O direito de ser pedra e o direito de ser vidraça

 Fabricio Posocco *

O pior nessa história toda, desse período de pandemia da Covid-19, tem sido a guerra violenta de versões apresentadas sobre o problema. Argumentos tão profundos quanto à preferência de um determinado time de futebol para sua torcida são aplicados à saúde, à política e à economia. O clima nas redes sociais, na rede mundial de computadores e na mídia parece uma verdadeira batalha campal. As discussões têm despertado um grande número de “especialistas generalistas”, narcisistas apaixonados por seus discursos.

A você cabe escolher, unicamente, de que lado está: é Fla ou é Flu, é direita ou é esquerda, é Bolsonaro ou é Doria, é situação ou é oposição… Ninguém se dá conta de que pessoas estão morrendo enquanto os vivos se ofendem entre postagens. Opiniões, muitas vezes, tão absurdas e sem nexo quanto a ideia de uma Terra plana simplesmente pelo “direito de ser pedra” e o outro o “direito de ser vidraça”.

Em meio a tudo isso, pessoas me perguntam: o que eu penso sobre essa pandemia? O que eu acho que deve ser feito nesse período?

Em uma opinião simplista e fazendo um comparativo despretensioso, acho que são tolos todos aqueles especialistas “de ouvi dizer” ou pós-graduados “no Google” que, não conhecendo o Direito, dizem (absurdamente) que as pessoas devem fazer isso ou aquilo diante de determinados problemas jurídicos.

Então, não quero ser o tolo que, não conhecendo profundamente de medicina, diz o que as pessoas devem fazer nesse período. Confio em Deus e nos profissionais da área da Saúde, simples assim.

Sei também que se todos fizerem a sua parte, com responsabilidade, ainda que não consigamos a solução de todos os problemas ou a cura da doença, com certeza faremos com que as dificuldades do confinamento sejam menos cruéis. Assim, quem puder ficar em casa, em isolamento, fique.

Quem precisar sair de casa ou trabalhar fora (e acredito que muitos – assim como eu – precisam) obedeça as regras do poder público quanto ao uso de máscara, álcool em gel, lavar as mãos com água e sabão, respeitar distâncias regulamentares entre os usuários do transporte público e consumidores, respeitar a limitação do número de pessoas em ambientes fechados, realizar atendimentos com hora marcada, entre outros.

Dê a sua contribuição da melhor forma possível. Não aplique a Lei de Gérson para levar vantagem em tudo. Respeite, principalmente, o próximo, pois você não conhece a realidade de todos com quem convive. E, se o seu coração ainda permitir, promova solidariedade com os mais necessitados.

Definitivamente, o disparo da nossa metralhadora cheia de mágoas e ressentimentos em relação aos que possuem opinião contrária não parece ser a melhor solução.

Obrigatoriamente não precisamos ser pedra ou vidraça, pois temos não somente o direito mas, principalmente, o dever de sermos algo diferente em tempos de pandemia. A escolha, cabe a cada um de nós.

* Professor universitário e advogado na Posocco & Advogados Associados.