Óbvio que muitos ainda perderão os empregos, pela mesma razão que outros tantos irão à falência. Não menos inequívoco é o drama desta realidade em seus aspectos cruéis, os quais acabam por atingir muito mais os que menos têm oportunidade de se defender (ou, em outras palavras, os que possuem menos poder e dinheiro).
Como em tantos outros lugares do país, em Tatuí, onde a UTI novamente chegou a 100% no meio desta semana (e seguia assim até pelo menos sexta-feira), quem tem condições econômicas poderia correr para o sistema privado. Mas, e quem não as tem? Quem depende exclusivamente do SUS, como fica?
E aqui não vai qualquer crítica ao Sistema Único de Saúde – muito longe disto. Graças à tão vilipendiada Constituição de 1988, existe a assistência de saúde pública e gratuita no Brasil, que está salvando incontáveis vidas neste momento de pandemia da Covid-19.
Sem o SUS, alguém poderia imaginar como o povão estaria? Empilhado em cadáveres, como já se observa em várias partes do mundo menos “desenvolvidas”? Sem dúvida!
No entanto, não se está distante disso, lembrando que, também durante esta semana, o estado de Santa Catarina (um dos mais “desenvolvidos” e ricos do país) teve de enviar pacientes ao Espírito Santo, por faltar-lhes leitos de UTI em seus municípios.
Lembrar a catástrofe da Região Norte, então, poderia ser até redundante, dada a aparente impressão de não ser parte da realidade do restante do país, como se fosse “um caso à parte”. Não, o colapso se estende por todo o território nacional.
O avanço da tragédia é tão real e profundo que, claro, já ameaça o estado mais rico e “desenvolvido” do país, onde nos encontramos, aqui em Tatuí. A lotação máxima do hospital público local o comprova de maneira dramática.
Mas, fazer o que, então? Seguir quebrando o comércio e as demais atividades que sustentam os empregos e a própria economia no país, no estado, nos municípios?
Não menos óbvio que a tragédia causada pela pandemia, também esta questão não tem como ser respondida – muito menos com um mínimo de consenso.
Portanto, é necessário esclarecimento para “sobreviver”, e isto em sentido amplo: como ser humano, como funcionário, como empresário.
Entre muitas dúvidas, ao menos algumas certezas podem ser marcadas neste momento. Primeira e principal delas: nada voltará ao “normal” sem a vacinação em massa! Nada!
Mostra inconteste desta verdade pode ser vista nos países onde os governos centrais, de maneira organizada e homogênea, realmente estão trabalhando pela manutenção da vida de seus cidadãos.
Os Estados Unidos – que até há pouco eram exemplo de negacionismo, sob o governo Trump, mantendo-se no topo do índice mundial de mortes por Covid-19, com recorde de 5.463 no dia 12 de fevereiro -, em pouco tempo – a partir da posse de Joe Biden -, conseguiram diminuir profundamente as vítimas fatais pela doença, chegando a 1.306 neste dia 2.
E aqui mais uma certeza (para o Brasil): estamos mal, mas muito mal mesmo! Com a queda de vítimas nos EUA, o Brasil, de maneira só não mais humilhante que trágica, assumiu a “liderança” no planeta em mortes por Covid-19.
O marco da calamidade aconteceu no dia seguinte, quarta-feira, 3, quando 1.840 brasileiros perderam a vida para a doença. Pela chamada média móvel, que considera os 7 dias mais recentes, o número de óbitos diários havia chegado a 1.361 nessa data.
Oportuno lembrar que o Brasil não é o maior nem o mais populoso país do planeta, mas acabou colocando-se no topo em número de perdas pelo novo coronavírus. Um vexame internacional – e aqui outra certeza entre as dúvidas.
Mais um aspecto não incita negativa: desde o início da pandemia, há um ano, houve clara divisão entre negacionistas e a “ciência”, que alertava incisivamente sobre o perigo.
Ocorre que, para a infelicidade geral da nação, a instância de maior poder nacional, o governo federal, explicitamente colocou-se do lado negacionista, tanto boicotando as necessárias iniciativas da maioria dos governadores quanto minimizando a gravidade da doença, dando seguidos e incontáveis maus exemplos.
Mas, calma! Não é só isso: de maneira ainda mais extraordinária que manter um general no lugar de um médico para cuidar da “Saúde” (e da vida da população), o Brasil não fez como os países administrados de forma séria e, assim, deixou de comprar os imunizantes com antecedência, garantindo-os à toda a população.
O resultado é este, agora vivenciado por todos (não apenas por quem reside em Manaus): uma nova onda, mais contagiosa e mortífera, que assola o país e que poderia ser combatida somente com as vacinas, as quais chegam às agulhas na base do gota a gota… (outra certeza).
No entanto, para variar, mais uma dúvida: será que a escassez de vacinas – não reservadas quando deveriam -, seria resultado maior da imperícia administrativa ou da simples indiferença pela vida?
Enquanto se deveria pensar a respeito, vale outra observação: neste momento, quem mais merece as críticas e a fúria da população: os que se dispõem à impopularidade para salvar vidas, mesmo perdendo votos, ou os que optam pelo populismo, priorizando indisfarçadamente as próximas eleições?
Afinal, que tipo de político o brasileiro busca para governá-lo? Quem põe a cara a tapa em momento difícil, fazendo o que é certo, ou quem mais se preocupa em blindar a própria família da Justiça (só a deles, não as nossas) e em armar suas milicias particulares, em evidente articulação para um futuro golpe de estado, caso perca as eleições?
Pois é, maltratados compatriotas, entre muitas faltas de respostas e poucas certezas, é preciso cuidar de si e dos seus – familiares, amigos, empregos e negócios -, respeitando as orientações sanitárias.
Ainda, é fundamental pensar no futuro do Brasil, que há de superar toda esta calamidade. É preciso informação, raciocínio, senso de justiça e disposição para se concluir se, realmente, o melhor seria viver sob a bota do autoritarismo tacanho e insensível – que pouco ou nada se importa com a sua vida – ou se ainda vale buscar o que existe de menos ruim na democracia e na própria política nacional, excluindo da vida pública quem dela é mero parasita com sede de sangue e dando lugar a quem, pelo menos, tem coragem de ser impopular quando a situação o exige. Uma coisa é ser estadista; outra, golpista.
Assim, seguimos para a fase vermelha, não porque é “legal” ou porque se quer quebrar de vez a economia, mas porque as UTIs estão lotadas, caramba!!! E, enquanto se corre atrás das vacinas, alguém precisa fazer alguma coisa!
Muito bom dia. Valeu pelo aviso e uma otima reportagem.