Funcionários da Fatec Tatuí­ solicitam reunião com representantes de greve





Funcionários da Fatec (Faculdade de Tecnologia) “Professor Wilson Roberto Ribeiro de Camargo” solicitaram visita de representantes do Sinteps (Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paula Souza) para auxiliarem os docentes e funcionários a entenderem o plano de carreira apresentado pelo governo do Estado.

A reunião aconteceu na sexta-feira, 7, na sede da Fatec. Os representantes do Sinteps, que conduziram a conversa, foram Arlindo Teodoro de Sousa Junior, diretor de base, e Filipe Bortoletto Ribeiro Toledo, do comando de greve em Piedade.

O professor Rosirlei Pavão disse que é importante a troca de informações, para que os funcionários e docentes consigam “visualizar e tentar entender o projeto”.

A visita, que eles fazem a todas as Fatecs e Etecs (Escolas Técnicas Estaduais) que solicitam informações e não possuem comando de base, foi longa. Nela, foram discutidos o plano de carreira oferecido pelo governador Geraldo Alckmin e as emendas propostas pelo sindicato.

De acordo com Sousa Junior, os grevistas “torceram o tempo todo para as coisas darem certo”, mas desde 2011 estão “indignados”, trabalhando em negociações com o Centro Paula Souza sem conseguir chegar a consenso.

As greves de algumas Fatecs e Etecs começaram em 17 de fevereiro. Os manifestantes exigem reajuste salarial e plano de carreira que permita, aos docentes e funcionários, uma progressão salarial conforme o tempo de serviço.

Segundo Sousa Junior, a greve deverá manter-se até a aprovação do plano de carreira que foi exposto pela categoria. Uma professora começou a reunião perguntando se o modelo da proposta feita pelo governo foi mostrado ao Sinteps antes de ser apresentado aos funcionários e docentes de Etecs e Fatecs.

Sousa Junior disse que o sindicato teve acesso ao modelo e que havia muitos benefícios, como convênio médico, auxílio-refeição, auxílio-transporte e os títulos e tempo de serviço a serem considerados. Mas, no plano de carreira atual, isto está modificado e consta somente aumento salarial que se aproxima de 7%.

“O governador apresentou algo que não corresponde ao que foi negociado com a classe, parece que ele menospreza nossa inteligência”, disse Sousa Junior.

Um professor da Fatec mostrou-se indignado com o reajuste menor que 7%, porque, segundo ele, o governo está utilizando a progressão como reajuste da inflação.

Sousa Junior concorda que, no projeto de lei enviado para a Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), acontece esse problema. “Uma parte significativa do reajuste vai ser uma composição da inflação”.

Ele disse que o sindicato discutiu emendas para que haja uma alteração que recupere a tabela apresentada na proposta anterior, mostrada ao Sinteps, para que se estabeleça o índice do Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulista).

Sousa Junior, professores e funcionários reclamam, também, da possibilidade de criação de 800 novos cargos comissionados e da construção de novas Etecs e Fatecs, pois, para eles, “se não há condições de manter as unidades que estão em funcionamento, não dará para construir novas”.

Outra questão levantada por uma professora foi sobre o salário do setor administrativo e as funções exercidas pelos servidores dessa área.

Um funcionário administrativo complementou dizendo que um analista financeiro exerce o mesmo trabalho que ele e ganha “bem mais”. Toledo concordou dizendo que, no setor administrativo, há mais problemas que na docência.

De acordo com os professores, o núcleo da administração é pouco representativo e, talvez por isso, seja o que mais está sofrendo com as alterações na lei.

A auxiliar administrativa Viviane Tavares do Amaral Matos disse que é a favor da greve porque o plano de carreira que foi mandado para a Assembleia não é condizente com o que foi apresentado na proposta inicial.

Ela ressaltou outro problema que está passando: ela se formou em 2012, no curso de gestão empresarial, com ênfase em comércio exterior, pela Fatec, e, “como o salário que recebe como auxiliar administrativo é baixo”, tentou se inscrever em um concurso para ser professora, mas não conseguiu, pois o curso não está no catálogo da unidade em que tentou concorrer à vaga.

“Se fosse o plano de carreira apresentado anteriormente, poderia me ajudar, pois temos (funcionários) outro agravante: não podemos ter outros vínculos, temos que trabalhar somente aqui na Fatec. Não posso trabalhar em outra empresa, é ilegal”, afirmou.

“Por isso, sou a favor da greve, porque eu quero lutar para melhorar a nossa situação aqui, para não chegar ao extremo de ter que sair e trabalhar em uma empresa privada”, concluiu Viviane.

De acordo com os funcionários, todos os auxiliares administrativos que trabalham na Fatec possuem ensino superior, mas são “bloqueados”, porque não podem exercer outra função, além de receberem baixos salários.

Os servidores levantaram a hipótese de uma paralisação de dois ou três dias para “mostrar que estão vivos”. Segundo eles, mesmo se for descontado dia de trabalho, não haveria problema, “pois será pouco e é necessário que haja uma ferramenta documentada de reposição, pelo menos, da inflação”.

Toledo explicou que, para fazer a paralisação, é importante convocar assembleia setorial e chamar o movimento de greve.

Também é necessário comunicar o dia em que os funcionários entraram e saíram do movimento, pois assim não estarão “somente paralisados”. Dessa maneira, quando houver a negociação de reposição de horas, provavelmente, não serão efetuados cortes de pontos.

Uma funcionária disse que a intenção era entrar em greve na sexta-feira, 7, mas, após entrar em contato com a Fatec de Sorocaba e receber a informação de que a unidade estava voltando a trabalhar, os servidores da unidade de Tatuí decidiram aguardar um pouco mais.

Os representantes do Sinteps explicaram os passos que devem ser dados caso a unidade decida aderir à paralisação.

Toledo afirmou que, para iniciar a greve, não é necessário que a Fatec tenha um diretor de base. Pode ser escolhido um representante temporário para dar apoio durante o movimento.

De acordo com ele, é preciso que alguém se encarregue em pegar o modelo de ata disponível no site do Sinteps, preenchê-lo e se responsabilizar a passá-la para votação. Seria uma “consulta democrática”, em que os funcionários responderão se querem aderir ou não à greve.

Sousa Junior ressaltou que, em outras unidades, houve casos de funcionários que votariam em não aderir ao movimento, mas se a maioria votasse a favor, eles entrariam também, o que poderia ser uma solução à unidade de Tatuí.

Questionados sobre a legalidade da greve e se haverá desconto nos pagamentos, Toledo explicou que acredita que não, pois a greve não foi mandada para julgamento. E, segundo ele, a melhor maneira de acabar com uma greve “é ela ser declarada ilegal”.

Referente às reposições de aulas – dúvida de professores também -, Toledo disse que será feito acordo entre o Sinteps e o governo para decidirem qual o melhor período de reposição.

Os representantes do sindicato também aconselharam aos docentes e funcionários que elaborem cartas abertas e abaixo-assinados na comunidade, questionando o plano de carreira, e os enviem a deputados, para “ganhar força”.

Toledo acrescentou que, “nas cidades que não possuem escritórios políticos, a orientação é procurar a Câmara Municipal e tentar moções de apoio à greve e cartas de compromisso dos vereadores, se comprometendo a entrar em contato com deputados pela defesa da aprovação das emendas”.

Um professor perguntou quando será votado e sancionado o projeto com as emendas, e Toledo explicou que, para começar a vigorar este ano, a votação deverá ocorrer até 5 de abril.

Sousa Junior disse que, se não der certo até essa data, não adiantará manter a greve, pois não haverá sentido e, mesmo se saírem perdedores, será interessante manter contato para futuras mobilizações.

Os representantes do sindicato afirmaram que o Centro Paula Souza não contava com a mobilização e que o governador, “provavelmente, está preocupado também”.

De acordo com Toledo, o comando geral insiste pela continuidade da greve, pois, se continuar assim, “a tendência é que o plano tramite rápido e seja aprovado”.

“A gente não acredita mais que vai retornar ao que era, mas precisamos defender algumas emendas. As tabelas de reajuste dos funcionários não podem passar do jeito que estão, precisam melhorar”, ressaltou.

Toledo pediu aos docentes e funcionários que o ajudem na mobilização. “Se vocês conseguissem mobilizar e conscientizar os outros colegas, seria uma força muito significativa. Isso pesará muito no movimento”, finalizou.

O diretor da Fatec, Mauro Tomazela, manifestou-se dizendo que não é “contra nem a favor” à adesão da greve. “Cada um tem o poder de decisão, mas é importante que as reposições de todas as unidades sejam regularizadas, para os alunos não se prejudicarem ainda mais”.

Conforme Toledo, a greve começou com 87 unidades. No site do Sinteps, a última atualização do quadro de adesões foi segunda-feira, 10, constando que 101 unidades, entre Fatec e Etecs, continuam a paralisação 100% ou parcialmente.

A Fatec “Professor Wilson Roberto Ribeiro de Camargo”, até o fechamento desta edição (terça-feira, 17h), estava funcionando normalmente, sem paralisações.