Corpo de Bombeiros contém reignição de fogo em fábrica





Cristiano Mota

Ação de combate exigiu empenho de efetivo e de equipamentos de cinco municípios

O Corpo de Bombeiros de Tatuí ainda monitorava ontem, terça-feira, 28, a fábrica de carpetes localizada no Parque Industrial 1 por conta de incêndio ocorrido no sábado, 25. O major Miguel Ângelo de Campos explicou que a medida era necessária para evitar que os materiais que ainda estavam sendo retirados viessem a reacender o fogo.

Na manhã de segunda-feira, 27, um dia depois do trabalho de controle, a corporação precisou mobilizar parte da equipe para apagar um novo princípio de incêndio.

A reignição ocorreu exatamente no momento em que restos dos produtos queimados – e que eram estocados no local – estavam sendo retirados.

“Houve um novo princípio de incêndio na segunda, mas os bombeiros já realizaram o rescaldo”, contou o major. Para o serviço, a equipe recebeu apoio da Prefeitura. “Ela nos ajudou enviando o pessoal da garagem, que usou maquinário para que pudéssemos mexer, isoladamente, no material”.

Além de carpetes, a fábrica trabalha com material reciclável e produz capas para celulares e controles remotos de televisores. O empreendimento está localizado na rua Francisco Pereira Peixoto, ao lado do Estádio Municipal “Dr. Simeão José Sobral”, na vila Jurema, e muito próximo a diversas indústrias.

As chamas atingiram o empreendimento no período da manhã, com o Corpo de Bombeiros atendendo à ocorrência por volta das 9h. Por conta do plástico utilizado pela empresa para a fabricação dos produtos, o fogo originou fumaça de coloração preta e que pôde ser vista de diversos pontos da cidade.

O incêndio chamou a atenção da população do entorno e atraiu curiosos. Para evitar riscos a pessoas e facilitar o trabalho dos bombeiros, houve necessidade de interdição da região. A ação ficou a cargo da Guarda Civil Municipal e da Polícia Militar, coordenada por diversos oficiais.

A informação inicial e que está sendo apurada pelas autoridades é de que o incêndio tenha começado fora da fábrica. Para o comando dos bombeiros, o proprietário disse que o fogo avançou por conta das condições climáticas (vento) e da vegetação, atingindo parte do material estocado em área aberta.

A empresa também mantinha matéria-prima em espaço coberto (dois barracões). “Não foi possível comprovar, na hora, as causas do fogo”, contou Campos.

As chamas atingiram apenas uma parte da área de depósito. Elas propagaram-se num local em formato de “L” que contorna o barracão principal da fábrica.

“Felizmente, nós conseguimos isolar o prédio e o fogo não chegou até ele. Caso não tivéssemos sucesso, o prejuízo seria bem maior e as consequências, piores ainda”, ressaltou o major, que comandou a operação de combate.

A ação realizada em Tatuí é considerada uma das maiores em termos de mobilização de equipes já registradas pelo comando regional nos últimos meses.

Campos destacou que somente por receber apoio é que as equipes conseguiram controlar as chamas sem que elas tomassem maiores proporções.

Os bombeiros tinham a preocupação de conter o fogo antes que ele pudesse comprometer o resto do estoque.

Campos disse que eles conseguiram concluir a missão ao responderem rapidamente ao pedido de atendimento. Além dos bombeiros de serviço, a operação contou com participação do efetivo de folga do quartel do município.

“Nossos soldados se apresentaram na ocorrência para ajudar. Esse espírito foi fundamental para o sucesso. Eles se preocuparam, foram até o local e se dispuseram a atuar”, relatou o major.

O trabalho de contenção do fogo teve veículos e viaturas de Tatuí, Sorocaba e Itapetininga. Também participou da operação de combate às chamas uma equipe da brigada municipal de Capela do Alto. Ela enviou a Tatuí uma viatura de apoio.

“A viatura faz parte de uma estrutura que está sendo montada, que nós estamos ajudando e está vinculada à Defesa Civil de Capela do Alto”, explicou o major.

Parceira de longa data do Corpo de Bombeiros, a Associação Torre de Vigia também enviou brigada para auxiliar a contenção do fogo. De Boituva, vieram dois caminhões de uma empresa particular e um da Prefeitura.

Os bombeiros contaram, também, com colaboração de empresas do parque industrial e vizinhas a ele, como a ALL (América Latina Logística). Esta última permitiu a montagem de uma linha de mangueira para alimentação dos caminhões.

A empresa cedeu caixa d’água – com mais de cem mil litros de capacidade – para que os bombeiros abastecessem os caminhões de combate.

Com toda essa estrutura, mais um caminhão da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), o comando montou uma linha de “ataque”. A ação consistiu, inicialmente, no isolamento do fogo, para que ele não atingisse o barracão. Depois, os bombeiros concentraram-se em apagá-lo.

Uma das maiores preocupações da corporação dizia respeito à radiação do calor. Por conta do tipo de material, o fogo elevou a temperatura dos ambientes, o que poderia causar uma combustão dos materiais que estavam estocados.

A temperatura também dificultou o acesso dos bombeiros ao local. Mesmo com duas linhas de combate às chamas, o major explicou que os bombeiros não tiveram condições de se aproximar do fogo.

“Não estávamos conseguindo contorná-lo. Daí, foi preciso subir por cima do material estocado, para que acessássemos por trás, para pegarmos a base do incêndio”, disse.

Campos ressaltou que as equipes só conseguiram controlar as chamas por conta do apoio e pela oferta de água que receberam – das empresas e de cidades vizinhas. “Se faltasse água por dez minutos, perderíamos o incêndio”.

Por conta da gravidade da situação e do risco de incêndio em empresas no entorno, o comando empregou praticamente todos os oficiais da região no combate.

Eles atuaram diretamente no combate e gerenciamento da operação, que tinha como objetivo controlar as chamas e evitar que elas se propagassem.

O incêndio ocorrido no sábado é um dos mais graves ocorridos nos últimos meses. Recentemente, o CB registrou caso parecido em uma fábrica também de carpetes, localizada na cidade de Porto Feliz.

Nesse município, a corporação não encontrou dificuldades, uma vez que os barracões nos quais fica guardada a matéria-prima são mais amplos que os de Tatuí.

Até ontem, além do acompanhamento da retirada dos materiais danificados, os bombeiros estavam verificando a situação da empresa. “Já estávamos levantando se ela estava regular. A princípio, não”, comentou o major.

De acordo com Campos, os bombeiros notaram a falta de itens de segurança na empresa durante a ação de contenção das chamas. O major comentou que a verificação será feita pela Prefeitura com relação à documentação (alvará e licenças) e às vistorias necessárias para funcionamento.

O combate ao incêndio durou quase seis horas e terá causas investigadas. Em princípio, o major disse que a fumaça que pôde ser vista pelos moradores do entorno denotaria que o fogo “não teria começado no mato ao lado”.

Conforme ele, a cor da fumaça (preta) seria originada pela queima de resíduos de carpete e não de mato. Por essa razão, a corporação precisou utilizar água e produto químico, denominado de LGE (líquido gerador de espuma).

“Depois que fizemos o primeiro combate com água, aplicamos essa mistura numa porcentagem que ela faz com que a água tenha eficiência ainda melhor”.

O LGE pode ser usado tanto para produção de uma espuma química, propriamente dita, como para tornar a água mais eficiente no combate ao fogo.

Segundo Campos, a substância penetra melhor nos materiais e cria uma película que ajuda a abafar o fogo, impedindo que a matéria-prima volte a queimar.

Dois caminhões estilo “jamanta” – um dos bombeiros de Itapetininga e outro de Sorocaba – alimentaram o veículo utilizado para a aplicação da água com a mistura. “Nós saímos com cinco linhas de combate para o local”, contou o major.

Caminhões de grande porte, os jamantas são do mesmo modelo dos veículos empregados pelos bombeiros de São Paulo no controle de incêndio recente em Santos.

Eles são dotados de bombas de captação que possibilitam que haja pressurização mais eficiente para combate a incêndio e têm uso “mais versátil”.

Durante a ocorrência, o major afirmou que os bombeiros conseguiram superar o calor e a dificuldade do acesso por duas razões. A primeira são os equipamentos adequados (vestimenta e veículos); a segunda, pelo efetivo empregado.

Os bombeiros trabalharam com recursos de cinco municípios, mais que dobrando o efetivo da corporação na cidade. “O que poderíamos ter tido era a falta de pessoas, porque, em Tatuí, tínhamos sete homens em dia de serviço. Mas, com a ajuda da região, nosso efetivo aumentou”, enfatizou.

Campos frisou que as cidades envolvidas atuaram da mesma maneira que o subgrupamento de Tatuí. Segundo ele, o município, costumeiramente, envia homens para atender acidentes, resgates ou socorros a pessoas nos municípios vizinhos.

Nessa situação do sábado passado, Tatuí necessitou de ajuda. “Naquele momento, todo nosso recurso local não era suficiente. Então, as pessoas e as autoridades precisam entender que todos fazemos parte de um sistema de emergência. E que, nele, os homens são remanejados de forma coordenada”, concluiu.