O município de Tatuí está em vias de se tornar o segundo a contar com simulador de voo à vela. O equipamento que terá dois cockpits – um para atender a piloto e instrutor e outro para quem já possui brevê – está sendo desenvolvido pelo Aeroclube de Tatuí.
A entidade tem o projeto como uma das novidades para o ano, conforme antecipou Alexandre Simões de Almeida. Segundo ele, a inclusão do simulador trará resultados diversos, sendo o principal o barateamento do curso da formação.
Eleito presidente do Aeroclube em 2017, Almeida permanecerá na função até o fim deste ano. No período, ele programa uma série de ações.
As iniciativas se dividem em manutenção das aeronaves pertencentes à entidade, à destinação delas para a prática do voo à vela como esporte e a eventos. Pelo menos um – considerado inédito no país – está sendo planejado.
Para as atividades, a diretoria investiu na melhoria da infraestrutura da entidade. Iniciou a reforma do alojamento e da bomba de combustível que atende às aeronaves e está construindo um simulador de voo de planadores.
De acordo com Almeida, esse tipo de equipamento só é encontrado na Associação Recreativa Centro de Voo à Vela Ipuã, localizada na estrada que liga as cidades de Caçapava e Monteiro Lobato. O de Tatuí será diferenciado.
O projeto contempla a preparação de uma sala destinada à projeção de imagens de voo que simularão a atividade. Almeida explicou que os retroprojetores exibirão as imagens em uma tela ampla, como em um cinema.
O diferencial é que a dinâmica não será projetada em uma superfície plana, mas curva. “Nossa tela é cilíndrica, para termos um efeito da visão de 180 graus do piloto”, contou.
Conforme o presidente, o espaço terá duas cabines de pilotagem, conhecidas como cockpit. Ambas contarão com todos os comandos de um planador, cujos movimentos vão “alimentar o simulador”. “À medida que o aluno ou o piloto for movimentando o manche, vai vendo o que acontece na tela”, explicou.
Segundo ele, a dinâmica é a mesma dos grandes simuladores utilizados para treinamento na aviação comercial e militar. O sistema da sala de simulação do Aeroclube de Tatuí será montado a partir de software já existente.
Com o equipamento, o custo da formação deve cair. Almeida estima que haverá barateamento no treinamento dos pilotos, uma vez que o voo de simulador sai bem mais em conta que o voo prático. “São duas vantagens: vamos baratear e vamos permitir que, mesmo em dias de chuva, as pessoas voem”.
Outro efeito é que o uso do simulador poderá encurtar o prazo da formação dos pilotos de planadores, ou de um eventual aperfeiçoamento. Isso porque os alunos precisam cumprir determinado número de voos para obter o brevê, o que confere a autorização para pilotar determinada aeronave.
Em geral, o presidente explicou que os alunos voam mais que o exigido, para ganhar mais segurança, até a obtenção do brevê e, portanto, demoram mais para cumprir as exigências.
A partir do simulador, o total de aulas práticas deverá ficar no mínimo, ou um pouco mais que isso. “Vamos treinar o aluno antecipadamente para que ele, com o mínimo, já consiga brevetar”, informou.
Almeida ressaltou que os benefícios serão estendidos mesmo a quem não é piloto, mas tem curiosidade em conhecer como funciona o voo à vela. “Quem não consegue pagar o voo em si poderá pagar pelo menos o simulador”, observou.
O presidente argumentou que os simuladores terão a função de serem atrativos. A pretensão da diretoria é de expandir a presença do aeroclube na cidade, por meio de eventos que visem à divulgação e à prática de voo à vela.
A nova sala de simulação – a ser inaugurada ainda este ano – não implicará em mudanças na formação dos pilotos de planadores. Pelo menos, não na estrutura do curso.
Almeida explicou que os instrutores não vão reduzir o número de aulas práticas, mas apenas adicionar as com os simuladores para aprimoramento.
“A legislação não permite (mudanças). O que nós vamos fazer é manter os voos mínimos e acrescentar os proporcionados pela dinâmica dos simuladores”, ressaltou.
O projeto começou a ser desenvolvido no final de 2017 e, no momento, está a cargo de um dos diretores do aeroclube. Ele reside em Botucatu e trabalha, atualmente, na implantação dos instrumentos e dos sensores junto aos cockpits.
Uma vez concluída a etapa de montagem, as duas cabines serão integradas à sala de simulação. O passo seguinte será a instalação dos retroprojetores, dos computadores e dos aparelhos de ar-condicionado. A sala já está pintada e pronta para receber as cabines. Elas terão uso intercambiável (uma por vez).
“Provavelmente, os próximos bolsistas do projeto Voa SP II (a serem admitidos no aeroclube) já serão incluídos para usar o equipamento”, cogitou Almeida.
A ideia de construir o simulador partiu de intercâmbio realizado ainda em 2017 entre os instrutores de Tatuí e os do Centro de Voo à Vela de Ipuã. O grupo do aeroclube da cidade esteve em Caçapava para aperfeiçoamento.
“Conversando com a equipe de lá, verificamos que uma sala de simulação dava uma diferença e tanto no treinamento e resolvemos partir para nosso projeto”, disse o presidente.
A meta da diretoria da entidade tatuiana é de construir um equipamento “melhor” que o de Caçapava. Para isso, decidiu fazer a área de projeção curva, com 180 graus, e não a dividir em três telas planas.
Para a ambientação, o espaço precisou ter projeto de iluminação que priorizasse a projeção. O objetivo é conferir a quem senta no cockpit a mesma sensação que um piloto ou instrutor tem quando faz o voo real de planador.
“Parece com um cinema, mas o aluno terá a sensação real e conseguirá, com base no que é projetado, julgar se está na hora certa de entrar na pista para pouso”.
As cabines serão dotadas de toda a aviônica (instrumental eletrônico) que os cockpits dos planadores possuem. Elas contarão com manche, freio e demais instrumentos usados na prática do voo.
O sistema de equipamentos controladores está a cargo de um engenheiro da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A.), um conglomerado responsável pela fabricação de aviões militares, comerciais, executivos e agrícolas.
Em um primeiro momento, Almeida informou que as cabines não contarão com simuladores de movimento. Conforme o presidente, a novidade poderá ser incluída em longo prazo. No entanto, mesmo não se movimentando (para cima, baixo e os lados), os cockpits permitirão a imersão para quem usá-los.
“O que o aluno fizer na cabine vai ver refletido na tela. O cenário vai mexer, como aconteceria em ambiente real. Além disso, a maioria dos simuladores é estática. Os que se movimentam são de tripulação dedicada”, disse o presidente.
Na utilização do simulador, o manche e o pedal estarão ligados a potenciômetros, que, por sua vez, converterão os movimentos mecânicos em sinais de computador. O resultado será visto em tempo real, na tela, por meio do simulador.
A interface será a do software Condor, popular e indicado como simulador de voo de planador. “Ele é um programa específico, para computador”, informou Almeida.
Esse mesmo aplicativo será utilizado para os dois modelos de cabines. Almeida apontou que os cockpits estão sendo preparados concomitantemente e ficarão prontos de uma vez só. O primeiro será utilizado para simular voos com instrutor e aluno e o segundo, com um piloto, para quem já possui brevê.
As cabines contarão com sistema de engate, que possibilitará a substituição dos modelos para uma ou outra aula, dependendo da necessidade da formação. Dessa maneira, a equipe evita ter de realizar novos ajustes de posicionamento dos cockpits para uma perfeita projeção das imagens.
O investimento total é de R$ 20 mil, com o maior custo para o projetor. Esse equipamento precisa ser capaz de suportar as horas de voo sem queimar lâmpadas.