Da bola para o microfone

Em 1972, a minha banda The Johnnies parou. O pessoal foi estudar fora: o Dirceu se mudou para Piracicaba; o Didi foi trabalhar na Ford, em São Paulo; e o Zé Emílio viajou para Mogi das Cruzes.

Eu fui convidado para cantar com o Og Vasconcelos e o New Sound Six, em Cesário Lange. E lá, nessa época, conheci um cara que era bom de bola e muito ágil com os pés. Seu nome: Jorginho Fakri.

Em 1980, formei-me em direito e fui trabalhar como advogado. Trabalhei ao lado dos meus amigos, doutores João José Mendes de Oliveira (Jota) e Oswaldo Vieira de Camargo (Dado). E, por outras circunstâncias, acabei indo morar lá.

Com a minha permanência em Cesário Lange, aproximei-me ainda mais das pessoas. Observei que o jovem bom de bola também tinha jeito com a música e o microfone. Tinha veia artística e gostava de cantar, apresentar eventos, e usava bem o microfone.

O tempo passou, ele se lançou como cantor da banda New Memory e tomou gosto pela música country americana. Iniciou uma carreira bem estruturada nesse estilo, já tendo gravado mais de oito CDs da série “Country World”, além de CDs sertanejos e álbuns com músicas religiosas.

Ele faz tudo isso por amor à arte e como terapia. Seu nome artístico é uma homenagem à sua cidade natal, onde reside com as três Anas: Ana Paula, a esposa; Ana Laura e Ana Carolina, as filhas.

Com vocês, um pouco da trajetória de George Lange – “The Country Singer” (O Cantor Country).

Nome completo, o nome de batismo.

Jorge Antonio Fakri.

Nasceu onde, dia, mês e ano?

Jorge Fakri – Cesário Lange, em 29 de outubro de 1958.

Você tentou a carreira de jogador? Como foi essa trajetória?

Jorge Fakri – Continuo como centroavante, esperando sobrar uma bolinha para driblar o goleiro e jogar dentro da rede. Eu tentei a carreira. Cheguei a jogar no São Bento, de Sorocaba. Depois, desisti, porque, naquele tempo, era muito difícil. Era preciso viajar para Sorocaba, e, na época, eu não tinha onde ficar.

Como trabalhava para o meu pai, resolvi continuar aqui. Ia ajudando ele e jogando nos times amadores da região. Joguei em várias equipes, no Bofetense, Porangabense, União de Pereiras, São José de Cerquilho e outros que até esqueci.

No Votoran, de Boituva, fiquei por quatro anos, até que “estourei” o joelho. Aí, parei com o futebol. Ainda brinco com os amigos, num campinho society, de 15 por 30, onde não é preciso correr muito, e vou fazendo uns golzinhos.

De repente, você se lançou como cantor country. Como surgiu essa ideia, ou a vontade de ser cantor é antiga?

Jorge Fakri – Acho que não é antiga. Subi num palco para cantar quando tinha 34 anos. Antes disso, gostava de apresentar. Admirava muito um amigo de Tatuí, chamado Voss, mas, como não podia trazer sempre ele porque custava caro, lancei-me como apresentador.

Apresentava vários bailes, da Rainha da Cana e festivais de sertanejo. A ideia de cantar surgiu depois. Mas, não era, assim, profissionalmente. O artista George Lange surgiu em 2005, depois de eu ter ido ao programa do Raul Gil, levar a dupla Ed Marques e Alessandro.

Lá, conheci o Gil Duarte. Ele fazia playbacks, e eu fiquei admirado. Daí, falei para ele fazer uns playbacks para mim. Escolhi umas músicas e gravei o primeiro CD, no ano de 2005.

Os amigos gostaram e começaram a me incentivar. E continuo nessa luta até hoje. Já estamos no volume seis do álbum “Country World”, e tenho projetos até para o 12.

Como é a emoção e a responsabilidade de carregar a sua cidade natal no nome artístico George Lange?

Jorge Fakri – Quando resolvi gravar o primeiro CD, pensei em não colocar Jorge Fakri. Resolvi cantar em inglês porque, na verdade, passava vergonha cantando perto do Ed Marques e Alessandro, que, na minha opinião, é uma das melhores duplas que já vi cantar até hoje.

Mas, eu não me arriscava a cantar em português e, por isso, tive que achar um nome que se encaixasse em inglês. Aí, transformei Jorge em George, porque soa melhor.

O Lange, na realidade, não foi ideia minha. Nós fizemos uma pesquisa na Prefeitura de Tatuí, com muitos funcionários na época – inclusive, o Nivaldo e a Elaine trabalhavam lá e me deram várias sugestões.

Havia Kid George, Billy George, Willy George, George Nelson, um monte de nomes. O escolhido foi George Jhony, lembrando um pouco os Johnnies até da sua banda.

O Gil Duarte, que é meu produtor e amigo, me ligou porque teve um estalo. Ele gostou do nome, mas me perguntou se eu não gostaria de adotar o sobrenome da minha cidade. Por sinal, George Lange soa “mais gostoso”, e ficou.

Para mim, é um orgulho. E a mudança gerou até brincadeiras. O Marquinho Lange (Marcos Menezes) me disse que roubei o nome. O Craveiro (pai da dupla César e Paulinho) me falou que eu precisava entrar com um projeto para mudar o nome da cidade, porque eu tornei-me mais conhecido que o município.

Como nasceu esse gosto pela música? Você herdou do seu pai, o Toninho Abud, uma pessoa muito alegre, que tocava sanfona em qualquer lugar?

Jorge Fakri – Herdei, sim. Na realidade, ele gostava da música sertaneja, daqueles modões antigos, com Trio Parada Dura e Tonico e Tinoco. Mas, essas músicas não entravam (nas paradas de sucesso) até essa época. Até os anos 90, as músicas mais tocadas eram de bandas, como Capital Inicial, Ira! e Titãs, e de cantores como Djavan, Gal Costa e Caetano Veloso.

Não se tocava música sertaneja. E, na época do meu pai, eu não curtia. Mas, lógico que eu admirava ele. Até tentei tocar sanfona, mas não aprendi, porque é muito difícil. Na minha mão direita ia, mas na esquerda, não tinha jeito.

Você já fez várias produções musicais em CDs com duetos em inglês e português, com a dupla Alex e Gabriel. Também, com um grande músico, que acredito ser o seu mestre e maestro, o Gil Duarte. Conte-nos um pouco dos seus projetos com a dupla e novos que estão chegando.

Jorge Fakri – O Alex e Gabriel, todo mundo sabe, compunham a dupla Ed Marques e Alessandro. Infelizmente, não deu certo, eles não estão juntos. Os dois estão vivendo de música. O Edson está em Conchas; o Claudinho, em Uberlândia.

É muito difícil a possibilidade de uma união e, também, porque o tempo passa. Hoje, a realidade é outra. O estilo deles, apesar de cantarem muito bem, está ultrapassado.

A moçada quer uma coisa nova. Então, estamos com a dupla Ju Ribeiro & Rafael, que fez a festa de aniversário em Cesário Lange, da qual participaram Marcos Paulo e Marcelo, Bruninho e Davi e Michel Teló, conhecido mundialmente.

No ano passado, comemorei dez anos de George Lange. Fiz três CDs country de uma vez, porque não gravava havia quatro anos, mais um ao vivo e um DVD, também ao vivo. Este foi gravado no Pesqueiro Ellun, do Nivaldo.

Tenho no forno três CDs para este ano, com o projeto “Amor em Família” (volumes 2, 3 e 4). Ele tem músicas tanto católicas quanto evangélicas. Acho que escolhi, de novo, um repertório bom. Não é pequeno, são 45 músicas. Procurei, inclusive, várias do Roberto Carlos. E é difícil cantar Roberto Carlos.

Você vem de família católica, tradicional. Isso fez você gravar um CD com músicas católicas? Você direcionou esse projeto para sua mãe, para a qual fez uma dedicatória, ou gravou o CD focando no cenário musical religioso?

Jorge Fakri – Quando gravei o terceiro CD, recebi algumas críticas até por brincadeira de amigos. Eles falavam que eu era metido e só cantava em inglês. Aí, fiz um chamado de “Mundo Sertanejo”, o qual tenho projeto para fazer o volume dois neste ano.

Num determinado dia, minha mãe me disse que eu precisava cantar música de igreja, por conta do “encaixe da voz”. Escolhi umas músicas e gravei, em 2011, um CD que até hoje o pessoal pede nas rádios em Cesário Lange. Como não vendo CDs, distribuo a amigos, clientes e parceiros. Posso gravar a música que eu quiser e não preciso pagar nada nem direitos para ninguém.

Outro dia, vi algo sobre a dupla Fernando e Sorocaba, e que um deles usa o sobrenome Fakri. Tem parentesco?

Jorge Fakri – Sim, tem parentesco. O avô do Sorocaba é o Nelson Fakri, que, inclusive, teve haras em Porangaba por muitos anos. A mãe do Sorocaba é filha do Nelson. O Nelson é irmão do meu avô, o Abud Fakri. O parentesco vem lá de trás.

Nós nos cruzamos num programa de televisão em Sorocaba, quando eu acompanhava o Alex, da dupla Ed Marques e Alessandro. Ele me falou que havia formado uma dupla, mas, até então, não era famoso. Ele morava em São Paulo e viu que eu também gostava muito disso. De lá para cá, nunca mais perdemos contato.

Tenho, inclusive, uma história até engraçada para contar. Investi no Ed Marques e Alessandro. Investimos eu, Marly Marley (atriz falecida em 2014) e meu primo Ademarzinho. Eu saí, eles ficaram. A dupla não deu certo, e eu perdi o que investi.

Passado um ano, o Sorocaba me convidou para ir investir num rapaz chamado “O Gurizinho”. Mas, se eu falasse para minha mulher que iria por mais dinheiro em artista, ela largava de mim. Esse gurizinho é hoje o Luan Santana.

Seus CDs são muito bem gravados, mixados e produzidos. Você espera fazer sucesso ou tudo isso é uma terapia, um hobby na sua vida?

Jorge Fakri – Não, Voss, é só terapia e hobby. Já sou mais famoso do que pretendia. Não quero mais do que eu já tenho. Isso me diverte, desestressa.

Eu brinco, converso comigo mesmo no telão em um show. O diálogo é entre o Jorge Fakri e o George Lange. O Lange quer tirar dinheiro do Fakri para produzir os trabalhos, mas o Fakri quer cortar investimentos, porque não ganha nada.

Mesmo com essas brincadeiras, acabamos vendendo vários shows do George Lange. Eu lembro que fizemos um em Novo Horizonte. Eles tinham R$ 10 mil de verba e nos pagaram. O dinheiro deu para custear a banda, mas eu gastei R$ 15 mil em produção.

Jorge, você tem uma linha direta com a música country. Você acredita que ela precisava ter mais espaços nas rádios FM do Brasil e da nossa região?

Jorge Fakri – Com certeza, porque não tem mais música country. Aqui no Brasil, quem entrou, entrou nos anos 90: o Alan Jackson, Garth Brooks, Shania Twain, mais um ou outro.

Nos Estados Unidos, até hoje, a música mais forte é a country. Só que tem lá outros cantores que entram pouco no Brasil, como Blake Shelton, Keith Urban. Tenho um DVD de Kenny Chesney, que ninguém conhece no Brasil, um cantor que lota estádio com 200 mil pessoas, mas aqui não tem divulgação.

Nossa região tem uma pegada para rodeio, você poderia abrir mais espaço para mostrar seu trabalho. Acha que isso é possível, ou complicado?

Jorge Fakri – Prefiro que o Ju Ribeiro e Rafael façam sucesso. A dupla é muito boa e já tem músicas próprias. Os cantores gravaram um CD com 12 músicas. Dessas, oito podem ser sucesso. Posso participar com eles, mas, sozinho, subir num palco de rodeio, não tenho esse anseio.

Cite músicas ou cantores e cantoras que você acha que são o ‘top’ e influencia para você na música country.

Jorge Fakri – Com certeza, Shania Twain, que é maravilhosa. Tem o Garth Brooks, que tinha parado e depois voltou; o Alan Jackson, fora do comum; George Strait, Clint Black, John Michael Montgomery e Blake Shelton.

Para encerrarmos, quero agradecer você pela humildade. Você sempre leva para muitas festas country, ou para encontros de motos, muita musica e alegria. Faz isso de forma graciosa, paga do bolso, sem cobrar cachê. Que Deus continue abençoando você para que consiga levar a música e fazer esse “Country World” e o nosso “world” mais alegre.

Jorge Fakri – Falo para todos que têm sonho de ser artista que continuem acreditando nesse sonho. Uma hora pode acontecer, pode dar certo. Muitas portas vão se fechar.

Falo para todos que façam o que sentirem vontade de fazer, mesmo que tenha quem critique, quem possa, até mesmo, tirar sarro. Não tem problema nenhum.

Sempre que você estiver fazendo de coração, vai ter muita gente que vai gostar, te elogiar, e isso aí impulsiona para continuar fazendo, cada vez mais, aquilo que se gosta. Nós só somos felizes sendo nós mesmos. Não adianta querermos ser o que outros querem que sejamos. Você tem que ser você mesmo.

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