Da reportagem
A direção da Ford Motor Company Brasil garantiu que o campo de provas de Tatuí não será fechado em virtude do encerramento da produção das unidades fabris no Brasil, anunciada na tarde desta segunda-feira, 11.
De acordo com nota enviada a O Progresso, a montadora encerrará a produção de veículos em Camaçari (BA) e Taubaté (SP), para carros da Ford, e em Horizonte (CE), para jipes da marca Troller.
Em comunicado divulgado à imprensa, a fabricante diz que a decisão foi tomada “à medida em que a pandemia de Covid-19 amplia a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas”.
A empresa, que fechou 2020 como a quinta em venda de carros no país, com 7,14% do mercado -atrás da General Motors (17,35%), Volkswagen (16,8%), Fiat (16,5%) e Hyundai (8,6%) -, informou que continuará comercializando produtos no Brasil. Eles serão importados, principalmente da Argentina e do Uruguai.
“A Ford atenderá a região com seu portfólio global de produtos, incluindo alguns dos veículos mais conhecidos da marca, como a nova picape Ranger produzida na Argentina, a nova Transit, o Bronco, o Mustang Mach 1, e planeja acelerar o lançamento de diversos novos modelos conectados e eletrificados”, diz em nota.
A montadora afirma que todos os clientes no Brasil e na América do Sul seguirão com assistência de manutenção, serviços, peças de reposição e garantia e reforça;
“A empresa manterá o Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, o Campo de Provas, em Tatuí (SP), e a sede regional em São Paulo”, comunicou.
Aproximadamente 5.000 empregos serão afetados com a reestruturação no Brasil e na Argentina. O país vizinho sofrerá ajustes pelo encerramento da produção no Brasil, mas continuará produzindo veículos.
Ao todo, a Ford possui 6.171 funcionários no Brasil. Em Taubaté, 830 funcionários serão demitidos, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos. A fábrica de Horizonte emprega 470 pessoas.
A unidade de Camaçari, que produzia os modelos Ka e EcoSport, e a de Taubaté, onde eram feitos motores e transmissões, serão fechadas imediatamente, reduzindo a produção às peças para estoques de pós-venda.
A fábrica da Troller em Horizonte continuará operando até o quarto trimestre de 2021. Como resultado, a Ford encerrará as vendas dos modelos EcoSport, Ka e T4 assim que terminarem os estoques.
A montadora ainda afirma que as operações de manufatura na Argentina e no Uruguai e as organizações de vendas em outros mercados da América do Sul não serão impactadas pelo fechamento das fábricas no Brasil.
De acordo com a Ford, o encerramento das atividades é mais um passo de um processo de reestruturação global.
“A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável”, disse Jim Farley, presidente e CEO da Ford.
“Estamos mudando para um modelo de negócios ágil e enxuto ao encerrar a produção no Brasil, atendendo nossos consumidores com alguns dos produtos mais empolgantes do nosso portfólio global”, completou Farley.
No ano passado, a Ford vendeu 119.454 automóveis no Brasil, segundo dados da Anfavea. O resultado representou queda de 39,2% na comparação com 2019, maior que a observada em todo o segmento de automóveis.
Em decorrência do anúncio, a Ford prevê impacto de aproximadamente US$ 4,1 bilhões em despesas não recorrentes.
Aproximadamente US$ 1,6 bilhão será relacionado ao impacto contábil atribuído à baixa de créditos fiscais, depreciação acelerada e amortização de ativos fixos.
Os valores remanescentes de US$ 2,5 bilhões impactarão diretamente o caixa e estão, em maioria, relacionados a compensações, rescisões, acordos e outros pagamentos.
No Brasil, o primeiro passo da reestruturação ocorreu em 2019, com o encerramento da produção na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), depois de 52 anos – ela foi vendida em outubro de 2020 para a Construtora São José.
Com o fechamento, a marca deixou de vender no Brasil o Fiesta e abandonou o mercado de caminhões na América do Sul. A unidade do ABC paulista empregava 2.350 funcionários e, desses, apenas mil, que são da área administrativa, foram mantidos.
Na ocasião, questionada por O Progresso, a direção da Ford garantiu que o campo de provas de Tatuí não seria fechado. Contudo, em novembro de 2019, confirmou o desligamento de 110 funcionários, alegando que o objetivo era “tornar a unidade viável economicamente e manter a capacidade inovadora de desenvolvimento de produtos”.
Conforme a empresa, os desligamentos decorreram da subutilização da capacidade do complexo – que atualmente opera em 30% -, “bem como da característica cíclica do trabalho realizado na unidade”.
Também em nota, a multinacional reafirmou a intenção de manter as operações do campo de provas e ainda ressaltou que a unidade “tem um rico histórico de inovações, permitindo o desenvolvimento de veículos de alta qualidade para a América do Sul e outros mercados ao redor do mundo”.
Ford em Tatuí
Conforme dados divulgados pela Secretaria Municipal da Fazenda e Finanças, até 2019,o campo de provas da Ford de Tatuí contribuiu com valor aproximado de R$ 2,8 milhões por ano na arrecadação da cidade.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí, Ronaldo José da Mota, a Ford vem passando por um momento de reformulação em todo o país, mas ele garantiu que não haverá demissões no campo de provas.
“Em novembro de 2019, fizemos um acordo no qual a empresa se comprometeu a nos informar de toda e qualquer alteração que pretendesse fazer na planta tatuiana. Eles não podem demitir sequer um funcionário sem que antes tenham avisado o sindicato”, disse Mota.
Segundo ele, atualmente, a unidade emprega cerca de 150 funcionários, incluindo trabalhadores terceirizados.
O campo de provas da Ford em Tatuí é considerado um dos mais modernos do mundo e funciona desde 1978, com instalações completas para o desenvolvimento e teste de automóveis, utilitários e caminhões, em área de 4,66 milhões de metros quadrados.
Conforme divulgado pela multinacional, as instalações situadas na rodovia Antônio Romano Schincariol contam com áreas administrativas, laboratórios, oficinas para a construção e montagem de protótipos, testes especiais e 50 quilômetros de pistas, que englobam áreas específicas para o desenvolvimento de carros e caminhões, além de engenharia experimental de motores.
O campo é equipado para a realização de testes de desempenho e consumo de combustível, freios, barreira de impacto (“crash-test”), penetração de água e poeira, câmara fria, cabines de névoa salina, arrefecimento, nível sonoro interno e externo, emissões, evaporação, durabilidade, construção de protótipos, dinâmica veicular, calibração e desenvolvimento de motores, entre outros.
As pistas de testes simulam as diferentes condições de ruas e estradas da América do Sul, rampas com diferentes ângulos de inclinação e estradas de terra dos mais diferentes tipos.
Além disso, o “Laboratório de Emissões” é o único da Ford na América do Sul certificado conforme a norma internacional de qualidade ISO 17025, que permite certificar veículos exportados sem que os órgãos governamentais estrangeiros precisem acompanhar os testes.