Materiais recicláveis viram roupas na Etec

 

Dar vida nova a materiais recicláveis e ensinar a alunos a importância do reaproveitamento no dia a dia. Esses são os objetivos de projeto desenvolvido por professoras do curso de meio ambiente da Etec (Escola Técnica Estadual) “Sales Gomes”, que transforma o que muitos pensam ser lixo em roupas.

A ideia de transformar material reciclável em vestimenta surgiu há dois anos. Como não podia fazer aulas externas com alunos do período noturno, as professoras Ângela Capelari Renzano e Rute Severino decidiram abrir uma nova possibilidade, aplicando conceitos de reutilização de materiais em roupas e acessórios.

Idealizado para o período noturno, o projeto foi expandido em curto espaço de tempo para a turma da tarde. Ao todo, são 77 alunos do curso de meio ambiente. Os trabalhos poderão ser conhecidos durante o EPA (Etec de Portas Abertas), que acontece entre terça-feira e quinta-feira, 25 a 27, na “Sales Gomes”.

“No curso noturno, não é possível fazermos atividades extraclasses, como acontece com o pessoal do período da tarde, pois é dificultoso sair à noite. Esse tipo de trabalho podemos fazer em sala de aula”, disse Ângela.

Nas aulas dedicadas à confecção das roupas, a criatividade é a principal matéria-prima, além de jornais, CDs e sacolas de supermercados. Com os objetos que seriam jogados no lixo, são manufaturadas camisetas, saias e vestidos.

“Fazemos a campanha de arrecadação de materiais. Os alunos fazem a pesquisa sobre a reciclagem e os cuidados com os resíduos sólidos. Tem todo um aprendizado em cima disso. Nós fazemos o tratamento desses resíduos reciclando e reutilizando”, contou.

De acordo com a professora, as roupas que chamam mais atenção nos desfiles realizados na escola são os vestidos de noiva. Confeccionados com crochê de sacola plástica branca, vistos de longe, se assemelham aos vestidos originais. Outro modelo feito pela turma é manufaturado com copos de café descartáveis.

Da ideia de um dos alunos surgiu também um vestido feito com pequenos pedaços de CDs. O material, que tem aspecto reluzente, parece espelhos aplicados sobre a malha.

Com o reaproveitamento de roupas velhas, os alunos aprendem a descolorir camisetas e pintá-las ao estilo “taidai”. No método, são utilizadas tintas e água sanitária. Dependendo da cor e do formato dos desenhos, que podem ser circulares ou espirais, o tecido toma aparência “psicodélica”.

“Até tem quem nos pergunta se nós vendemos. Se tivéssemos tempo, poderíamos fazer algumas para sortear, fazer rifas, mas o nosso tempo é bem curto”, esclareceu.

Com tampinhas e garrafas PET, é possível fazer acessórios como brincos e colares. O leque de materiais usados nas aulas tende a ser ampliado, para mostrar aos alunos que é possível reciclar objetos que, no cotidiano, seriam jogados fora.

“O nosso intuito é mostrar para o aluno que é possível reutilizar. Não podemos considerar como lixo algo que pode ter outras aplicações. Com esse conceito, vamos estimulando a criatividade dos alunos. Eles vão despertando a criatividade que eles mesmos pensavam não ter. Isso vem do trabalho manual realizado em sala de aula”, afirmou.

De acordo com a professora, é obrigação de todos preservarem o meio ambiente, porém, a responsabilidade é maior para os alunos do curso que envolve o tema.

O trabalho com as roupas de material reciclável aumenta a autoestima da turma do curso de meio ambiente. Alunos de personalidade mais retraída têm o interesse despertado pelas aulas e até se dispõem a ser “modelos”.

“Isso vem do próprio aluno, que acaba tendo o interesse despertado, começa a conversar com os colegas de sala. Eu os vejo sorrindo mais durante as aulas, interagindo bastante entre eles. Isso é bom para o aprendizado”, contou.

Tanto os alunos quanto as alunas participam ativamente das aulas, garante a professora. Enquanto eles preferem a customização de roupas, elas gostam mais de exercitar a criatividade fazendo vestidos, saias e camisetas com material reciclado.

Os trabalhos dos alunos são expostos em desfiles realizados na própria “Sales Gomes” e na Escola Estadual “Barão de Suruí”. Os alunos do curso de meio ambiente da Etec, juntamente com a professora Rute, realizam intercâmbio com os integrantes da unidade de ensino da praça Paulo Setúbal.

Eles realizam palestras e dão orientação sobre reciclagem reutilização aos alunos da escola “Barão de Suruí”, que também confeccionam roupas com material reaproveitado.

“A parceria é entre mim e a professora Rute. Ela também dá aulas aqui, no período da noite, e na ‘Barão’ durante o dia. Ela quem faz o intercâmbio entre as duas escolas. Em ambas as unidades, o aprendizado é multidisciplinar”, afirmou.

As aulas dadas por Ângela não ficam somente nos trabalhos manuais. A professora ministra conteúdos didáticos aos alunos, nas quais são dadas explicações técnicas e científicas dos processos que acontecem no meio ambiente.

 

Bonecos de tampinhas

A reciclagem de materiais não se resume à confecção de roupas. A professora faz e ensina os alunos a produzirem bonecos com tampas de garrafas PET.

A ideia de fazer esse tipo de reaproveitamento surgiu dos próprios alunos há quatro anos. Em uma das aulas de meio ambiente, Ângela pediu aos estudantes que montassem brinquedos utilizando material reciclável.

Surgiram carrinhos e trenzinhos. O grupo que mais impressionou a professora levou um boneco palhaço feito com tampas e um frasco de iogurte.

“Daí veio a ideia: ‘Por que não fazer isso com as crianças menores?’. No semestre seguinte, lancei a proposta na escola e levei meus alunos a outras unidades para darem aulas para a arrecadação de tampinhas”, contou.

Durante as palestras de meio ambiente ministradas em escolas municipais, como a Emef “João Florêncio”, os estudantes da Etec mostravam o boneco e explicavam aos alunos para qual motivo serviria a arrecadação de tampinhas.

“Quando terminava a arrecadação, a gente trazia tudo para cá e montávamos os ‘kits’. Então, devolvíamos os conjuntos, que eram levados de volta às escolas,, e meus alunos ensinavam como montava”, afirmou.

Com pequeno custo – apenas as cabeças dos bonecos eram compradas –, era possível realizar aulas lúdicas de meio ambiente e reciclagem. “A criançada gosta, porque são eles (os alunos) que vão montar. O melhor de tudo é reaproveitar o material que seria descartado”.