Mauricio Nhô Tô

Hoje quero contar um pouco da história de uma pessoa que foi autoridade em Tatuí e região, que fez parte da famosa Guarda Rodoviária e até foi amigo do Vigilante Rodoviário, aquele mítico aventureiro que tinha como fiel companheiro um cão pastor alemão que só faltava falar.

Sei lá por que resolveram acabar com essa corporação, mas muitos outros tatuianos também vestiram a honrada farda caqui, entre eles, o Maurício Nhô Tó, Hélio Camargo, Hélio do Cesário, João Mauricio e tenente Hermínio.

Bem, o herói em pauta se chama Izaac, isso mesmo, com dois “as”, para provar ser ele um descendente direto de Abraão. Guarda rodoviário, grande amigo, cozinheiro de mão cheia, hoje trabalha com caldeiraria, transporte e ainda cisma que é atleta, ciclista para ser exato.

Apesar da barriga, é esforçado. Seu amigo Altair comenta que ele foi convidado para pedalar no deserto do Saara… não aceitou… não devido ao calor de lascar, mas porque lá não tem esquina, e em cada esquina deve ter um bar, portanto, recusou tamanha façanha.

Certa vez, o Izaac resolveu dar umas pedaladas, pediu para a esposa sua sunga esportiva, tomou um cafezinho e saiu de sua residência, na rua Santa Cruz, e rumou sentido Sabesp. Era bem cedinho, mas, mesmo assim, tem sempre um vizinho que madruga com as galinhas, e logo foi dizendo para nosso campeão:

– Pedala aí, no começo é difícil, mas depois fica moleza!

Ignorando o comentário, deu início à aventura.

Quando estava no meio da subidona, pensou em desistir, a língua parecia uma gravata, acabou entrando na Zilah de Aquino e, bufando, encheu os pulmões do ar fresquinho da manhã e deu sequência às pedaladas.

Em zigue-zague, adentrou na ciclovia. Um cara dirigindo um Fusca todo cheio de massa plástica e arame passou por ele e o chama de navalha.

– Navalha? Eu? Pensa, irritado!

Mesmo assim, ficou antenado com o trânsito do local, vai pedalando rente ao canteiro, onde uma moça que praticava caminhada o chama de folgado.

– Folgado? Eu? Pensa, mais irritado ainda.

Resfolegando, chega ao final da avenida, onde tem uma descida em direção à Coop e, logo em seguida, o Bar do Gaúcho. Uma dor aguda começa em seu cangote e vai até o tendão de Aquiles; o pedal pesa uma tonelada, consegue chegar até o bar do Genésio, onde aproveita para ir ao banheiro. Sai novamente e vai em direção à rua 11 de Agosto. Passa por ele um veículo, cujo condutor grita:

– Vai pra casa, pé de cana!

– Pé de cana é a mãe – grita ele, já perdendo a paciência.

Para manter a calma, pensa na família, nos amigos – os vivos e os que já se foram -, pensa em tudo. Enfim, fica mais calmo e diz para seus botões:

– Desço até o semáforo da esquina do Santa Emília, dobro à direita e estou em casa depois de quatro quarteirões. Chego lá nem que seja empurrando a magrela.

O semáforo estava fechado, coloca os amortecidos pés no chão, suas pernas tremiam, achou que ia desmaiar. O fim estava próximo, as nádegas, adormecidas, a vista escureceu…

O semáforo abriu, tentou sair pedalando, não deu. A coisa estava preta: sentou na sarjeta, esperou por socorro, e nada. Ainda meio atordoado, tomou uma profunda respirada e subiu novamente na bike…

E, em vez de subir à direita, desceu à esquerda, indo em direção ao ribeirão do Manduca. Entrou pela marginal e foi até a rua José Bonifácio. Bufando, subiu até a Praça da Matriz, deslizou até o Mercado Municipal e, lá, contratou um bagageiro para levar a bike (ele junto) até sua residência.

Então, caso uma pessoa for vista ziguezagueando por aí ou sentado na calçada junto a uma magrela, trata-se do Izaac. Favor ligar para os familiares ou para o Samu. Os parentes mais próximos oferecem uma módica gratificação…