Cristiano Mota
Quarteto apresentou músicas do cancioneiro popular e abriu exposição que reúne acervo de 8 cidades
Resultado de projeto de modernização dos museus paulistas, a mostra “Sinais – Heranças e Andanças” é considerada ação inédita no Estado de São Paulo. Composta por acervos de oito espaços culturais, ela teve abertura em Tatuí na noite de segunda-feira, 15. O evento contou com apresentação do Quarteto Abayomi, autoridades locais e das cidades participantes.
A exposição está aberta no Museu Histórico “Paulo Setúbal” até o dia 1º de março de 2015. Composta por três espaços, a mostra produzida com curadoria coletiva apresenta o sincretismo do sudoeste paulista, conforme Raquel Fayad.
Coordenadora do museu de Tatuí, a artista plástica encabeçou o projeto com apoio da Prefeitura e do diretor do Departamento Municipal de Cultura e Desenvolvimento Turístico, Jorge Rizek. Os dois receberam os convidados para a abertura da exposição que contém peças de acervos diversos, fotografias, projeções com recortes históricos e mural para expressão do público.
Na abertura, o Abayomi apresentou músicas do cancioneiro popular, como “Tristeza do Jeca”, de Angelino de Oliveira, “Delicado”, de Waldir Azevedo, e “Vide Vida Marvada”, de Rolando Boldrin. O quarteto é formado por Adriano Paes, Marcelly Rosa, Juliana Oliveira e Josiane Gonçalves.
Em solenidade, Raquel destacou que a participação do grupo representou um “encontro feliz” entre música e cultura. A coordenadora citou que o quarteto tatuiano trabalha com pesquisa regional, também mote da exposição.
Para a coordenadora da UPPM (Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico), da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, Renata Vieira da Motta, a mostra atende a uma das “mais importantes atuações da pasta”.
“A secretaria tem pautado suas ações em parcerias e responsabilidades compartilhadas. Esse projeto, em sua essência, é isso: parceria entre o museu de Tatuí, a Prefeitura e os espaços culturais das demais cidades”, declarou.
O diretor técnico do Sisem (Sistema Estadual de Museus de São Paulo), Davi Kaseker, explicou que a mostra nasceu de uma demanda do Sisem. O órgão se divide em regiões administrativas e propôs para seus representantes a discussão de uma iniciativa que propiciasse parcerias regionais.
“Esse grupo (da região de Sorocaba, na qual Tatuí está inserida) comprou a ideia mais que todos os outros”, afirmou Kaseker. De acordo com ele, as discussões em torno de uma ação de parceria estão acontecendo “há mais de dois anos”.
Em todas elas, o diretor disse que a pergunta recorrente era sobre a identidade da região sudoeste. “Esse foi um desafio muito intensivamente discutido. Até que surgiu oportunidade, numa das linhas de ação do Sisem, de contemplarmos essa ideia com projeto de curadoria coletiva”, detalhou Kaseker.
Partindo da “vontade da região de discutir sua identidade”, o Sisem propôs a realização de exposição itinerante com acervos distintos. Depois de Tatuí, ela passará por Botucatu, Itapeva, Pratânia, Piraju, São Manoel, Votorantim e Salto.
A mostra é resultado de curadoria coletiva entre os museus da região, sob orientação da Homens de Saia. O Sisem contratou a empresa de produção cultural para se tornar “o fio condutor” do processo de concepção e realização.
Kaseker citou que houve adesão maciça dos representantes dos museus e que o trabalho demandou todo o segundo semestre do ano. Para realizar a exposição, as equipes participaram de “intensas reuniões e visitas técnicas”. “Tudo foi democraticamente compartilhado e as ideias concebidas, discutidas”, disse.
Seguindo a diretriz da secretaria, os museus chegaram ao formato de “Sinais – Heranças e Andanças” numa ação que une três vertentes. A primeira é a articulação, com a participação dos representantes dos museus; a segunda, a qualificação dos profissionais envolvidos; e, a terceira, a comunicação.
Apresentado em Tatuí, o resultado inédito encerra a programação cultural do município, conforme declarou Rizek. Segundo ele, a mostra itinerante é considerada de grande importância porque fortalece e “rejuvenesce” os museus paulistas.
“Estamos sempre abertos para novos projetos, novas ideias e Tatuí só tem a agradecer por ser a primeira cidade desse circuito”, destacou o diretor de Cultura.
Membro do grupo técnico de coordenação do Sisem, Luiz Fernando Misukami afirmou que Tatuí surgiu como pioneiro de “forma natural”. Também afirmou que o projeto fortalece a articulação regional e que a primeira cidade a abrigar a exposição foi escolhida por conta do “protagonismo” de Raquel e por conta da localização geográfica no Estado de São Paulo.
“Por meio da entrada da Raquel na representação regional, ela acabou capitaneando isso para Tatuí. Além disso, a cidade é um ponto central para o projeto. Ela oferece mais facilidade de acesso por parte dos outros municípios”, disse.
A mostra aberta em Tatuí é dividida em três partes. Na primeira, há uma referência ao “gabinete de curiosidades”. Esse exibe peças do acervo do museu de Tatuí com objetos que retratavam cotidiano dos tatuianos. “A ideia é fazemos uma referência dos objetos que hoje integram o nosso acervo, mas que, antigamente, eram peça de uso comum”, explicou a coordenadora.
A segunda parte traz objetos que fazem referência a território e a influências, como as indígenas e as dos tropeiros (com o tropeirismo). Também apresenta história de migração e das fábricas. “Dentro de tudo isso, temos as festas e os eventos que acontecem na região”, emendou Raquel.
O público também confere depoimentos gravados anteriormente e que são exibidos em uma televisão. A coordenadora contou que novas declarações serão incorporadas ao acervo. “Nós pedimos que os visitantes dos museus nos quais a exposição será montada sinalizem suas passagens com opiniões”, disse.
A proposta é que, ao final, o Sisem tenha o depoimento dos moradores de todas as cidades participantes. A mostra também conta com espaço de interatividade que terá material incorporado ao final da série de exposições. Em cada museu serão instalados painéis para que o público possa deixar uma mensagem.
Os objetos, fotografias e vídeos constantes da exposição são considerados parte da referência das histórias dos municípios participantes. Também sinalizam para a realização de outras mostras, mas mais direcionadas, como uma só para a divulgação da cultura indígena, outra sobre tropeirismo, uma terceira a respeito de industrialização e uma última com a história da industrialização.
Em todos os municípios participantes, a estrutura da mostra permanecerá a mesma. A exceção é o “gabinete de curiosidades”, que trará objetos próprios.
“Sinais – Heranças e Andanças” tem visitação de terça à sexta-feira, das 8h30 às 18h. Aos sábados, domingos e feriados, ela pode ser vista no horário das 9h às 17h.
Nesta quarta-feira, 17, a exposição não estará aberta ao público em função de visita técnica que a equipe do “Paulo Setúbal” fará ao MIS (Museu da Imagem e do Som) e ao Museu da Imigração, em São Paulo. Raquel destacou que a atividade é importante para que a equipe possa entender “para onde pode caminhar e o que pode desenvolver com relação à memória”.