Empregados ocupam Rontan em protesto

 

Funcionários da Rontan Eletrometalúrgica ocuparam o pátio da empresa na manhã de quarta-feira, 5. De acordo com o Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí e Região), a invasão aconteceu como protesto ao descumprimento do acordo entre a metalúrgica e os empregados, que estão há meses sem receber salários.

Após um “pedido de confiança” de José Carlos Bolzan, um dos proprietários da companhia, os funcionários decidiram deixar o pátio da empresa na tarde do mesmo dia.

O empresário solicitou uma assembleia geral com os funcionários e o sindicato. A reunião será às 10h desta segunda-feira, 10. Na ocasião, os controladores da empresa darão o “posicionamento final” sobre a situação financeira da Rontan, de acordo com o presidente do Sindmetal, Ronaldo José da Mota. Não foi mencionado, porém, se será feito o anúncio da concretização da venda da empresa.

A reportagem procurou os proprietários da Rontan, que haviam anunciado que a concretização da venda da empresa a um fundo de investimentos europeu aconteceria na sexta-feira da semana passada, dia 30 de setembro, mas não obteve sucesso até o fechamento desta edição (sexta-feira, 17h).

O último acerto entre o Sindmetal, funcionários e a Rontan previa o pagamento dos salários e benefícios no mesmo dia 30 de setembro. O dinheiro para o acerto dos débitos viria da venda da empresa, que estaria acertada com um fundo de investimentos alemão.

A soma – não divulgada oficialmente – previa o pagamento de um “sinal” no dia 30. Até a quinta-feira desta semana, contudo, os funcionários da empresa ainda estavam sem receber. A Rontan não deu nenhum posicionamento ao sindicato sobre uma nova data de pagamento.

“Nós estávamos em entendimento com o Clóvis (Paulino, diretor financeiro da Rontan), e ele nos disse que, na sexta-feira (30), teria o pagamento. Chegou no dia e não deram informação nenhuma, não entraram mais em contato e não atenderam mais o telefone”, reclamou Mota.

Os funcionários se reuniram na terça-feira, 4, e decidiram, em assembleia, pedir informações formalmente à Rontan. “Na manhã de quarta, nós fomos até a empresa e os funcionários aproveitaram que o portão estava aberto para entrar e acampar”, contou.

De acordo com o sindicalista, após a ocupação, o proprietário pediu pessoalmente que os funcionários deixassem o local e um voto de confiança. A permanência dos empregados no pátio da empresa atrapalharia as negociações de venda.

“Essa conversa de compra da empresa vem de longe. Disseram que venderiam para a GDSI (Global Digital Solutions Inc.); depois, falaram em empréstimo; agora, veio esse fundo alemão. Nós queremos algo concreto, uma carta do fundo dizendo que compraram e que o dinheiro será depositado para os funcionários”, declarou.

O sindicalista disse não acreditar que a empresa tenha compradores. Conforme ele, as informações sobre possível aquisição por um fundo alemão seriam uma forma de “confundir” os funcionários, para que eles não entrassem com ações trabalhistas.

“A empresa está parada há cinco meses, está devendo para funcionários, para fornecedores, até para o governo. Eles estão sem produzir e com as dívidas acumulando. Deveriam ser transparentes com os funcionários”, afirmou.

Mota também afastou a possibilidade de que surja algum pedido de recuperação judicial. Conhecido antigamente como “concordata”, o instrumento permite à empresa insolvente dilatar prazos de pagamento de fornecedores, mediante a apresentação de um plano de resgate da empresa, evitando a falência.

“É um calote que se dá nos fornecedores. No caso de recuperação, como eles comprariam os insumos? Isso deveria ter sido feito no início da crise da Rontan, quando viram que a situação estava indo para o buraco. Agora, não tem como mais”, disse.

A Rontan não paga os funcionários há quase seis meses, não fornece cestas básicas há oito, não fez depósitos de encargos trabalhistas e previdenciários. Há 12 meses o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) não é recolhido.

Ainda falta o acerto da PLR (participação dos lucros e resultados) e das férias – tudo conforme divulgado pelo sindicato. Mota afirmou que não conseguiria calcular a dívida da empresa com os empregados.

No entanto, Mota afirmou que a Rontan deve mais de R$ 2 milhões ao Sindmetal. O valor é de contribuições sindicais e repasses de convênios médicos e odontológicos. “Eles descontaram a contribuição dos funcionários e não nos repassaram. Isso é apropriação indébita”, declarou o presidente.

As sucessivas promessas não cumpridas de negociação de venda da companhia e da quitação dos débitos trabalhistas gerou desconfiança dos funcionários.

Mota reclamou da lentidão da Justiça para determinar o arresto de bens da empresa. O sindicato ingressou ações pedindo a penhora da unidade industrial da Rontan em Tatuí, dos maquinários e de um terreno localizado próximo à Fatec (Faculdade de Tecnologia).

O sindicalista apresentou à reportagem um pedido de liminar. Nele, o advogado da Sindmetal expõe a preocupação com a “movimentação estranha de caminhões no local” e que a empresa “vem dilapidando patrimônio”. O documento apresentado à Justiça também cita “fortes indícios” de ocultação de bens.

De acordo com o presidente do Sindmetal, a situação da empresa chegou a este ponto por “erros administrativos” e não por causa da crise econômica.

“A empresa, até há pouco tempo, tinha pedidos de viaturas para entregar. Eles não tinham matérias-primas, pois não pagavam os fornecedores. Os pedidos foram passados aos concorrentes, nem tinham como eles entregarem”, declarou.

Parte dos 850 funcionários da empresa está passando por dificuldades financeiras e “insegurança alimentar”. Alguns empregados tiveram a prisão preventiva decretada por falta de pagamento de pensões alimentícias; outros estão com o nome inscrito em cadastro de proteção ao crédito.

“Estamos ajudando os casos que a gente pode, os mais críticos. Damos apoio comprando cestas básicas, ajudando em casos de prisões por causa de pensão. Não conseguimos apoiar todo mundo, mas estamos fazendo o que está ao nosso alcance”, frisou.

Anúncio de venda

No final do mês de setembro, a empresa anunciou que negociava a venda a um fundo de investimentos da Alemanha. A informação foi repassada ao Sindmetal, a funcionários e confirmada pela Rontan a O Progresso.

Na ocasião, o diretor financeiro da empresa, Clóvis Paulino, afirmou que o fundo iria comprar parte das ações da Rontan e que seria o acionista majoritário da companhia.

Com o pagamento do “sinal”, que estava previsto para o dia 30, os atuais controladores da empresa quitariam as dívidas com os funcionários e fornecedores.

A crise na empresa se agravou no final do ano passado. A Rontan foi uma das companhias afetadas pelos cortes de orçamentos que as administrações públicas vêm promovendo desde 2014.

Desde então, o número de contratados na Rontan vem caindo, após sucessivas “ondas de demissões”. De 1.250 empregados em 2012, atualmente, a companhia calcula manter cerca de 900 na unidade local.