Menores são espancados em briga entre 100





Três menores de 16 anos tornaram-se vítimas de violência generalizada na noite de sábado, 3. Eles se envolveram em briga iniciada na praça Martinho Guedes (“Santa”) e que se arrastou pela Praça da Matriz e terminou na Martinho Guedes (“Museu”).

Um dos adolescentes teve ferimentos na cabeça, com sangramento. O outro sofreu chutes e pontapés na região abdominal. Não há informações sobre ferimentos do terceiro menor ou de boletim de ocorrência, conforme a Polícia Militar.

No entanto, parte da violência está registrada em vídeo publicado na internet por Carlos Alberto de Campos, o Betico. Ele socorreu dois dos adolescentes agredidos.

A O Progresso, ele relatou que cruzou com um grupo de aproximadamente cem menores. O policial militar reformado passava de carro pela rua 11 de Agosto, na altura da Praça da Matriz, por volta das 22h.

Betico classificou a briga como tentativa de linchamento e afirmou que desentendimentos na região central estão se tornando comuns. “Faz tempo que os problemas estão ocorrendo, mas, coincidentemente, eu estava passando pelo local com minha namorada quando, então, pude flagrar”, disse.

Conforme ele, os confrontos ficaram mais violentos com o aumento de menores no chamado “corredor central”. Trata-se do trecho que compreende as praças da Santa e Matriz. A concentração de jovens (a maioria adolescentes) se dá nas noites de sexta-feira e sábado, com presença de maiores.

Betico disse que as brigas e o consumo de bebida alcoólica pelos adolescentes também têm aumentado. “Sempre existiu, o problema é que ninguém viu ou finge que não vê. Quando não é confusão, é menor vomitando. Eu mesmo já cheguei a levar dois para casa, para chamar os pais”, afirmou.

Para ele, o caso ocorrido na noite de sábado passado “extrapolou os limites”, uma vez que quase resultou em morte. O PM relatou que decidiu interferir na briga depois de ter percebido que havia um grande número de pessoas.

Com ajuda da namorada – que filmou a passagem das pessoas que estavam em fuga e em perseguição –, ele seguiu os envolvidos do trecho da rua 11 de Agosto até o Museu Histórico “Paulo Setúbal”. “Quando percebi a correria, resolvi ver do que se tratava”, comentou.

Em conversa com os jovens que acompanharam a briga, Betico recebeu a confirmação de que a confusão tivera início na praça Martinho Guedes. Segundo ele, a violência teria como causa outro desentendimento anterior, ocorrido no mesmo local.

“Uns 15 dias antes, houve uma briga entre grupos na qual o menor que foi agredido no dia 3 teria se reunido com outros para bater no agressor”, contou.

De acordo com ele, para a revanche, o menor que havia sido agredido juntou um grupo maior. Betico calculou a participação de mais ou menos 50 pessoas. Outras 50 teriam acompanhado o grupo para assistir ao desfecho.

“A bem da verdade, tinha mais de cem, mas muitos vão para ver no que vai dar. Como tinha mais de 50 para bater em três e eu estava perto, resolvi intervir”, disse o PM reformado. Conforme ele, o grupo de agressores estava munido com garrafas (algumas delas quebradas), canivete e pedaços de madeira.

Betico contou que conseguiu socorrer o menor que estava mais agredido. Ele colocou o jovem no veículo e levou-o para atendimento. Na sequência, voltou para o local, para ver se conseguia resgatar o segundo. “Retornei, mas não o localizei lá. Ele estava escondido em um bar, perto da Concha Acústica”.

O PM reformado afirmou que os adolescentes não quiseram ser encaminhados ao Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”. “Um deles me disse que estava preocupado com a avó, e preferiu ser levado para casa”, explicou.

Em função disso, não houve registro e comunicado da ocorrência junto à Polícia Militar e à Guarda Civil Municipal. O Conselho Tutelar também não foi acionado, mas informou que está a par dos acontecimentos.

O órgão vai realizar, nesta semana, operação em conjunto com as corporações com objetivo de evitar vulnerabilidade (reportagem nesta edição).

Um dos dois menores de 16 anos contou ao PM reformado que não tinha envolvimento com o desentendimento anterior. Conforme Betico, o adolescente explicou que tinha ido pela primeira vez à praça.

“Ele, na verdade, apanhou sem saber. Ele havia ido com os pais até o centro e, então, pedido para ir até a praça, depois de ter encontrado com um amigo”, disse o PM reformado.

O amigo dele, que também sofreu ferimentos, seria namorado de uma adolescente considerada pivô da confusão. Segundo apurado por Betico, a jovem teria se queixado do comportamento do adolescente agredido havia 15 dias e que se vingaria do namorado dela com a ajuda de amigos, na noite de sábado passado.

O PM reformado afirmou que não apartara a briga por considerar que havia risco em função do número de menores envolvidos. Ele relatou que se aproveitou de um momento de distração do grupo de agressores para retirar o jovem. “Ele estava quase desmaiado. Tirei-o dali porque iriam matá-lo”, enfatizou.

Betico disse, ainda, que brigas são consideradas corriqueiras. Na opinião dele, a situação tem se tornado insustentável por conta do aumento do número de jovens no trecho. Com isso, estaria havendo a formação de grupos diferentes.

Outro problema seria a presença de maiores de idade entre os adolescentes, facilitando consumo de álcool e entorpecentes. A situação passará a ser averiguada mais pontualmente pela PM, GCM e Conselho Tutelar a partir deste fim de semana.

Os órgãos tomaram conhecimento da situação em função da postagem feita pelo PM reformado em rede social. Betico informou que decidiu escrever sobre o ocorrido como uma forma de desabafo. No texto, ele também fala a respeito do que chamou de saída para a questão: a disponibilização de áreas de lazer.

“Fiz a crítica e dei a solução, que é, com aval do juiz da Vara da Infância e da Juventude, infiltrar guardas ou policiais civis à paisana, ou mesmo membros do Conselho Tutelar, para começar a ver quem compra bebida alcoólica para os menores”, disse o PM reformado.

Conforme ele, a informação obtida junto aos adolescentes é de que adultos estariam comprando bebida alcoólica e repassando para grupos que vão até as praças.

Betico também sugeriu que haja fiscalizações junto a supermercados e estabelecimentos. Ainda disse que seria preciso realizar operações nos espaços públicos para conter a violência entre os adolescentes.

“Não chega a ser um arrastão, mas está muito perto disso. Não garanto que, em seis meses, o problema acaba, mas, na minha época, terminaram os arrastões”, declarou.

De acordo com ele, o risco de violência não atinge somente os menores. Betico afirmou que, pela concentração e presença de pessoas de “conduta violenta” ou alteradas, é provável que qualquer um venha a ser hostilizado.

“Se alguém estiver passando de carro pelo local e um jovem esbarrar, eles podem querer moer o veículo, subir no teto e até tombá-lo no meio da rua. Se uma pessoa que não mora aqui passar por lá, há o risco de barbaridades”, disse.

O PM reformado considera que o problema não está nos jovens, mas na falta de opção de lazer. Betico afirmou que, sem locais de diversão noturna, os adolescentes acabam ficando concentrados em espaços públicos, a mercê da violência.

“Em momento algum eu discrimino os adolescentes. Na verdade, tenho pena, porque eles não têm para aonde ir”, argumentou. De acordo com ele, os menores que vão ao centro residem, praticamente, “nos quatro cantos do município”.