Meia verdade, uma mentira inteira





Um vídeo emocionante sobre o piloto Ayrton Senna tomou como vírus as redes sociais. As imagens são emocionantes, mas a mensagem é ainda mais comovente e reveladora. O ex-piloto Erik Komas traz um depoimento realmente transformador. Em 1992, durante os treinos de classificação do GP da Bélgica, ele sofreu um grave acidente e ficou desacordado. Senna abandonou a volta de classificação, parou seu carro e seguiu em direção ao acidentado. Mesmo correndo risco de vida, desligou a ignição e impediu que o fórmula 1 incendiasse. “Nesse momento, Ayrton Senna salvou minha vida”, relata emocionado o corredor. As mensagens que vêm a seguir no gerador de caracteres deveriam estar estampadas nas cabeceiras de nossas camas, para que ao levantar todos pudéssemos visualizá-las e vivenciá-las ao longo de cada dia: “Vencer faz um campeão. Cuidar faz um herói. Homenagem para o homem maior que o piloto. Porque o melhor do Ayrton não pode parar”.

Antes de ser um bom profissional, seja uma boa pessoa. A política infelizmente está carente de Ayrtons e repleta de Dicks Vigaristas, personagem celebre do desenho animado Corrida Maluca, sempre acompanhado do seu fiel escudeiro, o cão Muttley, dono de um sorriso sarcástico. Dick encarna a figura do trapaceiro, do mentiroso, que só obtém sucesso com a desgraça alheia. Aquele que só vence se todos os outros se acidentarem. O competidor que derrama óleo na pista, que sabota carros adversários, que maquiavelicamente usa os interesses pessoais acima dos coletivos, que acredita que os fins justificam os meios. O líder da turma do quanto pior melhor. Capaz de pedir que o deputado do seu partido cancele emendas, que beneficiariam sua cidade, apenas para prejudicar seu adversário político.

A principal arma desses vigaristas é a mentira, que encontra ressonância na desinformação da população que insiste em não procurar uma segunda opinião para manchetes tendenciosas. Notícia boa é notícia ruim. A oposição em Tatuí aprontou mais uma das suas. Vem incitando a população a protestar contra o projeto de lei que institui 78 cargos na estrutura pública municipal. Você, caro leitor, certamente ficaria indignado com uma manchete dessas. Eu também, caso não soubesse de toda verdade. Vamos a ela.

Dos 78 cargos, 60 são exclusivos aos servidores de carreira, devidamente concursados. Estão sendo criados para corrigir uma enorme distorção conhecida como o “Caso dos 300”, em que um vereador da cidade, reivindicando um cargo que sequer existia concedido por seu padrinho político, insistia em trabalhar em uma função na qual não foi concursado e ainda receber mais do que o previsto por lei. Essa insensatez gerou um efeito cascata no qual, por determinação da Justiça, aproximadamente 300 funcionários perderam suas funções e tiveram remunerações cortadas, 300 famílias que passaram a sofrer com sérias dificuldades financeiras. Esse projeto é a última etapa da correção para esta injustiça, esta irresponsabilidade. Mais que isso, essas funções e salários serão agora designadas por lei, com aprovação da Câmara, e não por canetada política. Resumindo: graças a essa iniciativa, esses valorosos funcionários que dedicam sua vida a cuidar da nossa cidade voltarão a receber salários compatíveis com suas atribuições e responsabilidades que exercem.

Os 18 cargos restantes são de livre nomeação, podendo ser preenchidos por funcionários de carreira ou não e também servirão para corrigir mais um erro do passado. No dia 29 de janeiro de 2010 foi editada a Lei Municipal 4.312 que criou 88 cargos de uma única vez, todos – repito, todos – de confiança. Ato, mais tarde substituídos pela Lei 4.436 de 9 de setembro também de 2010, com o mesmo número de cargos, sem necessidade de concurso para todas as secretarias. Leis declaradas inconstitucionais já em 2014. Felizmente, apenas 13% desses cargos estavam preenchidos pela atual administração, que mesmo assim foi obrigada a demitir seus ocupantes.

Tatuí tem hoje 43 cargos em comissão. A administração passada tinha 148. Isso mesmo. Hoje são 105 a menos. Hoje, contrata-se 71% menos em cargos de confiança do que no governo passado. Mesmo com a criação desses novos, seriam 61 no total, ou seja, 60% a menos. Em 2012, Tatuí tinha 11 secretarias municipais. Hoje tem oito. Não há como fugir dos números, sequer contestá-los. São dados oficiais. E se perguntar nunca ofende, quem é que economiza? Quem é que sabe gerir os recursos públicos? Quem é que tem ética ao administrar e fala a verdade à população?

Existem duas formas conhecidas de mentira: mentir a si mesmo e mentir aos outros. A primeira é um estado de sono, onde nem sequer a percebemos, enquanto a segunda envolve uma gama imensa de possibilidades, desde manter o ego massageado até a aquisição de alguma coisa ou bem, material ou imaterial, de forma não convencional que na pratica não estaria ao nosso alcance. De qualquer forma a mentira será sempre a atenuante de um estado de carência interior de valores, algo profundo relativo à depressão. Se há algum motivo para se protestar é contra a mentira.

* Atual vice-prefeito de Tatuí. Acumula a Secretaria de Infraestrutura, Meio Ambiente e Agricultura. Cumpre o sexto mandato consecutivo, tendo sito eleito três vezes para vereador e três para vice-prefeito.