O bom padre Silvestre Murari

Não existe terra bem tratada que deixe quem a tratou na mão!

A história a seguir aconteceu há muito tempo, e o nosso personagem envolve o mais querido e carismático, padre Silvestre Murari, o monsenhor Murari. O cenário é o asilo São Vicente de Paulo, até hoje estabelecido na vila Dr. Laurindo.

Monsenhor Murari era residente no asilo, onde curtia sua merecida aposentadoria, e, de vez em quando, saia para dar umas voltas pela cidade. Numa dessas saídas, encontrou, passando pela rua, o Brandão.

Brandão era um senhor negro, muito forte, determinado e respeitado. Afinal, como todos sabiam, ele foi morar num terreninho todo esturricado e largado que havia na Dr. Laurindo, e, dentro de pouco tempo, havia transformado o lugar num Éden, todo cheio de árvores e canteiros de milho, mandioca, enfim, verde pra todo lado. Uma maravilha!

Vai daí que o monsenhor passa por ali, vê aquela maravilha de chácara e, ao perceber a presença do Brandão, curioso, pergunta pra ele:

– Como você, meu caro Brandão, conseguiu transformar essa terra, que era tão seca e abandonada, em um exuberante jardim?

Brandão explicou que fora muito duro no início, muita luta, muito suor e solidão.

– Sozinho não, com a ajuda de Deus – afirmou o bom padre.

– Exatamente – concordou o lavrador.

Passava noites inteiras regando seus canteiros de legumes, que, correspondendo aos cuidados recebidos, ofereciam alimentos lindos e nutritivos.

– Isso tudo com a ajuda de Deus – disse o padre, novamente.

– Exatamente – concordou, mais uma vez, o lavrador.

– Mas um dia deu uma praga de lagartas que devastou minha pequena lavoura… – e olhou fixamente no padre, esperando que ele dissesse “com a ajuda de Deus”.

No entanto, o esperto padre ficou calado.

Sem o devido comentário do padre, Brandão continuou a contar que isso não o desanimara. Começou tudo novamente, plantou novas sementes, regou cuidadosamente e, com muito zelo, o resultado estava ali: muito verde, muito alimento fresquinho e saudável.

– É, e com a ajuda de Deus – arrematou dessa vez o padre.

Brandão, meio encabulado, olha para o monsenhor e diz:

– É verdade, monsenhor, mas quando era só Ele que cuidava, era terra esturricada e tiririca, ninguém dava nada por isto aqui. Olhe só agora, com minha ajuda, está uma beleza.

O bondoso padre, entendendo a simplicidade lógica do humilde lavrador, sorriu, abençoou-o e à sua lavoura e, cantarolando, tomou rumo à pracinha da Matriz…