Participação efetiva rende ações culturais





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Estudantes mobilizam trabalhos em diferentes setores da unidade

 

Em julho de 2012, Beatriz Soares Amaro assumiu o posto de diretora da Etec (Escola Técnica) “Sales Gomes” com uma série de planos que tinham como meta principal uma participação mais efetiva dos estudantes. A um mês de completar três anos de gestão, ela colhe quase todos os frutos do trabalho.

Com ajuda dos professores, funcionários da administração, colaboradores e estudantes, a unidade de ensino profissionalizante retomou atividades consideradas importantes. Resgatou o grupo estudantil de teatro – denominado Evoé –, retomou em definitivo o grêmio e a fanfarra e criou um jornal e um coral.

“Nós conseguimos desenvolver um trabalho muito legal”, iniciou Beatriz. Dos planos anunciados pela professora no início da gestão, apenas a “Empresa Júnior” ainda não foi implantada. Trata-se de uma iniciativa que pretende transformar a Etec numa prestadora de serviços para a comunidade.

O programa deve permitir, por exemplo, que alunos dos cursos técnicos atuem em empresas que necessitam de serviço especial. O grupo de alunos será formado de acordo com a demanda da empresa e supervisionado por um professor.

Dessa maneira, estudantes dos cursos profissionalizantes poderão complementar o aprendizado com a parte prática. A ideia abre, ainda, possibilidades de que os estudantes conquistem vagas no mercado de trabalho.

A diretora explicou que o trabalho desenvolvido pela direção, com apoio dos demais colaboradores, consistiu na mobilização dos estudantes. Respaldados pelos professores, eles administram o grupo estudantil, o grêmio e o jornal. A fanfarra e o coral estão a cargo de um maestro e de uma professora.

Parte desse resgate, anunciado como conquista, veio já no ano passado. Em 2014, a Etec completou 80 anos com a promoção de concurso para eleição da miss e do mister “Sales Gomes”. “Fazia 25 anos que isso não era realizado. Nesse ano, houve uma continuação dessa linha de trabalho”, disse a diretora.

Ainda em 2014, a escola retomou as atividades da fanfarra e, em 2015, ampliou os trabalhos com música, com a criação do coral. O grupo formado por alunos, professores e funcionários está a cargo do maestro Luís Bernardo Fróes Trindade.

Com consentimento da direção, o músico utiliza um espaço da escola técnica para ensaios de uma orquestra. Em agradecimento, ele ensaia os integrantes do coral todas as quintas-feiras. Já a fanfarra está a cargo da professora Camila Gianesella Lisboa de Almeida, do curso de meio ambiente.

O coral leva o nome de Wilsom Bertrami e a fanfarra é batizada de Wilson Roberto Ribeiro de Camargo. “Nós resolvemos dar esses nomes como homenagem a dois professores de muita importância para a escola”, disse a diretora.

O teatro, o jornal e o grêmio surgiram quase que simultaneamente. Esses três estão ligados pelos seus integrantes, ideais e pelo apoio da direção e dos professores. Foi com esse respaldo que Danrlei Soares Antunes, aluno do 2o ano do Etim Informática aceitou o desafio de retomar o grupo estudantil de teatro.

O estudante também cursa teatro adulto no Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”. Como já vivencia a experiência artística na maior escola de música, artes cênicas e luteria da América Latina, Antunes resolveu trazer a experiência para dentro da unidade. O projeto surgiu a partir de pesquisas que alunos do jornal “Ver Sales” desenvolveram.

Eles fizeram um levantamento histórico da unidade como fonte de consulta para ter material para imprimir a primeira edição do jornal interno. “Nessa pesquisa, nós conhecemos a história do teatro do Sales, que, há 22 anos, foi premiada e parou nesse tempo. Eu quis resgatar esse trabalho”, comentou o estudante.

A ideia de Antunes atendeu a uma solicitação dos professores que pedem trabalhos ligados ao teatro. “De olho nessa oportunidade, eu conversei com a diretora para ver se ela apoiava. Ela aceitou e pediu para que eu mobilizasse as salas”, recordou. A partir dali, Antunes iniciou a formação do grupo.

No total, 65 alunos se inscreveram para participar do corpo teatral, sendo 25 selecionados. Para realizar a escolha dos integrantes, Antunes contou com colaboração de duas colegas do curso de teatro adulto do Conservatório de Tatuí.

A fase de seleção terminou em abril, com o primeiro trabalho do grupo sendo apresentado em maio, por conta da “Semana Paulo Freire”. A pedido do professor Fernando Costa (que leciona história e coordena o ensino médio), os estudantes começaram o trabalho de escolha do texto e de preparação.

O grupo “Evoé” estreou no dia 12 de maio, no anfiteatro da escola técnica, com “O Velório de Tofão, Tofinho e Tofudo!”. A peça escrita por Alan Balbino é uma comédia com, aproximadamente, 25 minutos de duração e que se passa em um velório “aparentemente comum”. Nele, uma viúva chora sobre o caixão do marido junto à filha. Num determinado momento, outras esposas do falecido começam a aparecer, até que tudo vira uma confusão.

A escolha da peça seguiu critérios de figurino, sonoplastia e iluminação (adaptados pelos estudantes). O grupo estudantil precisou realizar pesquisas para adaptar os recursos em mãos ao espetáculo e já pensa em representar a instituição fora dela. Entre os planos está participação no Fetesp (Festival Estudantil de Teatro do Estado de São Paulo), que é realizado pelo Conservatório de Tatuí.

O próximo desafio do grupo será uma performance em festa junina da unidade, a ser realizada neste mês, e na quarta edição da EPA (Etec de Portas Abertas). Apesar de recém-criado, o grupo estudantil de teatro tem planos de ter continuidade. Tanto que Antunes tem como meta “renovar o corpo teatral”.

A atividade é considerada vantajosa tanto pelos professores como pelos estudantes. Segundo o coordenador do ensino médio, o teatro auxilia os alunos no desenvolvimento do raciocínio. Também permite o convívio com a diversidade, estimula a organização, envolve trabalho de logística e de produção.

Já Antunes disse que o grupo permite que ele reforce o conhecimento transmitido pelo Conservatório. “Eu aplico com os alunos jogos teatrais que faço no curso de teatro adulto. Isso é algo que me beneficia e beneficia a todos”.

Na mesma linha de pensamento, Caroline Prudente e Laís Adriana, também estudantes do 2o ano do Etim Informática, montaram o “Ver Sales”, um jornal informativo. A ideia surgiu por conta de disputa de chapa de grêmio estudantil.

Mesmo sem vencer, as duas seguiram com a vontade de criar um veículo de comunicação interno. Por essa razão, procuraram os coordenadores que aprovaram a proposta. A primeira edição circulou em maio, com tiragem de 300 exemplares, e tornando-se uma experiência que permitiu ajustes no formato.

Para a confecção, as estudantes montaram uma equipe que conta com repórteres, fotógrafos, colunistas e demais colaboradores. A revisão dos textos fica por conta da diretora e do coordenador. O jornal inclui notícias, nas primeiras páginas, e dissertações sobre acontecimentos no país e no mundo. Também contém matérias de entretenimento e questões de vestibulares.

Ele é composto por 12 páginas e impresso em folha A3. O projeto original previa folha A4, mas por conta das dificuldades de impressão, as estudantes tiveram de rever a ideia. Elas precisaram mais que isso: mudar o conceito e pesquisar.

“Eu achava que tinha habilidade para montar (redigir e distribuir os textos, fotos e gráficos), mas quando comecei, vi que não tinha nenhuma”, comentou. Para superar o desafio, ela procurou vídeos na internet e outros materiais.

Os demais estudantes colaboram com o conteúdo da edição – que é mensal – enviando notícias ou sugerindo pautas por meio de canais criados pelas estudantes. Eles consistem em e-mail e um grupo em rede social (Facebook).

O impresso é publicado com apoio do comércio local e com a venda dos exemplares. Todo mês, as estudantes visitam os lojistas e empresários a procura de colaboradores. O recurso levantado é somado ao dinheiro obtido com as vendas (R$ 1 por exemplar) para pagar a impressão da edição seguinte.

Por meio do veículo, as estudantes informaram que estão conseguindo melhorar a comunicação entre o corpo discente do ensino médio. O desafio é integrar o ensino técnico, em geral, composto por público mais adulto e que estuda à noite.

Essa também é uma das barreiras que o grêmio estudantil presidido por Conrado Vivi Convento, aluno do terceiro ano do ensino médio, terá de superar. No cargo desde maio, ele disputou a eleição com a chapa “Integração Estudantil”.

A formação do grêmio teve início em 2014, envolvendo um grupo menor de estudantes. Neste ano, a diretoria buscou expandir participações. Para isso, a professora Juliana Domingues de Miranda, que é orientadora educacional, conduziu os trabalhos de divulgação e o processo de eleição de chapa.

“Os nossos alunos são bastante políticos, ativos. Então, eu reuni todos no salão nobre e montei uma apresentação para contar o que é o grêmio, o que a escola precisa para ter um e quais são as funções de quem o integra”, explicou.

Ex-integrante da UNE (União Nacional dos Estudantes), Juliana transformou o desejo da diretoria em realidade, ao conseguir engajar o maior número de alunos possível. Ao todo, três chapas concorreram, com eleição realizada no dia 13 de maio, também no salão nobre da escola técnica.

Eleitos, os membros da “Integração Estudantil” criaram um programa de trabalho com dez compromissos. O grupo utiliza o material para “não se perder” e conseguir cumprir as propostas. Para isso, mantém parceria com os coletivos do município e com grupos de jovens ligados a clubes de serviço.

Das ações programadas, pelo menos cinco já estão em prática. Com ajuda dos demais estudantes, o grêmio auxilia na realização de um campeonato esportivo, adotou simulados de vestibular, promoveu a pintura da quadra poliesportiva e está recebendo doações de peças de roupas para a Campanha do Agasalho”.

Ele também instituiu comissões para ações específicas (como direitos humanos, das mulheres e de esporte). “Nosso objetivo principal é deixar um legado para os próximos grêmios, uma vez que não vamos mais estar aqui”, disse Conrado.

Com eleição anual, o grêmio conta com uma sala própria e mostra o resultado dos trabalhos por meio de ofícios. Os documentos são anexados em um mural, instalado no corredor da escola, para que os demais alunos possam ver os resultados das ações e das reuniões entre o grupo e a diretoria.

“É um trabalho de conscientização, na realidade. Eles (os alunos) têm bastante consciência política. Com isso, eles conseguem passar para os demais que é necessário estar antenado com que acontece na escola”, disse Juliana.

O grêmio tem, ao todo, 1.200 alunos associados. A diretoria é composta por dez pessoas. Já as comissões envolvem 30 estudantes. “Nós somos o corpo estudantil em si. Não queremos ser a instituição dentro da escola, mas a escola”, comentou o presidente da chapa vencedora das eleições deste ano.

De modo a atender as demandas dos estudantes, Conrado explicou que o grupo optou por formatar um projeto que previsse uma “mesa redonda”. A intenção é que os alunos possam expressar suas necessidades, por meio das comissões.

Os pleitos são debatidos com a direção em encontros semanais (todas as quartas-feiras). Beatriz disse que não é possível atender a todas as demandas, uma vez que o único recurso disponível é o da APM (Associação de Pais e Mestres).

“Dentro do que é possível, nós negociamos e eles entendem muito. Nós sempre conseguimos chegar a um acordo e, por enquanto, não tivemos discussões”, disse.

Conforme a diretora, esse modo de trabalho possibilita que o aluno entenda como funciona o mecanismo da administração e agrega “olhar externo” sobre a entidade.