A retórica de que, na atualidade, “tudo mudou”, de que, “antes”, as pessoas eram diferentes, não passa disso mesmo: retórica. Ao menos com relação a muitos aspectos e situações.
Isso não é necessariamente negativo, vez que muita coisa não precisa mudar, embora outras, sim. Uma interessante reflexão a respeito pode partir de duas publicações recentes em O Progresso, uma enfocando o já quase centenário e admirável Simeão José Sobral e outra, uma pesquisa sobre as motivações dos jovens que se agrupam nas praças centrais.
Óbvio: já de “cara e coroa” (com o perdão da expressão, doutor!), fica evidente a “eterna” busca da juventude pelo amor, por mais brega que isto possa soar, nos tais “dias de hoje”…
Em entrevista para a coluna “A Voz do Voss” – retomada no jornal após algumas décadas -, o advogado mais benquisto da cidade lembrou que, “naquele tempo”, “a infância era diferente, porque era muito limitado o que nós tínhamos a fazer”. “Não existia piscina, clube de atletismo. Não existia quase nada. De maneira que a nossa brincadeira era jogar pião, bolinha de gude, brincar de sela e de ‘mocinho e bandido’”, contou.
“Mas, já se dançava um pouco naquele tempo. Havia vários clubes sociais: o Tatuiense, o Recreativo, o Operário, o Clube dos 13. Então, nós tínhamos onde esticar as pernas”, acrescentou.
E, claro, lembrou-se das praças, as mesmas que, hoje, ainda recebem a juventude: “A (Matriz) tinha um coreto e, em torno, ruas para a gente circular. A primeira era do pessoal mais importante, digamos assim; a segunda, para outra classe de pessoas; e a terceira, era livre”.
“A gente girava ali. Ficava parado, vendo as moças também passarem, e ali aconteceu muito namoro, muito casamento”.
“Já o Cine São Martinho era um dos pouquíssimos divertimentos da cidade. Quem saía do cinema ia para o jardim, ou, então, do jardim para o São Martinho. E, depois, íamos dançar nos nossos clubes. Disso eu tenho uma saudade louca, viu?”
Claro, doutor, todos temos muitas saudades de nossa juventude, como terão, no futuro, esses jovens que vão para as ruas e praças em busca de algo para fazer, mas, especialmente, à procura de alguém – ainda e sempre.
E justamente essa motivação foi identificada em pesquisa e divulgada em outra reportagem. Realizada pelo Departamento Municipal de Bem-Estar Social e Cidadania, ela revelou o perfil dos jovens que frequentam as praças centrais da cidade.
O setor divulgou os resultados preliminares no fim do mês, tabulados com base em entrevistas junto a um total de cem indivíduos. Conforme a apuração, o “público” das praças é composto por jovens das classes sociais baixa e média, de ambos os sexos, os quais procuram encontrar amigos e estão em busca de possíveis relacionamentos – como seus pais, avós…
O movimento de menores e jovens nas praças da Matriz, Martinho Guedes (“Santa”), Manoel Guedes (“Museu”) e Paulo Setúbal (“Barão”) é mais constante às sextas-feiras e aos sábados. As idades dos frequentadores variam conforme a noite.
De acordo com a pesquisa, a maioria das pessoas que vai até os locais às sextas-feiras tem menos de 18 anos. Aos sábados, o número maior é de adultos.
“Os entrevistados, de maneira geral, disseram que gostariam de ser ouvidos e compreendidos pela sociedade”, disse o diretor do departamento, Alessandro Bosso.
Segundo ele, o setor prosseguirá com o trabalho de abordagem nos próximos finais de semana. A meta é coletar “o maior número possível de informações com a finalidade de tornar o ambiente (as praças) mais atrativo aos jovens”.
Outro objetivo é reforçar o combate ao uso de álcool e drogas, por conta de operações como as realizadas nos dias 14 e 15 de maio. A medida é uma ação integrada e que tem como finalidade orientar adolescentes e jovens.
Durante as ações, o departamento realizou um mapeamento do perfil dos frequentadores. A pesquisa de campo buscava coletar informações como idade, sexo e bairro. Incluiu, também, perguntas sobre hábitos.
“Por que os jovens se deslocam até as praças centrais? O que falta no bairro ou na região onde moram? Quais as atividades que eles gostariam de ter nas praças? Foram questões apresentadas durante o nosso trabalho”, contou Bosso.
As forças de segurança e o Executivo iniciaram atividades específicas no centro após um caso de espancamento que envolveu cerca de cem pessoas. A briga começou na Praça da Santa, passando pela Matriz e terminando na Praça do Museu.
Como se comprova, pouco mudou – pelo menos em relação à postura e aos anseios dos “seres humanos jovens”: eles continuam a brigar, eventualmente; a buscar “o que fazer”; a se entreter com o que lhes é oferecido e possível; a se perder com drogas, também eventualmente; mas, principalmente, a buscar companhia.
Se a infraestrutura destinada aos jovens sempre precisa melhorar, se as opções de esporte, lazer e cultura devem avançar com o tempo, algo jamais deve mudar ou se perder, um anseio compartilhado pelo mestre Simeão e pela molecada de hoje: a eterna busca pela amizade e pelo amor!