Sérgio Augusto Marciliano Queiroz tem 18 anos e um projeto que vem mudando realidades há quatro. Morador do Jardim Gramado, área considerada rural do município, ele tem motivado sozinho uma comunidade inteira.
Desde 2011, Sérgio Augusto – como é conhecido entre os amigos – faz vídeos que exaltam a magia da infância. Com persistência, dedicação e equipamentos improvisados, ele montou uma “fábrica de vídeos caseiros”. A inspiração veio de um autor cada vez menos conhecido entre os jovens: Monteiro Lobato.
O criador do “Sítio do Pica-pau Amarelo” serviu de norte para Sérgio Augusto dar vida à “Chácara Queto”. O local retratado em ficção existe na realidade. É uma propriedade cedida pelo pai do jovem e que recebe, pelo menos uma vez por mês, adolescentes e adultos. Dois deles, inclusive, professores.
“Tudo começou com brincadeiras. Iniciamos com filmagem em celular”, contou Sérgio Augusto. É ele quem dirige, faz o roteiro e filma as aventuras de uma trupe que vem aumentado e até já recebeu prêmio alusivo e menção honrosa.
Atualmente, 40 pessoas integram a Chácara Queto, nome dado pelo jovem para o espaço que tem instigado a mente de quem vive em áreas distantes da cidade.
Todos os vídeos gravados na propriedade – desde o primeiro – recebem o nome do local. A identificação lembra, respeitando-se as devidas proporções, projeto criado pelo Conservatório de Tatuí, que reforça o nome da instituição.
Os materiais são postados na internet, no site de vídeos “YouTube”, em canais variados. Sérgio Augusto, por exemplo, compartilha os trabalhos em mais de um perfil. Ele também alimenta, sozinho, redes sociais da Chácara Queto.
Aproveitando-se da facilidade da internet, o jovem viu no tempo livre uma oportunidade de ser produtivo. Juntou a vontade de fazer algo com o amor que tem por Monteiro Lobato para dar vida a uma brincadeira. “Com o tempo, o projeto tornou-se mais sério e com mais pessoas querendo participar”, descreveu.
No início, somente adolescentes participavam das filmagens caseiras. Os adultos vieram depois, quando os vídeos deixaram de ser exclusivos da internet e ganharam salas de aula. Sérgio Augusto levou, a pedidos, o material para escolas. “Aí, muita gente pediu para participar”, recordou.
Na tentativa de melhorar a qualidade dos vídeos, o jovem pesquisou formas alternativas, visando sanar as dificuldades técnicas. O grande problema era o equipamento de filmagem. Foi então que ele passou a usar um “notebook” como câmera.
“Nós abríamos a tampa e direcionávamos a ‘webcam’ para os personagens, para fazermos as filmagens”, contou. Até então, o grupo não tinha uma câmera propriamente dita. O equipamento veio como presente da mãe, recompensa pelo esforço e dedicação do adolescente, exemplo para a comunidade.
Daí em diante, as filmagens aumentaram em tempo. Sérgio Augusto passou a produzir vídeos com 30 minutos de duração e a exibi-los em pequenas sessões. “Eu mostrava para os colegas em sala de aula e para professores”.
Cativados pelo estudante, os educadores gostaram tanto da ideia que, atualmente, fazem parte dela. Eles também colaboraram com o primeiro filme lançado pelo grupo.
O longa-metragem tem 65 minutos e participação de voluntários, como Rosana Nochele Pontes Pereira. A empresária e vereadora cede, para os jovens, mantimentos que são servidos em almoço na pausa das gravações.
Lançado em janeiro deste ano – em evento no Cras (Centro de Referência de Assistência Social), do Jardim Santa Rita de Cássia –, o filme conta a aventura da turminha da Chácara Queto em viagem para um acampamento. O grupo ganhou um passeio no espaço da dona Sofrência e, lá, “viverá surpresas e emoções”.
Produzido inteiramente pelo jovem, o vídeo tem sonorização. As músicas que integram o filme são de artistas nacionais – e utilizadas sem intenção de gerar renda.
Todas as produções, com temática infantojuvenil, consistem em uma forma que Sérgio Augusto encontrou de fazer referência à obra de Monteiro Lobato em versão para televisão.
As menções ao escritor, nascido José Bento Renato Monteiro Lobato e falecido há 67 anos, estão presentes também na formatação dos personagens.
A Chácara Queto, por exemplo, pertence à tia Tereza (tia Nastácia, na obra original). Lá, ela cria os sobrinhos, interpretados pelos adolescentes, os quais equivalem a Pedrinho, boneca Emília, Visconde de Sabugosa e outros.
Também há a Cuca, que, na chácara, virou uma bruxa má. Ela está presente na maioria dos episódios e exige do jovem empreendedor aperfeiçoamento na técnica da edição. Para tornar o filme atrativo e enfatizar a característica má da personagem, Sérgio Augusto aplica conhecimentos que aprendeu sozinho.
De modo a atender aos pedidos cada vez mais numerosos de jovens interessados em integrar a chácara, Sérgio Augusto gasta umas boas horas do dia tendo ideias. A dedicação é para que não haja comprometimento do enredo e que o material fique interessante.
“Entrou tanta gente e eu inventei tanto personagem que é preciso cabeça para fazer história. Tem gente até não querer mais, mas eu me realizo”, disse o jovem.
Em quatro anos, Sérgio Augusto viu não só o número de participantes dobrar, como o trabalho. Em 2011, ele e o grupo lançaram a série e a dividiram em temporadas.
De lá para cá, a produção aumentou, incluindo clipes, campanhas da turminha em apoio a ações internacionais (como o Teleton) e até desenhos animados. Estes últimos, produzidos inteiramente pelo idealizador com colaborações.
As animações são feitas à mão e nascem, primeiro, com ajuda de lápis de cor. Dos papéis, os traços são fotografados ou escaneados pelo jovem – um a um – até formar o desenho. O grupo faz as dublagens inseridas e sincronizadas em edição. O áudio exige interpretação de todos os participantes.
A tarefa é tão árdua que Sérgio Augusto leva até nove dias para preparar os materiais. “Antigamente, era mais fácil. Eu só gravava o vídeo e colocava uma música por cima. Agora, demoro para inserir um efeito mais rebuscado”, disse.
Movido pela curiosidade, Sérgio Augusto buscou por iniciativa própria os conhecimentos necessários para manter o projeto em evolução. Também envolveu jovens fora da região do Novo Horizonte, como Santa Rita e o “centro da cidade”.
A cada 30 dias, eles se reúnem na chácara para as gravações. Os trabalhos começam às 11h e terminam às 22h, supervisionados por responsáveis. “Nós damos uma pausa para conversar, ler o texto e voltar a gravar”, explicou.
Uma das participantes entrou no grupo por meio da internet. Sérgio Augusto contou que a jovem conheceu o trabalho via “Facebook” e pediu para estar nele.
“Já virou uma rotina para todos. Quando eu paro um pouco, todo mundo me liga para perguntar quando vai ter nova gravação. É uma correria”, contou.
Entre uma série e outra, o jovem programa as gravações. Os trabalhos incluem clipes musicais e os desenhos. “Faço isso para que o projeto não fique desativado”, disse. Para aproveitar ao máximo o tempo criativo, Sérgio Augusto desenvolve os filmes. O próximo começa a ser rodado no sábado, 7.
Na prática, os longas-metragens vieram para “dar uma organização” às ideias do jovem cineasta amador. “Comecei com a história do filme porque as séries estavam ficando sem pé nem cabeça. Aí, resolvi fazer o primeiro”, contou.
Por meio do projeto, além de diversão na chácara, os jovens participam de excursões. O grupo tem enviado ofícios com pedidos de visitas, o que deu aos participantes, por exemplo, chance de conhecer o Sítio do Pica-pau Amarelo em Taubaté.
O local tem 20 mil metros quadrados, possui um parque, um coreto e um casarão colonial. Atualmente, ele abriga o Museu Histórico Folclórico e Pedagógico Monteiro Lobato. Lá, o grupo de jovens gravou um dos episódios da série.
“É uma iniciativa muito legal, que trata de educação e que é bom para as crianças. Elas podem conhecer lugares diferentes. Isso é uma felicidade para mim”, disse.
O próximo filme será rodado na própria chácara e tem previsão de lançamento para este ano. De antemão, Sérgio Augusto contou que a história é uma continuidade do primeiro longa. O vídeo é, também, considerado nova experiência dele na arte da cinematografia.
Sérgio Augusto tem como meta cursar cinema e, para realizar o sonho, voltou a estudar. O plano é ingressar na faculdade no ano de 2019. “Não consigo ver-me fazendo outra coisa a não ser a que venho realizando”, enfatizou.
Para ganhar conhecimento em outras áreas, o jovem começou a estudar teatro no CEU (Centro de Artes e Esportes Unificados). Levou, com ele, mais seis jovens que residem no Novo Horizonte. Eles permaneceram; Sérgio Augusto decidiu não continuar. “Eu vi que não é minha área”, comentou.
Em paralelo, ele iniciou outras ações que extrapolaram os limites geográficos da chácara. O mais representativo deles é a inclusão de um trecho de clipe gravado pelos jovens na abertura de “Carrossel – O Filme”, lançado em 2015.
A Chácara Queto esteve entre os vencedores de concurso que escolheu clipes exibidos antes das sessões do filme infantojuvenil em todo o país. O grupo tatuiano gravou vídeo com a música “Panapaná”.
“Por causa do filme, o nosso público cresceu. A chácara não era tão conhecida, mas passou a ser mais valorizada depois que tivemos esse clipe exibido”, disse o jovem.
Para o próximo trabalho, Sérgio Augusto já pensa em novidades. Entre elas, está a adição de mais uma personagem. Trata-se de um “ET” (extraterrestre). O alienígena ganhará máscara confeccionada pelos integrantes da turminha.
Tarefas como essa ocupam boa parte do tempo do jovem, que disse ter pensado em parar. “As crianças não querem que eu pare. Então, continuo”, comentou.
Os projetos dele podem ser consultados na internet, por meio de três canais “Sérgio Augusto”, “Filmes Brasileiros da Web” e “Augusto Queiroz” do YouTube.