Particulares representam 5% das operações realizadas na Sta. Casa





Pacientes particulares representam apenas 5% da frequência dos centros cirúrgico e obstétrico da Santa Casa de Misericórdia de Tatuí. De olho nesse número, a comissão provisória que administra o hospital começou a investir em projetos para balancear não só o percentual, mas o caixa da instituição.

A ideia é aumentar o número de operações particulares para, com elas, gerar a chamada “receita própria”. No momento, o hospital tem na Prefeitura – com a qual mantém três convênios – a maior fonte de renda. No que depender das propostas anunciadas por Fernanda Rodrigues Laranjeira, isso pode mudar.

O ponto de partida reside em dois projetos, apresentados pelos funcionários da Santa Casa. Fernanda contou que as propostas chegaram até a comissão a partir de conversas com a equipe. “A ideia nos foi dada pela Maísa e pela Roseli Inácio, e vai permitir melhorar o atendimento particular e a outros pacientes”, disse.

Para o hospital, o atendimento particular é o principal caminho que a comissão tem de seguir para reestruturar financeiramente a instituição. A Santa Casa busca, no aumento dos procedimentos particulares, uma espécie de segurança futura ou “eventual compensação da redução da receita”.

A meta é evitar que o hospital perca – de uma hora para outra – recursos que são considerados “livres”. Os valores repassados pela Prefeitura, oriundos do SUS (Sistema Único de Saúde), retaguarda e do Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”, não podem ser utilizados para outras finalidades.

Por serem específicos, a administração fica impedida de aplicar os recursos conveniados com o Executivo, por exemplo, para consertar algum equipamento.

O mesmo não ocorre com as receitas via convênios particulares. Estes, porém, são suscetíveis a interesses próprios e ao momento econômico.

Por outro lado, as cirurgias particulares podem representar receita “quase que imediata”. Elas podem, também, evitar episódio vivido pelo hospital recentemente. Com a saída do convênio da Unimed (que migrou para instalações próprias), o hospital perdeu, aproximadamente, R$ 300 mil por mês.

Sem o aporte e condições necessárias para realizar as cirurgias particulares, o hospital viu o caixa quase “secar”. “O hospital tinha, antigamente, muito atendimento particular. É isso que gera a nossa receita própria e que possibilita fazermos os melhoramentos”, argumentou a integrante da comissão.

Devido a uma série de fatores, Fernanda disse que a Santa Casa perdeu esse público. Conforme ela, o hospital sofreu com defasagem de equipamentos e instalações. Também perdeu capacidade de “oferecer quartos com melhores condições”, o que fez a clientela recusar as cirurgias.

Outra questão é a falta de equipamentos necessários às operações. Até o primeiro trimestre deste ano, a Santa Casa dispunha de apenas um carrinho de anestesia em funcionamento. O segundo estava em manutenção, mas não podia ser retirado pela entidade por falta de recursos para pagamento pelo serviço.

“Era muito ruim. Não tínhamos como fazer duas cirurgias ao mesmo tempo”, contou Fernanda. Por sugestão da equipe de funcionários, a comissão optou por quitar o débito com a empresa (no valor de R$ 6.000).

O equipamento custa em torno de R$ 100 mil e não estava sendo utilizado porque o hospital não tinha condições (receita própria) de pagar pelo conserto.

A demora também ocorreu por conta do período de requisição, que começou em janeiro e terminou em maio. Por esse sistema, a Prefeitura – que assumiu a gestão temporária do hospital – não poderia assumir compromissos (dívidas, em específico) feitos pela provedoria demissionária.

Com a mudança de comando e por sugestão da equipe, a comissão provisória achou por bem “resgatar” o equipamento. “A partir de agora, temos condições de fazer duas cirurgias ao mesmo tempo”, comemorou Fernanda.

O segundo carrinho de anestesia também vai evitar que as equipes médicas tenham de enfrentar situações incômodas. Entre elas, a que ocorreu durante um dos procedimentos.

De acordo com Fernanda, os profissionais da Santa Casa precisaram suspender uma das cirurgias em início para atender a um caso de urgência de uma pessoa que havia fraturado uma vértebra.

“O paciente corria o risco de ficar paralítico por ter uma fratura na vértebra. A equipe teve que parar o que estava fazendo para essa urgência entrar”, relatou.

Visando potencializar o uso do segundo carrinho de anestesia, a comissão está engatilhando dois novos projetos. O primeiro é o “Adote um Quarto”, pelo qual a entidade propõe parceria com a sociedade civil e empresas para reforma de quatro ambientes. Os cômodos receberão os pacientes particulares.

O segundo projeto, denominado “Adote um Contrato”, tem como objetivo “aliviar” o caixa da instituição. A ideia é que empresas ou profissionais liberais possam arcar com os custos de contratos fixos. Os essenciais são os que tratam de manutenção dos equipamentos de uso do hospital.

“O mais importante é o de manutenção, que, infelizmente, não está vigente. Por falta de pagamento, ele foi encerrado, e é um contrato essencial para que os equipamentos recebam manutenção preventiva”.

Conforme ela, o hospital tem, aproximadamente, dez equipamentos parados na empresa de manutenção. Os aparelhos já foram consertados, mas não podem ser retirados porque a instituição não tem dinheiro recurso próprio.

Desde maio, a instituição tem “repatriado” dois equipamentos por mês. São máquinas e aparelhos que poderiam receber manutenção preventiva por meio de contrato.

O projeto de adoção prevê que a instituição, empresa ou parceiro que queira colaborar com o hospital possa firmar diretamente contrato com a prestadora.

“Para garantir a lisura e a transparência e retomarmos o bom nome da Santa Casa, a ideia é que não passe nenhum valor para a entidade. A pessoa ou empresa pode fazer um contrato direto com a responsável pela manutenção”, detalhou.

O contrato de maior custo para o hospital, no momento, tem custo de R$ 5.000 mensais. “Na situação em que estamos, esse valor é muito”, citou a farmacêutica responsável pela Santa Casa, Andressa Marinheiro Canto e Silva.

De acordo com ela, com o convênio em vigência, o hospital não precisaria se preocupar em realocar fundos para proceder com conserto toda vez que um equipamento entrasse em pane. “Nós precisamos da autoclave para esterilizar materiais, mas, como falta manutenção, quando ela para, as cirurgias param”, contou.

O “Adote um Quarto” deve ser desenvolvido da mesma maneira. Nele, empresas que queiram colaborar com a Santa Casa poderiam customizar os ambientes. Fernanda antecipou que os futuros parceiros não terão custos com equipamento hospitalar.

“A ideia é que eles possam pintar, instalar um televisor, um armário, uma cama de acompanhante, uma poltrona e uma bandeja para alimentação”, projetou.

Com isso, a instituição espera atrair de volta um “público mais seleto” e que gasta com cirurgias. Segundo a farmacêutica responsável, muitas pessoas acabam desistindo de fazer o procedimento na Santa Casa por não haver espaço para acompanhante.

Em princípio, a comissão quer destinar quatro quartos para serem adotados. Serão dois apartamentos individuais (um masculino e um feminino) e dois compartilhados (para dois homens e duas mulheres). “Com isso, vamos poder atender a uma demanda e vender serviços para termos renda”, argumentou.

Em média, a Santa Casa realiza 80 cirurgias por mês. Dessas, quatro são particulares. Com o aumento das operações pagas, a entidade quer juntar dinheiro para comprar um terceiro carrinho de anestesia e, com isso, ter três salas para os procedimentos. “Há demanda e fila de espera”, concluiu Fernanda.