Mediocridade real x inteligência artificial

Nesta segunda-feira, 1º, foram divulgados os trabalhos inscritos no 22º Prêmio Literário Paulo Setúbal – Contos, Crônicas e Poesias, promovido pela prefeitura, evento que já se consolidou como um dos maiores do gênero no país.

De abrangência nacional, o certame costuma somar representantes de todos os estados do país, mais o Distrito Federal – além, claro, dos escritores locais, aos quais é assegurado um prêmio exclusivo, denominado “Galardão”.

O concurso literário tem o intuito de “dar oportunidade de expressão e manifestação a todo segmento de escritores”, visando divulgar trabalhos inéditos nas categorias de contos, crônicas e poesias.

Por sua vez, com base na poesia “A Vila”, extraída do capítulo “Flocos de Espuma”, da obra “Alma Cabocla”, de Paulo Setúbal, a prefeitura segue com as inscrições para o 22º Concurso Paulo Setúbal – Literatura e Artes Visuais.

O certame, também integrante da 82ª Semana Paulo Setúbal, que acontece em agosto, é voltado a alunos de escolas públicas e particulares do município.

Neste ano, é dividido em três modalidades, sendo que, nas artes visuais, o aluno tem de produzir um desenho baseado no tema. Podem participar estudantes do ensino fundamental para 1º e 2º ano e ensino fundamental para 3º, 4º e 5° ano.

Na categoria desenho universal da aprendizagem, é permitido aos alunos que demonstrem os conhecimentos deles de várias maneiras, por meio da escrita, fala, desenho ou criação de projetos. Os trabalhos da educação especial serão avaliados com base na lei brasileira de inclusão da pessoa com deficiência (LBI).

Pela literatura, os estudantes têm de produzir um texto envolvendo o tema. Na categoria, é possível a participação de alunos do ensino fundamental 6º e 7º ano e do 8º e 9º ano, ensino médio 1º ao 3º ano e Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Conforme a organização, o concurso de abrangência municipal tem como objetivo “resgatar e valorizar a obra do escritor tatuiano Paulo Setúbal e sustentar a importância dele na literatura brasileira”. Além disso, busca difundir as obras do escritor para que a rede de ensino possa estimular, entre os alunos, o gosto pela leitura e pesquisa.

Os trabalhos devem ser protocolados no Museu Histórico “Paulo Setúbal” até o dia 3 de maio. Informações podem ser obtidas pelos e-mails paulosetubalconcurso@gmail.com e museupaulosetubal@gmail.com.

O momento é oportuno, portanto, para se pensar sobre um assunto que vem tomando espaço virtuoso na mídia, na academia e mesmo no interesse popular: o uso da inteligência artificial (IA) para a criação de “conteúdos” – inclusive, literários.

Sobre o tema, nesta semana, o escritor Víktor Waewell divulgou o artigo intitulado “Com a IA, o que sobrará da literatura?”. Vale a atenção sobre as observações do autor, o qual, entre outros, assina o livro “Guerra dos Mil Povos”, uma “história de amor e guerra durante a maior revolta indígena do Brasil”.

Waewell argumenta que “dá para fazer livros razoáveis com inteligência artificial”. “Há casos de autores com centenas de livros já publicados com a tecnologia, outros que geraram livros infantis em menos de 72 horas, incluindo as ilustrações”.

E segue o autor: “Quem publicou na Amazon recentemente deve ter notado o campo para marcar se usou inteligência artificial. Para conter a enxurrada de livros feitos com IA, a plataforma tomou medida que mostra a situação: restringiu a publicação, por dia, por autor, em até três livros. Não para aí.

Um amigo outro dia desses, precisando contar uma história para o filho dormir, recorreu ao Chat GPT, que não só criou uma narrativa com o personagem preferido do menino, como ainda incluiu o garoto na história. Foi um sucesso, repetido lá desde então.

É claro que, como autor, já refleti sobre o impacto da inteligência artificial na literatura. Serei obsoleto? Por outro lado, como leitor, terei ótimos livros para ler?

Olha, a real é que muita gente que trabalha com literatura vai ficar sem emprego, principalmente quem faz processos relativamente repetitivos, como correção, tradução, narração de audiolivros, diagramação, capa, algumas fases da edição e até ilustração e impressão.

Agora, se a máquina vai desempregar muitos, é porque, ao mesmo tempo, será indispensável aos que sobrarem para usá-la. E, sim, o público provavelmente terá mais livros e com mais qualidade dos seus autores preferidos, pelo ganho de produtividade.

Mas… e o próprio autor, não será substituído? Sim e não. Autores que investem em volume, com qualidade mediana, serão atingidos em cheio. Porque volume, já está claro, é o que a IA faz bem.

Em breve, será tão fácil fazer um livro que a pessoa poderá gerar, em instantes, um para ela mesma ler. De qualidade artística duvidosa, como eu explico adiante, é um conteúdo que terá valor pelo alto grau de personalização.

É diferente o caso de autores que buscam qualidade artística. Estes serão os que vão sobrar. Ora, mas por quê? Não será questão de tempo até a IA fazer histórias tão boas quanto os grandes mestres? Não parece ser o caso. Por duas razões.

Primeiramente, o público busca, nas artes, antes de qualquer coisa, identificação. Diante de uma expressão precisa do que sentimos, por exemplo, é necessário, para uma experiência aguda, ter sido uma pessoa que a produziu, pois só assim sabemos haver mais alguém no mundo que entende aquilo.

Aspectos assim fazem a magia da autoria. Uma simulação jamais lançará esse feitiço. Mas, então, não basta gerar textos com IA, sem o leitor saber?

Podem tentar, mas aí encontramos o limite desta tecnologia, assim como do ser humano. É que, enormes os recursos da máquina, continua sendo uma simulação. Não possui senso de justiça, raiva, nunca amou ninguém, não tem tesão, nem fome, medo da morte, nada.

Então, ela não vai chegar a conclusões realmente impactantes, porque não está aqui fora vivendo o que vivemos em tempo real, tampouco irá demonstrar com ações que segue os próprios conselhos, sendo, portanto, palavras ao vento.

Na outra ponta, autores que abusarem do uso da IA, eles mesmos vão destreinar. A capacidade linguística, como qualquer outra, regride quando não é usada.

É como um corredor que decide se mover pela pista sempre de moto. Em algum momento, os músculos vão atrofiar e ele poderá até ir rápido, mas não será correndo”, conclui Waewell.

Em resumo, o escritor sustenta ser o talento insubstituível. Se certo ou errado, como se diz, “o tempo dirá”. Certeza mesmo, porém, há duas questões: uma é que concursos como os que levam o nome de Paulo Setúbal acabam tendo uma responsabilidade muito maior em seu julgamento porque, óbvio, é preciso haver justiça.

E segundo, com certeza, deve-se esperar não apenas talento, mas, sobretudo, honestidade dos escritores, conscientes de que, sim, as eventuais “vitórias artificiais”, não são sinais de inteligência, senão de mediocridade real. E que Paulo Setúbal, com seu talento tanto autêntico quanto imortal, inspire a todos!

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