Da reportagem
“A Covid-19 existe e bem pior do que imaginava. Eu confesso que não acreditava no coronavírus até pegar, e não é uma gripezinha não: a doença acaba com a gente”, comentou o médico radiologista José Roberto Simões, 66, um dos primeiros pacientes tatuianos com teste positivo para a doença.
Simões acredita ter contraído o vírus em um curso de especialização que frequentou entre os dias 12 e 15 de março, na cidade de São Paulo, com cerca de 20 participantes. Segundo ele, após o término do evento, um monitor descobriu que estava infectado e avisou o resto do grupo.
Sete dias depois do retorno de São Paulo a Tatuí, o médico começou a ter sintomas como febre, anosmia (diminuição ou perda absoluta do olfato), perda de paladar e cansaço, mas não falta de ar.
“Decidi fazer o teste por curiosidade. Não estava acreditando muito, mas, deu positivo. Logo depois disso, meus filhos e minha esposa fizeram o teste, e todos deram negativo. Do pessoal que estava no evento, só eu peguei”, conta o médico.
Seguindo as orientações da OMS (Organização Mundial de Saúde) e do Ministério da Saúde, Simões se isolou em casa e permaneceu em repouso, tentando controlar a elevação da temperatura do corpo e os outros sintomas.
O resultado do exame dele (feito em laboratório particular) foi divulgado pela Vigilância Epidemiológica no dia 27 de março, quando Simões já estava em tratamento domiciliar, com quadro estável.
Apesar de ter seguido as determinações de isolamento e de toda a família ter testado negativo para a doença, no dia 4 de abril, a esposa de Simões teve de ser internada, em hospital particular, com suspeita da doença.
Com complicações pulmonares, a mulher acabou encaminhada para a UTI (unidade de terapia intensiva) e submetida a novo teste. O resultado do exame, também realizado em laboratório particular, chegou no dia 9 de abril e confirmou que a paciente estava com a doença.
“Eu me isolei aqui em casa. Fiquei em um quarto separado, mas acho que já tinha passado o vírus. Ela começou a se sentir mal, deu muita falta de ar e ela precisou ser internada. Os sintomas dela foram muito mais graves”, afirmou o médico.
Até às 11h de sexta-feira, 24, conforme o boletim divulgado pela Secretaria de Saúde, por meio da Vigilância Epidemiológica, a paciente permanecia internada na unidade de terapia intensiva, com estado de saúde estável, mas sem previsão de alta.
Mesmo considerado curado, Simões aponta que ainda se recupera da doença. “Depois de dez dias, comecei a melhorar; com uns 14 dias, já não tinha mais febre, o paladar e o olfato voltaram ao normal e os outros sintomas desapareceram, porém, fiquei muito fraco”, detalha.
O médico conta não ter conseguido comer. A falta de alimentação acabou desencadeando a perda de peso e da estrutura muscular. “Estou fazendo fisioterapia para recuperar a massa muscular. Não consigo nem escrever, as mãos ficam tremendo muito, e acredito que seja pela perda dos músculos”, observa.
“Este vírus não é brincadeira, não queiram pegar e, se puderem evitar sair de casa para não pegar a doença, evitem!”, completa o médico, reforçando a importância do isolamento e do distanciamento social.
“Tem que ter o isolamento. Isso é importante para que as pessoas não sejam infectadas e para que não passem para os outros. A transmissão é muito fácil e mais rápida do que outros tipos de vírus. Se muitas pessoas ficarem doentes ao mesmo tempo, o sistema de saúde pode não ter a capacidade para atender todo mundo”, enfatiza.
O médico ainda aponta que medidas simples, como usar máscara, álcool em gel, lavar as mãos frequentemente e evitar passar a mão no rosto, principalmente sem a devida higienização, são necessárias e reforçam a prevenção.
“É uma doença que pega a gente. Eu tomei todos os cuidados possíveis e, mesmo assim, minha esposa acabou contraindo o vírus. Se não tivesse este cuidado, poderia ter passado para toda a família”, conclui o médico.