Não ao impeachment





Há, 23 anos, o ex-presidente Fernando Collor de Melo, então acusado de corrupção pela imprensa, pela Justiça e pela oposição, convocou a população para demonstrar apoio a ele. Num determinado dia, pediu que todos saíssem às ruas vestidos com cores verde e amarela.

Houve, então, inúmeras passeatas – atualmente, reclassificadas de “manifestações” – encabeçadas por “caras-pintadas”, porém, indumentados com a cor preta. Era uma maneira – basicamente, espontânea – de apoio ao movimento de impeachment, o qual acabaria ocorrendo, de fato, ainda em 1992.

Como se sabe, o impeachment é uma ação política, promovida por meio do Legislativo e em paralelo ao Judiciário, que também recebeu denúncias contra o presidente “daquilo roxo”, conforme ele próprio dizia.

Posteriormente, Collor acabou absolvido pela Justiça, provando que os poderes quase nunca andam de mãos dadas, sequer guardam coerência entre si… Ou seja, ele fora apeado do poder injustamente, ou a Justiça é que não é justa… Quem sabe, o tempo responda.

Neste momento, se organiza, novamente, uma suposta grande manifestação, prevista para este domingo, 15, contra o (a) chefe maior da nação, e sob o mesmo pretexto: corrupção.

De supostos crimes partindo de um Fiat Elba, passou-se a uma das maiores produtoras de combustíveis do planeta, onde teria estacionado a possível maior malversação de um bem público já ocorrida no Brasil.

Também isto identifica como o país progride… No entanto, não deve apenas avançar em desmandos, senão em maturidade democrática, antes que se arrisque a própria democracia, ainda extremamente frágil.

Portanto, é urgente o bom-senso e a conscientização quanto ao problema, virtudes não encontradas, certamente, nem no meio político – dado seus interesses de poder, contra e a favor – e nem nas chamadas redes sociais, usadas muito mais para confusão que para esclarecimento.

Estes meios de comunicação são excelentes, mas exatamente para a comunicação, não necessariamente para a informação, e aí está o perigo: comunicar o quê?

A informação de que se programa um protesto? Ótimo, legítimo. A informação de que se quer um impeachment? Como assim? Que é isso? Por quais motivos? Quem ficaria no lugar da presidente?

Nada disso parece importar. Numa dessas manifestações, um repórter perguntou a um jovem o que ele queria. “Tirar a presidente!” Tá, e quem assume, então? Silêncio… “Ah, aquele velhinho…” Aquele velhinho?! Isso é resposta de manifestante consciente?

“Michel Temer?”, questiona o repórter. “Ele é melhor que Dilma? Você o conhece?” Reação do manifestante? Ele “manifestou” conhecimento de causa? Não. Preferiu xingar o repórter, acusando-o de ser um agente do capitalismo, da “mídia manipuladora”…

Em outra recente manifestação, também a favor do impea-chment, recentemente promovida no Rio de Janeiro, outro cidadão – não tão jovem, contudo, nem por isto mais esclarecido -, dizendo-se de “extrema direita” – portanto, de “ideologia” contrária ao rapaz que não conhece o vice tieteense -, dizia que só se “informa” pelas redes sociais e “não acredita nas TVs, porque estão todas a serviço do PT”…

Percebe-se que o pessoal precisa combinar melhor o discurso, sendo claro algo estar errado quando, por exemplo, o maior veículo de comunicação do país é, ao mesmo tempo, imperialista de direita e dominado pela esquerda…

Pode até não ser verdade, mas fica a impressão de que, apesar da tão falada democratização da informação, graças à internet, os ativistas políticos não estão mais esclarecidos que em 1992. Longe disto, a alienação é combustível à aparente indignação, o que tira a credibilidade dos movimentos de protesto.

Outro aspecto muito pertinente: antes, se houve um partido que insuflou as manifestações contra Collor foi, exatamente, o PT. Naquele momento, o partido defendia o impeachment, mas garantia não se tratar de revanchismo, somente do exercício de um direito justo e legítimo da população, que protestava e pedia a saída de um presidente que não mais a representava.

Ok. Agora, quando é esse partido que está no poder, tudo mudou. Não se trata de manifestação justa e popular. É golpe! Exatamente o que dizia Collor então… Essa falta de coerência, também, acaba com a credibilidade da classe política.

Por sua vez, essa falta de fé, aliada à decepção, tem instigado movimentos extremamente perigosos, como a possibilidade, até, de um novo golpe de estado.

Para piorar, o ex-presidente Lula, certamente temeroso quanto a isso, tomou a inacreditável e animalesca iniciativa de provocar os militares, afirmando, em manifestação “a favor da Petrobras”, que, se houvesse tentativa de um novo golpe, ele convocaria o “exército de Stédile” para defender a “democracia”.

No entendimento de Lula, pelo que se conclui, o MST não é uma organização que busca a justa redistribuição de terra no país, um movimento social, mas, sim, um bandão de guerrilheiros pronto a começar uma guerra civil caso o projeto de poder do partido-sindicato que o sustenta seja ameaçado. Em resumo, um ex-presidente da República provoca aqueles que, realmente, têm as armas, num momento em que só ele não percebe que, se a eleição fosse hoje, Dilma nem chegaria ao segundo turno.

Lamentável à biografia desse homem público que já foi tão importante ao país. Que os militares tenham pena dele – e de nós todos – e não o levem a sério, permanecendo como defensores não só da nação, mas da própria Constituição.

Quanto à “presidente” (não “presidenta”, até porque ninguém diz “jornalisto”, “motoristo”, “manobristo” etc.), por enquanto, o único crime do qual ela é, inquestionavelmente, culpada é daquele que tem sido chamado de “estelionato eleitoral”, cometido a partir do momento em que está fazendo tudo o que disse que não faria. Porém, mentir ainda não é motivo para cassação.

Finalmente, respondendo a uma das questões observadas: não! Michel Temer não seria melhor que Dilma. Novas eleições também não aconteceriam, mais fácil o golpe de estado, contra o qual o MST não serviria sequer para bucha de canhão.

Assim, que haja manifestação, porém, sem quebradeira e extremismos. Que a Justiça faça seu trabalho e, se um dia, for provado algum dolo pela presidente, que ela seja punida.

Até lá, além dos protestos legítimos, a própria defesa do impeachment já prejudica o país, que precisa seguir na tentativa de se recuperar da crise, uma das piores das últimas décadas. Para tanto, é necessária estabilidade social, econômica e política. Quem não vê isto não estraga menos o Brasil que os políticos desonestos.