O maior goleiro do Palmeiras
Sua relação com o futebol de Porangaba
Oberdan Cattani faleceu no Hospital do Servidor Público em São Paulo na noite de sexta-feira, 20 de junho, em decorrência de complicações cardíacas causadas por uma pneumonia. Tinha completado 95 anos de idade.
Último remanescente da época em que o clube paulista ainda se chamava Palestra Itália, o lendário goleiro palmeirense receberia um busto em sua homenagem neste mês, no ano do centenário da agremiação, na sede social do clube.
“Receber um busto me deixa muito feliz porque é uma consideração pelo que fiz por este clube. Aqui é minha casa, disse, na época”.
Foi o último jogador que atuou pelos dois clubes – Palestra Itália e Palmeiras. Com ele, o time alviverde conquistou a Copa Rio, de 1951, os campeonatos paulistas de 1942, 1944, 1947 e 1950 e o Torneio Rio-São Paulo, de 1951.
O atleta atuou, ainda, pela seleção paulista e brasileira. Como fato histórico, é preciso destacar sua participação no primeiro jogo do time, já com o nome alterado para Palmeiras, no dia 20 de setembro de 1942, quando o alviverde venceu o São Paulo Futebol Clube por 3 a 1 e conquistou o título paulista.
A raiz italiana fez o antigo Palestra Itália sofrer forte pressão do governo federal para mudar a denominação em virtude da Segunda Guerra Mundial. Surgiu, então, a Sociedade Esportiva Palmeiras.
Oberdan Cattani nasceu em Sorocaba no dia 12 de junho de 1919. Residiu em Tatuí por algum tempo e jogou no Operário Futebol Clube. Dali, voltou para Sorocaba onde trabalhou como motorista de caminhão e, então, jogou no Clube Fortaleza (1938), transferindo-se depois para o Esporte Clube São Bento (1939/1940).
A partir daí, fez testes no clube paulista e foi contratado pelo Palestra Itália. No clube do Parque Antártica atuou durante 14 anos. Entrou para a história da agremiação como o melhor goleiro de todos os tempos. Disputou 347 partidas com a camisa alviverde.
Encerrou sua carreira no Juventus de São Paulo no ano de 1956. Defendeu a seleção paulista e brasileira. Foi campeão paulista pelo Palmeiras nos anos de 1942, 1944, 1947 e 1950. Também foi campeão da Copa Rio disputada em 1951 e campeão brasileiro em 1941 e 1942 pela seleção paulista.
Com seu jeitão simples e pacato, bem ao estilo do homem simples do interior, ele se transformava quando entrava em campo. Era atlético e ágil. Viveu o futebol como se vive um grande amor. Com mãos grandes e firmes, tinha ótima colocação, elasticidade e, com 1,85 metro de altura, fechava o gol deixando pouco espaço para os atacantes.
Relação com Porangaba
Em 2006, estivemos no Parque Antártica para conhecê-lo pessoalmente e, também, para esclarecer um fato nebuloso que ligava esse extraordinário jogador à história do futebol de Porangaba. Era, na verdade, um assunto muito comentado por aqui, principalmente na minha infância e que envolvia o nosso principal clube – o Esporte Clube Porangabense e o saudoso goleiro.
Contavam os moradores mais antigos que o “time” local era imbatível na região e, no final dos anos 30 do século passado, convencidos dessa hegemonia regional, os diretores, comandados pelo médico Aniz Boneder, decidiram desafiar o São Bento de Sorocaba para uma partida amistosa. O jogo foi realizado naquela cidade.
O que aconteceu, então? Levamos uma sonora goleada: perdemos “somente” de 13 a 1, mas algo extraordinário aconteceu nessa partida. Conseguimos marcar um gol no famoso goleiro do São Bento, que era nada mais, nada menos que Oberdan Cattani, que em pouco tempo se tornou no maior goleiro do futebol brasileiro.
Era o que bastava. O nosso goleador foi o porangabense Roque Soares de Almeida (na época exercia a profissão de padeiro e, depois, tornou-se músico de destaque e renomado maestro). Passou a ser o nosso herói. Afinal, ele havia feito o gol de honra no Oberdan.
Foi a “derrota” que mais repercutiu por aqui e se transformou em vitória, um feito incomparável para o futebol local. A acachapante goleada, pela diferença de forças, foi recebida como vitória, justamente pelo gol solitário feito no grande goleiro.
Ele nos recebeu cordialmente, mostrou-se bastante grato pela lembrança de seu nome, mas, infelizmente, considerando o tempo decorrido e o grande número de jogos que participou em toda carreira, não se lembrava claramente do fato. Mas, com muito respeito, enfatizei que “os porangabenses, até hoje, comentam e se orgulham desse feito”.
Oberdan estreou na Seleção Brasileira em 1944, enfrentando os uruguaios em duas partidas nas quais goleamos por 6 a 1 e 4 a 0. Também disputou o campeonato sulamericano de1945 formando em uma seleção de grandes craques como Domingos da Guia, Jair, Danilo, Ademir, Tesourinha, Heleno de Freitas e outros.
Jogou nove vezes pela seleção brasileira. Mesmo depois que deixou o futebol, continuava visitando o Parque Antártica como se fosse sua casa. Lá criou raízes e conheceu as coisas do Palmeiras como poucos. Viveu as grandes emoções do futebol com a camisa alviverde.
À Família Cattani, expressamos os nossos sentimentos de pesar em nome dos esportistas porangabenses.
Júlio Manoel Domingues