Jogada histórica





Uma atitude aparentemente inconsciente e outra muito bem pensada e promovida colocaram o racismo na pauta mundial nestes dias – ambas figuradas por jogadores de futebol.

A reação espontânea – tão inesperada quanto empolgante – partiu do lateral-direito Daniel Alves, brasileiro que atua pelo Barcelona -, seguida de campanha publicitária encabeçada por Neymar, companheiro de time dele, essa também impressionante em termos de repercussão, embora menos significativa em motivação e naturalidade.

Muitos podem entender, até, que o ex-craque santista, após ter sido flagrado como sonegador de imposto, por omitir grande parte do valor pela qual fora vendido ao time espanhol, aguardava oportunidade para posar de bonzinho novamente e, quem sabe, voltar a brilhar nos gramados.

Verdade ou não, pouco importa. Interessa é que a campanha chamou a atenção a um problema ainda extraordinariamente real, dentro e fora dos estádios: o racismo. Portanto, que ao menos o jogador, cada vez mais soberano na publicidade, enquanto menos majestade no futebol, sirva de pivô em ação que evidencia o quão ridículo é julgar as pessoas pela cor de pele. Ótimo.

Nem tudo é perfeito, no entanto. A própria campanha, aderida por celebridades mundo afora, rendeu outras ações, como a do apresentador-empresário Luciano Huck, que estampou camisetas com a famosa frase “Somos todos macacos” e, naturalmente, passou a engordar um pouco mais sua poupança.

Há problema em ser empreendedor, como o global? Não. Claro que não! Pelo contrário: é preciso empreendedorismo para levar qualquer nação à frente, posto que só assim se geram – e se sustentam – os empregos da imensa maioria da população. Então, onde há questionamento? No possível oportunismo.

Fica a impressão de que iniciativa do gênero é compatível com a de alguns cidadãos negros que, ocultamente, torcem para serem ofendidos e, assim, poderem acionar o ofensor na Justiça, e, então, ganhar um dinheirinho fácil – o que não é nada incomum, por mais que seja politicamente incorreto apontar tal atitude.

Tanto uma coisa quanto outra, comprometem – cada uma em sua instância – os vitais e totalmente positivos empreendedorismo e combate ao racismo, especialmente porque instigam preconceito contra os empresários e os verdadeiros ativistas dos direitos humanos.

Por tudo isso – e mais – a reação de Daniel Alves foi fabulosa. Explicitamente sem pensar em atacar o bolso do idiota que lhe atirara uma banana, ele simplesmente pegou a fruta e a comeu…

Muito provavelmente, os demais colegas idiotas do torcedor racista, ao verem a atitude do jogador, riram – não do atleta, mas da besta que tinham ao lado deles. O ato, melhor ainda, demonstrou a força do deboche, o poder do humor.

Mesmo sem pensar – ou premeditar –, o jogador brasileiro protestou de maneira bem humorada, irreverente, e, com formidável oportunismo, “quebrou as pernas do adversário”, driblou a mediocridade feito craque, humilhou o bronco, fê-lo um “João” – como folcloricamente diria seu genial colega Garrincha -, e, assim, ganhou o mundo!

Mesmo para quem não gosta de esporte, essa jogada vai ficar para a história!