O parlamentar reiterou que um dos compromissos pelos quais foi eleito é o de continuar sendo um dos apoiadores da Casa da Práxis, um centro sociocultural que oferece cursos e oficinas voltadas para a comunidade de forma gratuita, além de um cursinho pré-vestibular também gratuito.
“Inclusive, neste ano, acabamos de aprovar oito alunos em universidades públicas, estaduais e federais. Temos a escola de música com violão, violino, canto, coral e prática de conjunto, além de teatro, dança contemporânea e circo, tudo de forma gratuita para a comunidade e gerido por voluntários e oficineiros”.
Kelvin relata que, todo mês, é feita uma doação do mandato à entidade, que também capta recursos por meio de editais públicos. “É um espaço que também nos é cedido para realizar os encontros dos laboratórios populares, para que os ‘vereadores populares’ possam nos trazer indicações”, finalizou.