Jovem de Tatuí que atua na base do Corinthians já ‘custa’ R$ 50 milhões

Garoto de 16 anos atua no sub-17 do ‘Timão’ e possui contrato profissional

Gabriel Yuske assinou o 1º contrato profissional com o Corinthians em maio (foto: arquivo pessoal)
Da reportagem

Nascido em 2 de março de 2006, no Japão, Gabriel Yuske Tokuyoshi de Almeida está há quase uma década nas categorias de base do Corinthians. Atualmente defendendo a categoria sub-17, ele assinou o primeiro contrato profissional com o “Timão” em maio, com multa rescisória superior a R$ 50 milhões.

No entanto, no caminho entre o país asiático e um dos clubes de futebol mais populares do Brasil, Yuske residiu por anos em Tatuí e, durante a infância, jogou por equipes do Clube de Campo e, posteriormente, por um projeto social do Jardim Santa Rita de Cássia.

Sandro Luís, avô e responsável pela criação de Yuske, residiu no Japão por 12 anos a trabalho e, por conta disso, os filhos dele, apesar de brasileiros, cresceram do “outro lado do mundo”.

A filha dele se casou, Yuske nasceu e veio ao Brasil quando ainda tinha dois anos. “Ele veio bem ‘miudinho’, não fala nada de japonês”, conta o avô.

Aos seis anos, em 2012, o pequeno começou a atuar defendendo as equipes campestres, sendo comandado pelos técnicos Carlos Eduardo de Alvarenga Viana, o Duza, nos treinamentos de futebol de campo, e Jenner Tavares, o Jeninho, no futsal.

Em janeiro de 2013, Yuske foi aprovado em uma avaliação de futsal da categoria sub-7 do Corinthians. No ano seguinte, já passou a jogar pelo time sub-8 de futebol de campo do “Time do Povo”. O garoto se dividiu entre as duas modalidades até os 12 anos, quando passou a dedicar-se apenas aos gramados.

Desde então, os avôs maternos levavam Yuske, duas vezes por semana aos treinamentos no Parque São Jorge, em São Paulo, além das viagens para os jogos aos finais de semana. A rotina se manteve por três anos, até a família decidir deixar Tatuí para se mudar definitivamente à capital paulista.

Duza conta que, durante esses anos, Yuske mandava-lhe mensagens, pois queria jogar com ele. Em Tatuí, o “japonês” disputou duas edições da Copa Craque do Futuro, promovida pela prefeitura, defendendo o time sub-11 do Clube de Campo e, depois, a sub-13 da equipe do Santa Rita.

Em 2015, uma equipe sub-11 dirigida por Duza chegou à decisão de um campeonato regional. Ele lembra que Yuske, aos nove anos, já se destacava entre as crianças mais velhas. “Yuske era titular da minha equipe e já era muito ‘diferenciado’”, afirma. “Como se diz na gíria do futebol: ele sempre foi acima da média”, completa o treinador tatuiano.

De acordo com Duza, o jovem é “diferenciado” tanto dentro como fora de campo.

Ele diz guardar com carinho uma atitude que Yuske teve, aos 13 anos, em um amistoso defendendo o Santa Rita, no estádio “Menotti de Campos”, do Santa Cruz.

O treinador lembra que, naquela equipe, havia algumas crianças carentes e uma delas, por não ter dinheiro, começou a pedir pedaços de um salgado e um pouco do refrigerante que Yuske compraria após a partida.

Nesse momento, conforme Duza, Yuske deu o dinheiro que tinha para que o outro garoto pudesse comprar o que queria. Na ocasião, após ser perguntado pelo avô sobre o motivo da ação, ele respondeu que havia dado o dinheiro porque o amigo estava com fome.

“Ele sempre teve humildade e nunca ‘pisou’ em ninguém”, garante o técnico. “Vejo que tudo isso fortaleceu a caminhada dele no Corinthians, durante todos os momentos de dificuldade enfrentados até chegar o tão esperado dia de assinar o contrato profissional”, complementou.

Duza esteve no Parque São Jorge, juntamente com o avô e a mãe de Yuske, no momento da assinatura do primeiro contrato profissional dele.

O documento já foi publicado no BID (Boletim Informativo Diário) da CBF, com validade até 2025 e uma multa rescisória de estipulada em € 10 milhões, equivalente a R$ 54,462 milhões.

O principal objetivo de Duza, ao trabalhar com futebol em Tatuí, é o de “formar cidadãos”, diz ele. No entanto, entre os jovens que trabalharam recentemente com o técnico, há jogadores nas categorias de base do Santacruzense, do Audax e do Desportivo Brasil.

Ainda segundo ele, quando algum dos garotos torna-se jogador, “o sentimento é de gratidão e de que o trabalho está sendo bem desempenhado”. “Na verdade, o mérito é todo dele, somos apenas professores passando ensinamentos, mas quem corre atrás e faz tudo acontecer é o atleta”, reconhece. “Acredito que o trabalho está sendo bem executado e, graças a Deus, as coisas estão acontecendo naturalmente”, conclui.