Antes, é difícil resistir a observar como os termos da moda agradam tanto, mesmo que pouco conectados à realidade. Poder do marketing – essa que, segundo alguns, como o professor e filósofo Luiz Felipe Pondé, é a ciência mais eficiente e poderosa da atualidade.
“Novo normal” é um desses termos, que cai no gosto popular, enfiado goela abaixo, e propaga-se feito mantra, tal jingles publicitários, a atrair os consumidores – neste caso, levados a crer que o mundo pode até ser “melhor” na pós-pandemia, com mais solidariedade, segurança e respeito.
Grande bobagem! Os novos investimentos em prevenção na área de saúde, certamente, são incontestes, mas pouco além disso pode ser esperado. E, de certa maneira, ainda bem!
Basta questionar alguns pontos: quantos pais prefeririam que os filhos seguissem estudando pelo celular ou computador (aqueles que possuem esta mordomia) ao invés de mantê-los em contato com os coleguinhas e professores, assim também lhes aprimorando a educação pelo convívio social?
Quais “baladeiros” optariam por tomar cerveja sozinhos em casa – quem sabe, em rebolados solos diante do computador -, acompanhando “lives”, ao invés de sair para encontrar os amigos e paquerar em festas de verdade?
Entre tantas outras situações, entretanto, a que mais espanta é a ideia de que o povo – mundial – será mais solidário, de que dará “mais importância à vida” (até dos outros). Isto beira ao ridículo!
Mesmo agora, em plena pandemia, com mais de mil brasileiros perdendo a vida todos os dias, há até altas autoridades que, claramente, estão pouco se importando com a dor dessas milhares de famílias com entes falecidos – muito mais preocupadas com as próximas eleições, senão apenas em tentar salvar o próprio mandato.
Muitas situações são exemplos da utopia marqueteira. Nesta semana, por exemplo, o jornal O Progresso recebeu reclamação de uma moradora do bairro Nova Tatuí, a qual sustenta estar testemunhando muitos problemas, principalmente aos finais de semana, por conta da “inúmera quantidade de crianças e rapazes soltando pipa”.
“Eles vêm dos arredores e se juntam aqui e têm feito das ruas quase um campo de batalha de pipas! Neste último domingo (21), tinha uns 25, os quais têm tirado o nosso sossego!”, assegura a moradora, ainda lembrando o perigo representado pelas linhas amarradas às pipas, altamente cortantes.
Em situação (realmente) “normal”, há lugar e momento para tudo, inclusive para o lazer – atividade não menos importante que as demais, pelo que merece respeito e incentivo.
O lazer não só gera emprego e, assim, contribui com a economia, como faz bem ao “emocional” e, portanto, à saúde de todos, seja àquele que acompanha um jogo de futebol, pratica ciclismo, empanturra-se de brigadeiro na Feira do Doce ou, simplesmente, vara a noite em uma “balada” – desde que isso não tire o sono de terceiros.
Não obstante, pelo lazer “da noite”, encontra-se um dos maiores exemplos de que nada vai mudar no futuro, exatamente porque agora as festas não poderiam estar acontecendo. Mas, acontecem.
A farra fora de hora e lugar situa-se na mesma instância do pessoal que não usa máscara, seja porque é “negacionista” (até que perca alguém da família) ou porque se acha imune, o “resistentão”! Contudo, como já bem disseram, não usar máscara não é não ter medo da morte, é não ter medo de matar os outros.
Com essa mesma postura de completo desapreço à vida alheia, muitos seguem ignorando o perigo e, pior, parecem celebrá-lo com festas absolutamente inoportunas. Isto em todos os lugares, até mesmo em Tatuí.
Em razão disso, já na semana passada, a prefeitura informou ter intensificado a fiscalização, por meio da Guarda Civil Municipal, realizando operações diárias para garantir o cumprimento do isolamento social.
Chácaras, residências, bares e demais estabelecimentos promovendo festas ou algum outro tipo de aglomeração são alvos das operações e podem ser notificados e autuados.
Em duas ações recentes, fiscais da prefeitura e agentes da GCM fecharam oito estabelecimentos em funcionamento irregular e interditaram oito festas em chácaras na área urbana e rural.
Também têm ocorrido averiguações de perturbação do sossego em residências, onde os moradores são orientados quanto aos riscos de aglomeração e o som alto é suspenso.
Junto às festas em locais particulares, a primeira fiscalização, como em relação aos comércios, é no sentido de orientação. Os fiscais vão até o local, orientam, explicam sobre os decretos e pedem que deixem de realizar a festa. No entanto, se há reincidência, acontece a aplicação de penalidades.
O cidadão envolvido em aglomerações pode ser encaminhado à Delegacia Central e enquadrado no artigo 268 do Código Penal, que prevê multa e detenção de um mês a um ano, por se infringir determinação do poder público destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa.
A verdade é que fazer festa em meio a tanta tragédia pode não ser surpreendente – dada a insensibilidade e extremismo a tomar conta de boa parte da população -, mas que é algo macabro, isto é.
Pode até ser interpretado como uma espécie de recriação do sabá – também conhecido como “missa negra” -, uma cerimônia satânica a festejar a morte neste infernizante “novo normal” do capeta!