Da reportagem
Desde terça-feira, 26, o Museu Histórico “Paulo Setúbal”, da prefeitura de Tatuí, recebe a exposição “Benê, o Flautista”, do compositor tatuiano Paulo Flores, realizada a partir de projeto da Associação Brasil Cultural.
A exibição homenageia o centenário da Semana da Arte Moderna, que ocorreu em São Paulo, no Theatro Municipal, entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922 e foi o marco de fundação do modernismo (movimento artístico e cultural que, no geral, buscava uma renovação nas artes) no Brasil.
Naquela semana, o festival reuniu artistas brasileiros e estrangeiros, que se inspiravam nas grandes vanguardas europeias (futurismo, cubismo, dadaísmo, surrealismo e expressionismo) e faziam sua interpretação com elementos da cultura do Brasil, propondo algo “inovador” na arte nacional.
O evento contou com diversas manifestações artístico-culturais, como apresentações musicais, recitais de poesias, exposições de obras e palestras, com destaque para as críticas ao modelo parnasiano e ao academicismo, duas das correntes artísticas que dominavam a cultura no país.
Ainda em decorrência ao festival de 1922, posteriormente, no começo da década de 30, a música popular e o rádio brasileiro viveram sua “época de ouro”.
As melodias, graças à valorização da cultura brasileira, marcaram o crescimento do samba, das marchinhas, da música caipira, nordestina, entre outras. O rádio, sob o governo de Getúlio Vargas, tornou-se o principal veículo de comunicação de massa do país naquele período.
O samba, por exemplo, até esse momento, sofria preconceito e repressão policial, ao ponto de os sambistas serem presos apenas por segurarem seus pandeiros em via pública. O percussionista “João da Baiana”, por exemplo, foi um “frequentador” da cadeia na época.
Em 1908, foi vítima de uma blitz policial e teve seu pandeiro apreendido, o que não permitiu que ele se apresentasse em uma festa em que o senador Pinheiro Machado estava presente.
O senador, ao tomar ciência do ocorrido, resolveu presentear o músico com um novo pandeiro, com a dedicatória: “Com minha admiração ao João da Baiana – Pinheiro Machado”. Essa história é uma das presentes no box da exposição.
Em contraponto a isso, o compositor e flautista Benedito Lacerda, que dá nome à exposição “Benê, o Flautista”, tinha em sua banda, já nessa época, cinco percussionistas.
Para Paulo Flores, inclusive, “o artista (Benedito Lacerda) é injustiçado na história da cultura brasileira, por conta de uma antiga briga com Pixinguinha (nome artístico de Alfredo da Rocha Vianna Filho), outro grande contribuinte da música brasileira”.
A mostra é dividida em dois blocos, sendo um deles no auditório, logo no primeiro piso, onde é exibido o documentário “A Linha do Tempo de Benedito Lacerda”, produzido também por Paulo Flores.
O outro, no piso superior, tem quadros, frases e pequenas biografias dos artistas retratados, como Carmem Miranda, Dino 7 Cordas e Benedito Lacerda, estampando as paredes do museu.
Segundo Flores, um dos principais objetivos da exposição é “fazer com que quem vá prestigiar faça uma coisa que, por mais absurdo que pareça nos dias atuais, é algo bastante incomum no Brasil, principalmente em se tratando de cultura, que é pensar ‘fora da caixinha’”.
Ainda segundo o artista, “é importante mostrar aos jovens o auge e a independência que a cultura brasileira viveu na década de 20, além de debater como tudo isso acabou e, hoje, o que restou é totalmente o contrário do que os artistas buscavam cem anos atrás. Inclusive, com o atual governo fazendo de tudo para que piore ainda mais”, observou Flores.
A mostra faz parte do projeto pessoal do artista intitulado “Movimento Sem Tela”, com o qual, durante a pandemia, ele fez a arte brasileira “invadir virtualmente museus mundo afora”. O trabalho pode ser encontrado através do site http://movimentosemtela.pauloeflores.com, que também conta com o conteúdo multimídia da exposição.
Pelo site, ainda pode-se obter, pagando apenas o frete do envio, o box “Benê, o Flautista”, que conta com quatro CDs, com músicas resgatadas e remasterizadas de Benedito Lacerda, da sua dupla com Pixinguinha e seus sambas, incluindo até apresentações ao vivo em programas de rádio. Todas as bibliotecas das escolas municipais receberão um exemplar desse box.
A mostra fica em cartaz por dois meses, até 26 de junho, de terça-feira a domingo, das 9h às 17h, com entrada gratuita no museu, localizado na praça Manoel Guedes, centro. Os agendamentos devem ser realizados pelo e-mail museupaulosetubal@gmail.com.
O projeto “Benê, o Flautista”, de Paulo Flores, recebeu recursos por meio do edital de cultura 02/2021, da Lei Aldir Blanc (LAB), e conta com apoio cultural da prefeitura de Tatuí.