Liberdade de expressão à maneira rede social

É aquela velha história de ser cômico não fosse trágico: nesta semana, quando se iniciaram os efetivos trabalhos parlamentares para avaliação e votação do PL 2630 (conhecido como “PL das Fake News”), as redes sociais “derrubaram” buscas sobre esse projeto de lei e, ao mesmo tempo, inseriram links em meio a seus conteúdos com direcionamentos contrários à regulamentação desses veículos de comunicação no país.

Mais até: de maneira nada surpreendente, “em conjunto” com uma corrente política que ainda segue apostando em mentiras para engambelar a população, ganhar votos e, se não der certo, dar um golpe, as redes seguiram direcionando as buscas para o que tentam fazer vingar como “PL da Censura” (e não da lorota).

Não é complicado entender: as plataformas ganham (dinheiro) conforme o volume de visualizações, que são sempre maiores quando instigam a discórdia, a polêmica, as brigas e o consequente “ódio”.

E, óbvio, opiniões tendenciosas travestidas de notícias, mentiras, teorias das conspirações e provocações contribuem muito para o dissenso lucrativo.

De outro lado, a mesma visualização massiva é imprescindível para a sustentação da política do engodo, essa que, muito além do lucro em dinheiro, busca a tomada do “poder”.

Neste ponto, aliás, importa destacar que as fake news têm sido bem mais efetivas no propósito dos extremismos que, por exemplo, as armas sem real controle nas mãos da população – como se esta, em sua grande maioria, “não” fosse formada por patriotas de verdade, mas, sim, por candidatos a milicianos.

Por sorte do país, o povo em geral quer segurança, paz, trabalho, saúde, respeito, honestidade (no que está totalmente correto), mas não necessariamente vandalismo, agressão, sangue e regime autoritário… Daí a democracia ter resistido.

O fato é que, propositadamente, a politicada mal-intencionada e boa parte das redes sociais – senão todas – em um momento, se diz mera “ferramenta de comunicação”, quando lhe convém, para supostamente garantir a “liberdade de expressão”, sem qualquer responsabilidade sobre o que transmite.

Em outro momento – como nesta semana -, coloca-se como “veículo autônomo de comunicação”, inclusive com a publicação de “editorial” contra o PL em meio a seus conteúdos… Neste caso, seria algo como um jornal, uma rádio, uma TV…

Sucede que, jornalisticamente, todo veículo de imprensa, de maneira obrigatória, “legal”, possui um “jornalista responsável”, o qual, em caso de fake news (mentira!), é processado e levado a se explicar na frente de um juiz, sujeito, portanto, a condenação.

Esta “responsabilidade” não acontece com as redes e plataformas, e é exatamente assim que elas querem seguir: com o bônus de poderem levar a público, sob a proteção da liberdade de expressão, todo e qualquer conteúdo sem por eles serem cobrados, apenas recebendo o rico dinheirinho, sem pagar pelo ônus restrito aos veículos “tradicionais”.

Digamos, assim: o melhor de dois mundos (o real e o digital)! Para os mal-intencionados, esse da terra plana – onde a alucinação precipitou à morte milhões não porque caíram do abismo da beirada do planeta, mas porque menosprezaram a Covid-19 – e, para as redes e plataformas, a terra sem lei da internet, em que só se colhe lucro e não há compromisso com nada.

Claro, por conseguinte, há tanta resistência à regulamentação na internet. Mesmo o simples usuário, o cidadão comum totalmente distante das chamadas “big techs”, pode encontrar motivo para opor-se à responsabilização.

Claro, hoje, ele ainda se sente à vontade para abrir a rede social e sair sentenciando a tudo e a todos sem nenhum critério, além de xingar, provocar e externar todo o seu saber sem constrangimento, a partir da leitura de apenas um título, por exemplo. Esse cidadão tem receio de ser obrigado a pensar (e ler, eventualmente) antes de se “expressar”, diante de uma eventual perda financeira ou punição ainda mais severa pela Justiça.

Agora, enganam-se – e muito – os que imaginam somente fazer diferença para a “política” oportunista e às megaempresas, em benefício a elas, a bandalheira digital. Não! Essa “desordem” afeta a todos, inclusive, as crianças.

Só lembrar a onda de instigação a ataques em escolas, que teve repercussão aqui mesmo em Tatuí. Ora, as redes sociais serviram como “veículos” desse movimento criminoso e, a despeito disso, algumas delas até se recusaram a retirar do ar conteúdos de ódio e incitação à violência (e morte), mesmo com determinação judicial.

É possível concluir, pois, que a falta de responsabilização pode contribuir até com o assassinato de crianças, em última e catastrófica instância.

Em resumo, se as plataformas e redes querem se colocar como veículos reais de comunicação, que o sejam, com todos os devidos ônus e bônus. O que não dá é para se fazer de dissimulado, como o sujeito covarde e mau-caráter que provoca a briga e, quando a pancadaria começa, tira a sua responsabilidade suja da reta da Justiça.

Seria ótimo, por exemplo, se algum profissional da imprensa de Tatuí, em alguma visita ao fórum para lá defender de fato a liberdade de expressão, lá encontrasse o representante de alguma “big tech” fazendo o mesmo, preocupado com esse tão básico e fundamental princípio da democracia.

Mas, realmente, isto seria muito difícil, dado sequer retirarem do ar conteúdos perigosos, mesmo quando a Justiça determina… Não devem ter tempo, ocupados demais estão em contar o dinheiro que o pessoal joga pra eles a todo instante em que arma um forrobodó na internet…