Tatuí, recentemente, foi apontada entre as quatro cidades brasileiras com os menores índices de mortes violentas no país. A apuração, divulgada pelo “Atlas da Violência”, é um parâmetro para que a segurança do município seja mantida e até elevada a índices melhores.
A afirmação é da capitã Bruna Carolina dos Santos Martins, nova comandante da 2ª Cia. de Policia Militar de Tatuí. Segundo ela, “assumir uma cidade com estes índices é uma responsabilidade ainda maior”.
“É fácil você chegar a um lugar onde está tudo dando errado, você vai fazendo melhorias e o trabalho vai aparecendo. Agora, assumir uma companhia que está dando certo, manter isso e tentar melhorar, será um desafio bem peculiar”, avaliou.
O “Atlas da Violência: Políticas Públicas e Retratos dos Municípios Brasileiros” é baseado em estatísticas de 2016, com um mapeamento do número das mortes violentas nos municípios brasileiros.
A capitã ressalta que o maior desafio do novo trabalho será a melhoria destes índices de segurança, além do combate ao tráfico de drogas. E conta que, para isso, deve investir na valorização do policial militar, em reformas na unidade e no trabalho do “policiamento inteligente”.
“A gente está fazendo a nossa parte, mas não é fácil você assumir uma companhia com um resultado tão bom de sensação de segurança. Pretendo dar o meu melhor, para manter e melhorar estes índices”, garantiu.
Com o novo comando, a Polícia Militar deve passar por algumas mudanças. Bruna adiantou que pretende construir uma academia para que os policiais possam treinar antes e depois do serviço, sem ter que pagar mensalidades, tirando este ônus dos profissionais. Além disso, devem ser realizadas algumas reformas na base.
A reestruturação do espaço também deve envolver melhorias no canil. Atualmente, a unidade conta com 11 cães, um deles especializado na busca de pessoas em mata fechada e outros especialistas em localização de drogas.
Para Bruna, a companhia já prestava um bom atendimento na cidade – visto, inclusive, pelos índices apontados pelo mapa – e, com isso, não será necessário investir em grandes mudanças nem na reestruturação do trabalho. Ela acredita que a valorização do policial e investimentos nas melhorias do espaço de trabalho já devem refletir na produtividade policial.
“Já era exercido um excelente trabalho aqui antes da minha chegada. Então, na verdade, eu só tenho que manter aquilo que já estava dando certo e dar alguns detalhes que eu acho que convém e são importantes”, comentou.
Conforme a capitã, o outro desafio, o combate ao tráfico de drogas, é visto como uma causa social que afeta cidades do mundo inteiro. Somente neste mês, os agentes realizaram mais de 20 flagrantes com drogas. Porém, a capitã reforça que o problema não é visto como uma situação que seja sanada pela PM.
“Neste sentido, a gente tem que fazer um trabalho preventivo muito grande. Estamos trabalhando para combater, mas, infelizmente, sabemos que isso é um problema social difícil de ser resolvido. Porém, a nossa intenção é minimizá-lo cada vez mais”, argumentou.
A capitã completa um mês à frente da companhia nesta quarta-feira, 18, e é a primeira mulher a assumir o comando do destacamento, que administra o efetivo policial de Tatuí, Capela do Alto e Quadra. O agrupamento nasceu em meados dos anos 80 e, desde então, teve em torno de dez comandantes homens.
Antes de assumir a 2ª Cia. da PM, Bruna era chefe do escritório de gerenciamento de projetos na sexta sessão do Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, em São Paulo. Atualmente, reside em Sorocaba, cidade onde nasceu, cresceu, constituiu carreira e família.
A vocação surgiu ainda jovem. Bruna escolheu a carreira durante o ensino médio, quando todos os testes vocacionais indicavam para a carreira militar. A capitã conta que escolheu a profissão por vontade própria, sem nenhum tipo de influência na família. Apenas o avô tem um histórico na carreira militar.
“Meu avô faleceu quando eu ainda era muito nova. Ele era aposentado como sargento, da antiga Força Pública, mas eu não recebi nenhum tipo de influência neste sentido. Quando nasci, ele já estava aposentado. Então, não vivenciei essa rotina dele”, contou.
A opção escolhida para o início da carreira foi a APMBB (Academia de Polícia Militar do Barro Branco), estabelecimento de referência no ensino superior, localizado na capital do Estado, destinado a formar e aperfeiçoar os oficiais.
Bruna ressalta que, ao ingressar na APMBB, o percurso a ser traçado é tão longo quanto o das praças, porém, detentor de maiores responsabilidades. Após o ingresso, o policial recebe o título de “aluno oficial” do primeiro ano do curso de bacharelado em ciências policiais de segurança e ordem pública.
Nos anos seguintes, até o terceiro ano de curso, novas incumbências recaem sobre o aluno. Ao término, o aluno alcança o título de aspirante a oficial e permanece com esse título até o fim do estágio.
Em seguida, terminado o estágio probatório, o aspirante é promovido por merecimento intelectual a segundo-tenente e permanecerá neste ponto, exercendo funções administrativas e de administrador do policiamento operacional, conquistando, em seguida, o posto de segundo-tenente.
Após o término da formação no Barro Branco, ela ingressou na faculdade de direito, já trabalhando em Sorocaba, onde ficou durante oito anos como comandante da Força Patrulha de Rua. De lá, Bruna começou a trabalhar no 40o Batalhão, onde comandou os pelotões de Piedade, Ibiúna, Salto de Pirapora e Pilar do Sul.
A promoção ao título de capitã veio no ano passado, mas, como não havia vagas na região, ela iniciou o trabalho em São Paulo, no escritório de gerenciamento de projetos, local que executa, planeja e gerencia todos os projetos institucionais da PM.
Finalmente, no dia 18 do mês passado, Bruna assumiu a 2a Cia. de PM de Tatuí. “Recebi o convite do coronel Antônio Valdir para comandar Tatuí e aceitei de coração aberto”, contou.
Com a realização do sonho de seguir carreira militar, e após passar em um dos vestibulares mais concorridos, a vocação se fortaleceu ainda mais “e a vontade de fazer o bem ao próximo poderia ser realizada diariamente”, comenta a capitã.
A militar ressalta que trabalhar como policial, especialmente no exercício da função de rua, permite que o profissional vivencie todas as realidades da sociedade e, com isso, tenha a oportunidade de prestar um serviço social aos cidadãos, além de “correr atrás” de bandidos.
“Diversas vezes, tive oportunidade de ajudar as pessoas no exercício da minha profissão. Isso é uma coisa muito gratificante, são poucas profissões que têm este privilégio”.
“A profissão de PM tem. Eu me senti muito bem em poder ajudar as pessoas. Às vezes, pequenas ações que acabam fazendo parte da minha rotina refletem positivamente em toda a vida da pessoa”, reforçou.