Funcionários da Rontan Eletrometalúrgica paralisaram os trabalhos entre terça-feira, 8, e quinta-feira, 10, por falta de pagamento do salário do mês de fevereiro. Os trabalhos foram retomados na manhã de quinta-feira, após a empresa anunciar que iria pagar os salários no mesmo dia.
De acordo com o Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí e Região), todos os 800 funcionários entraram em greve. A empresa estaria devendo, além do salário, cestas básicas de quatro meses, FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e a segunda parcela do PLR (participação de lucros e resultados) de 2015.
“A greve era para ter começado na segunda-feira, mas a empresa deu folga para todo mundo, daí limitou a nossa ação com os funcionários. Na terça-feira, foi oficializado o estado de greve, que se estendeu até quarta-feira”, afirmou o presidente do Sindmetal, Ronaldo José da Mota.
O sindicalista estima que a dívida da empresa com os empregados seja de, aproximadamente, R$ 1,5 milhão, sem calcular os valores do FGTS. A empresa também teria pendências com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
“Tive informação de terceiros que tem um processo do INSS por falta de pagamento. O que a gente faz é o pedido de fiscalização para que seja verificado tudo, como INSS, PIS (Programa de Integração Social), Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social), FGTS”.
A empresa vem enfrentando dificuldades financeiras desde o início do ano passado, afirmou Mota. O problema se agravou no final do ano, quando o 13º salário dos empregados ficou atrasado. O pagamento do bônus foi pago em janeiro.
“O salário de janeiro atrasou e foi pago em fevereiro; o de fevereiro atrasou e ocasionou essa paralisação. O de fevereiro para março era para ser pago na sexta-feira e a empresa nos comunicou que não tinha dinheiro”, declarou Mota.
A justificativa da empresa, segundo ele, é que a crise nacional tem afetado a comercialização de viaturas, o principal ramo de atividades da Rontan.
“O problema é financeiro. Eles têm serviço, mas não têm matéria-prima, pois os fornecedores não estão entregando e, consequentemente, não está tendo trabalho na fábrica”, comentou.
Com a falta de matéria-prima, os funcionários estão acumulando o banco de horas e ficando em casa, um acordo feito entre o Sindmetal e a Rontan. O sindicalista afirmou, na sexta-feira, 11, que não tinha a confirmação de que o salário fora pago, porém, disse que tudo indicava que sim.
“A gente deu um voto de confiança e retomou ao trabalho na quinta-feira. Não temos informações de que o dinheiro caiu na conta, mas acredito que sim, pois, se não tivesse caído, os trabalhadores estariam reclamando”, afirmou.
O Sindmetal ingressou com processo de instauração de dissídio na Justiça do Trabalho. O sindicato espera que a empresa pague, além dos salários, os benefícios e direitos atrasados, como a cesta básica e o PLR.
“O processo no tribunal continua, pois os trabalhadores têm a receber os dias parados, temos o pedido de estabilidade de 60 dias e a regularização do FGTS, do PLR e o pagamento se tiver atrasado”, declarou.
Mota afirmou que espera que a situação financeira da empresa melhore após a concretização de venda para a GDSI (Global Digital Solutions INC.), com sede na Flórida, nos Estados Unidos, que já é dada como certa.
“A empresa está assumindo toda a empresa, o que envolve também as dívidas. Eles não vão dispensar funcionários; Simplesmente, no contrato social, vão trocar os nomes do antigo proprietário pelos da empresa multinacional”, afirmou.
Os funcionários estariam ansiosos com a situação da empresa. Alguns, segundo Mota, estariam temerosos com a possível venda; outros, entretanto, estariam motivados.
“Inclusive, tem muitos fornecedores que, mesmo com as dívidas da Rontan, estavam entregando matéria-prima na esperança de a empresa ser negociada e o novo investidor pagar todas as dívidas”, declarou.
O sindicalista afirmou que outra empresa da cidade, a Metalúrgica WA, está parada por dificuldades financeiras. O pagamento do salário dos empregados estaria atrasado.
“A situação lá está complicada, pior até do que a da Rontan. São 120 funcionários parados”, contou. Segundo Mota, a empresa estaria com dificuldade para pagar os fornecedores, o que teria parado a produção por falta de matérias-primas.
“Os funcionários estão parados desde a semana passada por falta de matéria-prima. E não tiveram o pagamento depositado”, disse.
Se somados os funcionários das duas empresas e o contingente de mão de obra indireta, o número de pessoas afetadas pela crise nas metalúrgicas pode ser maior que mil.
O agravante, segundo Mota, é que os funcionários terceirizados não têm a proteção dos sindicatos, pois seus serviços sãos negociados entre as empresas e os fornecedores de mão de obra.
“Na Rontan, por exemplo, tem os trabalhadores indiretos que fazem estofados, fazem a pintura, fora os da cozinha, segurança, limpeza. O salário deles deve estar atrasado também”, disse.
A reportagem de O Progresso procurou as empresas Rontan e Metalúrgica WA, entretanto, até o fechamento desta edição (sexta-feira, 17h), não conseguiu contato.