Da reportagem
A equipe de psicologia hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Tatuí foi reforçada nos últimos meses. Conforme a psicóloga Lucimara Rosa Ribeiro de Paula informou a O Progresso, a ação objetiva dar atendimento a profissionais, pacientes, familiares e consultorias para a “humanização” da saúde.
O serviço já era oferecido no hospital havia alguns anos pelo psicólogo Rodolfo Rodrigues, contudo, há aproximadamente dois meses formou-se uma equipe com outras quatro profissionais para o suporte psicológico.
Além de Lucimara, foram contratadas as psicólogas Ana Carolina de Prouvot Coelho Ferraz, Jéssica Muhamed Covos e Paula Paes Andreosi. Com a equipe, o atendimento, que acontecia de segunda-feira a sexta-feira somente no período da manhã, foi estendido para os períodos da tarde e noite.
Lucimara aponta ter percebido aumento significativo na procura por atendimento psicológico após a chegada da pandemia do novo coronavírus e avalia que ter uma equipe de psicólogos dentro do hospital, principalmente em um momento como, este “é essencial”.
“O ambiente hospitalar sempre comportou muitos transtornos emocionais que necessitavam de apoio psicológico, mas, agora, com a pandemia, as coisas ficaram mais tensas e os psicólogos estão tendo uma importância ainda maior dentro deste ambiente”, observou a psicóloga.
Para Lucimara, os profissionais especializados em saúde mental são “indispensáveis” para atenuar aos quadros de ansiedade manifestados tanto por profissionais de saúde quanto por pacientes.
“Muitas vezes, dentro do hospital, nos deparamos com aqueles pacientes em fase terminal ou com problemas graves de saúde. Neste momento, o psicólogo vai estar ali, acolhendo o sofrimento, amenizando situações e ajudando o paciente a lidar com as consequências emocionais do adoecimento”, informa a psicóloga.
Com os pacientes, a atuação da equipe vai desde o momento da internação até a alta médica. São feitas visitas aos leitos clínicos de pacientes com patologias diversas, na ala de isolamento dos casos confirmados e suspeitos da Covid-19, além de consultas individuais com o objetivo de realizar escutas sobre as queixas de cada um.
“Também realizamos um trabalho especial com os familiares dos pacientes internados, e temos o apoio de uma equipe multidisciplinar, com médicos de diversas especialidades, enfermeiros e outros profissionais, visando à assistência integral do paciente”, afirma a psicóloga.
O atendimento é oferecido a todos os pacientes que apresentam necessidade de acompanhamento. A demanda por intervenção psicológica ocorre por procura espontânea e encaminhamentos médicos.
Lucimara informa existir atendimento até mesmo para os pacientes mantidos nas unidades de terapia intensiva. “Ali não temos contato direto com os pacientes, mas damos suporte ao corpo clínico na avaliação das condições emocionais dos pacientes”, apontou.
A psicóloga destaca a comunicação como outro ponto importante nos serviços oferecidos pela equipe, principalmente nos casos de pacientes diagnosticados com a Covid-19.
Conforme a profissional, por se tratar de uma doença nova e pouco conhecida, psicólogos têm se unido a médicos para repassarem informações sobre o paciente à família.
O trabalho da psicologia hospitalar não se restringe apenas aos pacientes. A equipe também atende aos profissionais de saúde e funcionários de diversos setores do hospital, atuantes na linha de frente do combate à pandemia, (corpo clínico, administrativo, limpeza e portaria, entre outros).
“Aqueles que estão na linha de frente também passam pelo medo do adoecimento. Viram pessoas próximas adoecerem e até morrerem por conta da Covid-19. Além disso, estão sobrecarregados, e tiveram que passar por um processo de adaptação extremo, que provoca forte impacto na saúde física e psicológica”, destaca.
Ela acrescenta que o objetivo da equipe é garantir que ninguém fique sem atendimento. “Dentro de um hospital, temos inúmeras questões e dificuldades. Por isso, aquele que buscar ajuda será prontamente atendido”, declara.
Aumento nos atendimentos
De acordo com a psicóloga, que também atua na unidade ESF (Estratégia Saúde da Família) da vila Angélica, a pandemia fez aumentar em mais de 40% a procura pelo atendimento psicológico nos postos de saúde.
“Em dias normais, antes da pandemia, eu atendia em média sete pacientes. Depois da pandemia, cheguei a atender a até dez pacientes no mesmo dia, a maioria com queixas sobre ansiedade e insegurança causadas pelo novo vírus”, revela a profissional.
Segundo ela, o surgimento da pandemia, o isolamento social e todas as incertezas atuais impactaram diretamente na saúde mental da população, ocasionando diversos transtornos.
Pelos atendimentos realizados por ela, os casos de transtornos mais comuns durante a quarentena são de baixa autoestima, ansiedade, depressão, síndrome do pânico e, em alguns casos, até suicídio.
A psicóloga apontou que a melhor maneira de cuidar da saúde mental é procurar a ajuda de profissionais, como psicólogos, terapeutas e psiquiatras. Além disso, é necessário manter “hábitos simples”, como a prática de atividades físicas e organizar a rotina dentro de casa.
“Digo para os meus pacientes: isolamento social e quarentena não são sinônimos de falta do que fazer. Dentro de casa, é possível organizar uma rotina de limpeza, autocuidado, exercícios físicos e outras atividades, como estudar, ler, assistir filmes. Tudo isso ajuda a promover nossa saúde mental”, sustenta Lucimara.
A psicóloga ressaltou que o município tem uma rede de atendimento psicológico atuante. Na ESF da vila Angélica, o serviço é prestado de segunda-feira a sexta-feira, com o objetivo de atender o maior número de pacientes.
“Se alguém precisar de ajuda, de alguma orientação ou informação, pode me procurar na ESF da vila Angélica. Estamos estendendo e reforçando o nosso atendimento individual, para não haver aglomerações. Mas, a intenção é atender o maior número de pessoas possível”, completou a profissional.
Estudos apresentados pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e pelo Ministério da Saúde indicam que o Brasil teve crescimento dos problemas relativos à saúde mental-emocional nos últimos anos.
A OMS aponta que, atualmente, no Brasil, 5,8% da população (12 milhões de pessoas) sofrem de depressão (maior taxa da América Latina, a segunda dentro das Américas e a quinta do mundo).
Em relação aos “transtornos de ansiedade”, o Brasil é o recordista mundial, com 9,3% da população com algum desses problemas. E, quando a questão é o suicídio, o país ocupa a oitava colocação no planeta em relação à contagem absoluta de mortes autoprovocadas, com 12 mil anuais.
“Por isso, ressaltamos que é importante as pessoas procurarem orientação profissional. Não tenham vergonha, pois a consulta com o psicólogo é como outra qualquer. Além disso, existem os serviços gratuitos, como o 188 do CVV (Centro de Valorização a Vida), que oferecem suporte e ajuda para questões emocionais”, concluiu a psicóloga.