
Da reportagem
Na tarde de sexta-feira da semana passada, 4, aconteceu a apresentação do projeto Semeando o Futuro, de Tatuí, uma parceria entre as secretarias municipais da Assistência e Desenvolvimento Social e a do Meio Ambiente, Agropecuária e Bem-Estar Animal.
O evento contou com a presença dos secretários das pastas, Carlos Eduardo de Alvarenga Viana e Fabiana de Cássia Saraiva Grecchi, respectivamente, com o prefeito Miguel Lopes Cardoso Júnior e a primeira-dama e presidente do Fundo Social de Solidariedade de Tatuí (Fusstat), Regiane de Oliveira Rosa Cardoso.
O projeto Semeando o Futuro tem como objetivo promover melhor organização e remuneração aos catadores de materiais recicláveis do município, que serão devidamente cadastrados e receberão crachás e camisetas de identificação.
Cada catador será responsável por um setor — que pode ser um bairro ou uma rua — e terá horários e dias pré-definidos para realizar a coleta. Essas informações também serão divulgadas à população, que poderá se programar para entregar os materiais.
“Dessa forma, o catador não perde o material, evitamos resíduos espalhados nas calçadas e a identificação dará segurança para a população entregar os recicláveis, abrindo a porta de suas casas para vocês”, explicou a secretária Fabiana.
Outro ponto abordado foi a centralização das entregas: os catadores passarão a entregar os materiais na Central de Resíduos ou em outros pontos, que ainda poderão ser definidos conforme a adesão ao projeto.
“A ideia é que vocês possam aumentar a renda de forma centralizada. Se vendermos em maior volume, conseguimos melhores preços. Assim, queremos nos organizar para que vocês ganhem por produção: quem trabalhar mais, ganha mais; quem trabalhar menos, recebe menos”, completou Fabiana.
Além da remuneração em dinheiro, de acordo com a produção, o projeto contará com uma moeda fictícia, que poderá ser conquistada de diversas formas.
Por exemplo: se o catador tiver filhos em idade escolar e a criança não faltar nenhum dia durante o mês, recebe uma moeda; se estiver em tratamento para alcoolismo ou uso de drogas no Caps (Centro de Atenção Psicossocial) e não faltar em nenhuma sessão, também recebe a moeda, entre outras formas.
Essas moedas poderão ser trocadas em um “mercado solidário”, que será organizado por Regiane e foi criado exclusivamente para esse fim — ou seja, não trabalhará com dinheiro real.
O “mercadinho solidário” está sendo montado nas dependências de uma parte do asilo, imóvel alugado pela prefeitura. “Hoje, já temos alguns setores de trabalho no local, como zeladoria e agentes de saúde, mas há salas disponíveis onde irei montar o mercadinho”, comentou a primeira-dama.
Segundo informado no encontro, o mercado contará com produtos de higiene, alimentos e até materiais de construção. “Vou ampliar esse projeto com o apoio do nosso comércio local. E convidar os comerciantes a participarem de forma generosa, para que possamos abastecer semanalmente este mercadinho”, relatou a presidente do Fusstat.
O prefeito complementou dizendo que “o mercado começa pequeno, com algumas doações”, mas que qualquer evento realizado no município poderá incluir como prática a arrecadação de leite, roupas e alimentos, entre outros itens.
Segundo ele, isso já ocorre em muitos eventos, onde os itens arrecadados são destinados à Casa de Apoio ao Tratamento de Câncer, em Jaú, ao Fundo Social e a outras entidades.
Agora, parte dessas doações também poderá ser destinada ao mercadinho solidário. “E claro que contamos com a ajuda de muitos empresários da cidade que colaboram conosco”, acrescentou o prefeito.
As moedas fictícias serão pessoais e intransferíveis, e os itens só poderão ser resgatados por quem as conquistou. Os dias e horários de funcionamento do mercadinho ainda serão definidos.
Para participar do programa, os catadores de recicláveis deverão se cadastrar no Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), localizado na rua 13 de Fevereiro, 396, no centro, de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 17h.
O prefeito aproveitou o momento para falar sobre as questões ambientais. De acordo com ele, se os municípios que não se adequarem, “terão muitas dificuldades no futuro”. “E este projeto é o início de algo que pode ser muito grandioso”, acrescentou.
Segundo informações apresentadas, o município gera atualmente cerca de cem toneladas de lixo por dia. De acordo com uma análise de gravimetria realizada em um consórcio de serviços, dentro do plano de resíduos sólidos, 46% desse material é orgânico.
Fabiana afirmou que os 54% restantes são recicláveis, mas apenas 10% desse volume tem sido, de fato, reciclado. “Coletamos, em média, cem toneladas por dia, e, no mês, foram recicladas apenas 27 toneladas”, explicou.
De acordo com o prefeito Miguel, “quando falamos de reaproveitamento, falamos de dinheiro. Talvez, hoje, não estejamos aproveitando nem 10% do nosso potencial. Essa organização vai nos permitir ampliar esse valor, que será revertido para os próprios catadores”. Sobre o principal objetivo do projeto, o prefeito afirmou que não há um único propósito, mas “um conjunto de ações”.
“O projeto surgiu da necessidade de cuidar melhor do lixo e foi sendo enriquecido com sugestões, como a do mercado solidário, que visa trazer mais dignidade para os catadores. Agora, com organização, provavelmente, eles conseguirão um valor maior, pois venderão em maior quantidade”, relatou.
“Além disso, queremos incentivar boas práticas familiares, como as crianças não faltarem à escola, tomarem todas as vacinas, e que os que não estudam se matriculem. Começou como um projeto voltado ao lixo, mas se tornou algo muito maior: uma ação de ajuda e acolhimento”, finalizou.
Sobre como a população pode ajudar, Fabiana acentuou a importância de separar corretamente os resíduos orgânicos dos recicláveis e armazenar os recicláveis em casa até a data da coleta, conforme será informado.
Segundo ela, o projeto proporcionará ganhos ambientais e sociais: “A melhora na qualidade de vida vai refletir positivamente no meio ambiente, pois as pessoas se tornam mais conscientes”.
“O ganho ambiental, por sua vez, também contribui para a condição social, já que, ao saber que o catador é da sua própria comunidade, a população passa a colaborar mais. Estamos muito confiantes na proposta do mercado solidário”, finalizou a secretária.