Menstruação: mitos, verdades e ciência

Dra. Márcia Mendonça Carneiro (Foto: Divulgação)
Dra. Márcia Mendonça Carneiro

Há inúmeros mitos sobre a menstruação e é hora de desmistifica-los. A revista Nature Epidemiology pediu a 6 pesquisadores de todo o mundo que escrevessem sobre sua perspectiva sobre o tema, incluindo crenças sobre alimentação, humor, sangramento e dor. Os pontos destacados no artigo incluem lacunas no conhecimento científico sobre a menstruação, conceitos equivocados, tradições e a dor causada pela nossa ignorância coletiva e pelas normas sociais e culturais existentes.

A menstruação é um evento universal na população feminina que se manifesta externamente por sangramento genital a intervalos regulares que, permanece cercada de mitos não fundamentados cientificamente e associada ao sofrimento. O sangramento mensal resulta de eventos hormonais orquestrados vitais para o ciclo reprodutivo feminino e se acompanha de inúmeros sinais e sintomas físicos e psíquicos tais como inchaço, cansaço, dor nas pernas, irritabilidade e cólicas entre outros.

Estima-se que 40 a 80% das mulheres são acometidas de sintomas pré-menstruais, que podem variar de leves a graves e que compõem a famigerada síndrome da tensão pré-menstrual (TPM). Felizmente estes sintomas são limitados e desaparecem após o término da menstruação, mas comprometem a qualidade de vida da mulher. A avaliação médica é crucial para afastar doenças como hipotireoidismo, depressão e endometriose.

As cólicas menstruais atingem 15 a 50% das mulheres jovens, e podem ocorrer em associação com outros sintomas: náuseas, vômitos, cansaço, tontura, dor de cabeça entre outros. Cólicas intensas, persistentes o que pioram com o tempo e que interferem na vida da mulher não são normais e a avaliação médica nestes casos é crucial. É preciso frisar que uma mulher ficar sentindo dor não é normal!  Outros pontos relevantes discutidos no artigo incluem a necessidade de entender melhor os fenômenos associados à menstruação, educar e desmistificar conceitos assim como focar em maneiras de melhorar a saúde das mulheres.

A endometriose é uma doença benigna que acomete cerca de 10% das mulheres jovens e se manifesta por dor pélvica e infertilidade. Estudos revelam que há um atraso no diagnóstico da doença que pode variar entre 5 e 12 anos (4 a 7 anos no Brasil). Um dos motivos por este atraso é a “normalização da dor”. Cerca de 61% das mulheres com endometriose escutou de um médico, inclusive de seus ginecologistas que não havia nada de errado e que a dor seria “normal” e muitas (47%) passaram por 5 ou mais médicos até obter o diagnóstico/ tratamento adequado. Estas mulheres deveriam ser acolhidas e tratadas por equipes multidisciplinares, que infelizmente não estão disponíveis para todas.

Por que as cólicas e sintomas menstruais são negligenciados? A resposta pode ser encontrada nas próprias mulheres, nas suas famílias e nos sistemas de saúde disponíveis. Várias pesquisas relatam as razões pelas quais as mulheres normalizam a dor, consideram-na tolerável e não procuram cuidados adequados devido a: falta de recursos ou acesso a cuidados de saúde, preferência pela automedicação, falta de conhecimento, vergonha e constrangimento, bem como ausência de apoio da família.

Março é o mês da mulher e da conscientização sobre endometriose. Infelizmente, os distúrbios menstruais tem o potencial de afetar intensamente o curso de vida das mulheres com efeitos devastadores sobre sua vida profissional e pessoal.  Oferecer cuidados de saúde adequados para elas é uma questão de humanidade.

Dra. Márcia Mendonça Carneiro, Ginecologista do Biocor /Rede D’Or, professora Titular- Departamento de Ginecologia e Obstetrícia – Faculdade de Medicina da UFMG, Embaixadora da Campanha IFFS #MaisAlegria

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