Manduca em alerta





O ribeirão do Manduca é um dos principais cursos d’água que atravessa nossa cidade no perímetro urbano. Nasce nas proximidades da Tavex e vai recebendo águas de outros córregos como o Ponte Preta, o banhado do Conservatório, dos Ramos e de outros, percorrendo por cerca de oito quilômetros vários bairros até desaguar no rio Tatuí, e este desaguará no rio Sorocaba para depois cair no rio Tietê. Recebe também águas servidas como no caso da Tavex e as águas pluviais. Apesar do bom trabalho realizado pela Sabesp, ainda há despejos de esgotos clandestinos.

Pela urbanização da cidade, houve uma intensa impermeabilização do solo pela construção de casas, empresas e das vias públicas. Com isso houve um aumento da velocidade das enxurradas que são despejadas no ribeirão. Assim, parte significativa da cidade, tanto do lado do chamado Morro Grande, CHDU, Jardim Wanderlei, Nova Tatuí, vila São Paulo, vila Esperança, São Cristóvão, Jardim Tóquio, Jardim Paulista, Colina Verde, Jardim Lírio e outros bairros de um lado e de outro, o Valinho, Jardim Lucila, Jardim Santa Emília, parte do bairro de Santa Cruz, região central, Cecap, Dr. Laurindo, Parque Três Marias, Jardim Palmira, Manoel Guedes e outros. Dessa forma o Manduca acaba recebendo grande parte da água das chuvas que caem sobre a cidade e tem que escoá-las no seu leito.

Assim, o ribeirão se transforma numa canaleta de água com sujeira trazida pelas chuvas, que levam para dentro do ribeirão uma imensidão de lixo que provoca assoreamento e obstrução no seu curso. E com a força das águas, acabam atingindo suas barrancas e por vezes arrancando árvores para dentro do ribeirão. Também constatamos a pouca atenção da população em colocar o lixo nas lixeiras, contribuindo para que sejam carreados para o ribeirão. Isso sem esquecer do insuficiente número de lixeiras em nossa cidade.

Infelizmente, a Prefeitura Municipal trata o ribeirão somente como um grande dreno de escoamento de águas pluviais, sem se importar na sua funcionalidade e do seu valor na paisagem urbana. Não faz uma fiscalização mais ativa para que pudesse ser evitado o despejo de lixo das mais variadas formas, de entulhos e outros materiais. Não faz a devida recomposição da mata ciliar possível. Não há intervenção de manutenção das margens do ribeirão, o que vem causando desbarrancamento. Enfim, não há um plano de manejo desse importante curso d’água que corta a cidade.

Tudo isso faz com que ocorram os acidentes quando chove mais intensamente, causando enchentes. Por não agir preventivamente, a Defesa Civil com todas suas limitações tem que se desdobrar para tentar contornar situações inusitadas. Como a limpeza pública é falha, as chuvas acabam levando para o ribeirão o lixo que fica nas ruas, além de terra e areia. Esses materiais causam o assoreamento fazendo com que as aguas precisem desviar do seu traçado e com isso acabam causando desbarrancamentos e atacando as cabeceiras das pontes, danificando suas estruturas e vez, por outra, comprometendo-as e derrubando-as. Foi o que ocorreu nas pontes da Colina Verde, do Lírio, do Marapé e parcialmente do Bosque do Junqueira causando grande transtorno para toda a cidade.

Em razão de todo o exposto, entendemos que a cidade carece de um Plano de Manejo do Ribeirão do Manduca, onde diversas ações coordenadas promoverão a conservação das suas margens, da manutenção de seu leito e a recuperação da mata ciliar. Um amplo estímulo à separação do lixo orgânico e inorgânico, à coleta seletiva e a implantação de pontos de recebimento desses materiais recicláveis. Tudo isso acompanhado de um amplo programa de educação ambiental para trabalhar na conscientização da população, principalmente com as crianças da rede escolar.

Todo esse trabalho terá o objetivo de valorizar o ribeirão do Manduca, transformando-o num diferencial positivo, num produto de agradável convivência com a população, melhorando a qualidade de vida de todos. Temos que deixar para trás essa imagem de um canal poluído e causador de enchentes como está hoje. A presença do ribeirão tem que ser entendida como um privilégio da nossa cidade e não como um problema. Temos que incorporar essa imagem à paisagem urbana como uma área verde com toda sua diversidade. Afinal, não foi o ribeirão que veio para o centro da cidade. Foi a cidade que caminhou em sua direção desmatando-o, construindo nas suas margens e jogando tudo que não prestava para dentro do seu leito. Mas ele resiste bravamente.

A cidade tem a lei no 4.126/2008, que instituiu o dia 9 de abril como o Dia do Ribeirão do Manduca e que era pra ser uma semana de conscientização da população em geral e, especialmente para as crianças da rede municipal de ensino sobre a importância do ribeirão para todos nós. Infelizmente não constatamos o cumprimento da legislação. Mas temos esperança que, após tantos problemas surgidos recentemente pela falta de manutenção do ribeirão, possamos no próximo dia 9 de abril, lançarmos um Plano Municipal de Manejo do Ribeirão do Manduca, dando mais atenção ao velho Manduca que hoje está em estado de Alerta.

Vamos pensar nisso?

* Presidente Grupo Alerta (acletto@gmail.com).