Golpistas diversificam as formas de agir e fazem novas vítimas em Tatuí

Comprovante bancário de vítima que buscava vaga de emprego (crédito: Reprodução)

Cresce em Tatuí o número de ocorrências policias classificadas como “estelionato”. A designação é ampla e utilizada para vários tipos de golpes em que o criminoso se utiliza da boa-fé para obter vantagem ilícita, geralmente envolvendo dinheiro.

Os balanços oficiais da Secretaria de Segurança Pública do Estado não incluem números de estelionato nos municípios.

Contudo, levantamento informal feito por O Progresso com os boletins de ocorrência da Delegacia Central de Tatuí indica que esse tipo de crime está se tornando mais frequente. Proporcionalmente, diversifica-se o modo de agir dos golpistas.

Em ocorrência recente, em janeiro, um homem de 28 anos recebeu uma mensagem por “WhatsApp” dando conta de uma vaga de emprego em uma empresa de construção civil.

O morador da vila Angélica usou um dos números de telefone indicados no anúncio e entrou em contato com um homem cujo nome seria “Vagner”. De acordo com o boletim de ocorrência, Vagner disse à vítima que havia a necessidade de ela depositar R$ 400 relativos a um curso preparatório.

Feito o depósito, em nome de Abraão Henrique Silva, o candidato foi informado, por Vagner, de que um veículo passaria na casa dele para levá-lo ao local do curso. Depois disso, o golpista bloqueou o número da vítima no aplicativo de mensagens.

No dia 22 de janeiro, o morador da vila Angélica esteve na Delegacia Central para denunciar a fraude. De acordo com ele, dois conhecidos caíram no mesmo golpe. “Todos nós acreditamos nessa possibilidade de conseguir um trabalho e acabamos quebrando a cara”, disse a vítima a O Progresso.

Prejuízo semelhante teve um auxiliar de serviços gerais de 33 anos, morador do bairro San Marino. Ele estava disposto a comprar um automóvel pela internet, no portal “OLX”. A negociação também se deu pelo “WhatsApp”.

De acordo com a placa informada na elaboração do BO, ele iria comprar um Chevrolet Corsa Wind, ano 1998, com placas de Porto Alegre, por R$ 5.000.

A vítima afirma que fez um depósito de R$ 1.500. Contudo, o dono do carro pediu mais valores de adiantamento, o que lhe foi recusado. Depois disso, o suposto vendedor desapareceu do aplicativo e não houve mais contato entre as partes.

Uma professora de 61 anos, moradora do centro, foi mais precavida e escapou do golpe. No fim de janeiro, ela recebeu carta de um suposto escritório de advocacia, apontando um ganho de causa na Justiça.

A professora teria direito a uma indenização de R$ 87.520, mas as custas processuais do escritório ficariam em R$ 7.556,40. Como de fato está envolvida em um processo judicial, a idosa chegou a acreditar nas informações.

Em contato telefônico com o escritório, ela foi informada de que deveria fazer um depósito do valor correspondente aos advogados. Ela desconfiou de golpe e, com algumas pesquisas, confirmou a suspeita.

 

Golpes
tradicionais

Os casos recentes somam-se a dezenas de estelionatos em que os criminosos utilizam os “meios tradicionais”. Um dos mais comuns é aquele em que um falso familiar ou amigo simula problemas mecânicos no carro durante viagem e pede ajuda em dinheiro para pagar o guincho ou o conserto.

Em novembro, um advogado de 70 anos teve prejuízo de R$ 2.980, pagos a um criminoso que se identificara com o nome de um amigo da vítima e dito que estava com o carro quebrado na rodovia Castello Branco.

Outra modalidade de estelionato que se tornou mais frequente é a ação de falsos funcionários de banco. Eles oferecem ajuda a usuários das agências e se aproveitam das informações para sacar ou movimentar dinheiro das contas deles.

Em dezembro, uma aposentada de 62 anos teve prejuízo de R$ 2.620, depois que um falso bancário da Caixa teve acesso ao cartão de crédito dela. Golpes desse tipo também foram registrados no Banco do Brasil. Nessa mesma época, O Progresso noticiou o caso de uma funcionária pública estadual que perdera todo o dinheiro da conta dela, no Banco do Brasil, depois de aceitar ajuda de um falso atendente.

Também envolvendo dados bancários, e geralmente tendo idosos entre as vítimas, outra modalidade de golpe consiste em telefonema para avisar sobre cartões supostamente clonados.

Primeiro, o falso atendente da operadora tranquiliza as vítimas, afirmando que as despesas indevidas serão canceladas e, para oferecer ainda mais comodidade, informa que um funcionário da operadora irá até a casa do usuário para recolher o cartão com problema.

Para tanto, “basta” que o usuário escreva uma carta informando dados pessoais e autorizando o bloqueio definitivo do cartão.

Dessa forma, em dezembro, uma aposentada do bairro Nova Tatuí entregou o cartão de crédito e a carta a um mototaxista supostamente a serviço da “Seguradora de Cartões de Crédito” do Banco Itaú.

Na mesma tarde, a idosa descobriu que o cartão havia sido utilizado para compras em vários estabelecimentos comerciais da cidade. Os valores envolvidos não foram divulgados.

 

Orientações
O capitão Luiz Antônio da Silva, comandante da Polícia Militar de Tatuí, ressalta ser importante que as pessoas tenham cuidado quando aparecem facilidades.

“Normalmente, o estelionatário vai procurar apresentar facilidades que não são regra. Isso acontece muito na aquisição de bens, principalmente via internet”, comenta.

O oficial acrescenta que o estelionato é facilitado pela “ganância” da vitima. Neste caso, o melhor exemplo é o falso prêmio. “Se a pessoa vai muito fundo na ânsia de ganhar e não mede as consequências, ela é facilmente enganada. Muitas vezes, a pessoa não tem motivo nenhum para estar ganhando aquele prêmio”.

Um fator de dificuldade para a atuação policial é que, geralmente, a pessoa percebe o golpe quando o crime já está consumado e não há meios de flagrante. “O importante é que, mesmo assim, a pessoa faça o registro desse golpe junto à polícia”, orienta o comandante.