Fatec Tatuí sedia evento empresarial do estado com foco em capacitação

Secretário de SP aponta diretrizes para o desenvolvimento regional

 Autoridades políticas e empresariais se reúnem em evento na Fatec (Foto: AI Prefeitura)
Da reportagem

Na noite de segunda-feira, 18, na Fatec de Tatuí, autoridades políticas e empresariais se reuniram para discutir o futuro econômico e de desenvolvimento da região, no encontro empresarial “Inovação, Capacitação e Parcerias”, promovido pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), do sistema “S” (Sesi, Senai e Sebrae), e pela prefeitura de Tatuí.

O evento, considerado o mais abrangente com foco na reindustrialização e formatação do plano de desenvolvimento regional dos últimos dez anos na cidade, contou com a presença do secretário do Desenvolvimento Econômico do estado de São Paulo, Jorge Luiz de Lima.

Na pauta, assuntos considerados de “extrema importância” para o desenvolvimento do estado foram pontuados de forma a fomentar a atração de investimentos e geração de emprego e renda por meio da capacitação profissional.

Foram discutidos, ainda, projetos futuros que envolvem a transição energética, tecnologia 5G e propostas de mudanças no modal ferroviário do Estado.

A iniciativa tem como objetivo “abraçar” os municípios do interior paulista como forma de diagnosticar e tratar as suas necessidades, as quais envolvem desde a capacitação profissional até o desenvolvimento da cadeia produtiva da região.

“A questão que eu bato é de que não adianta treinar, nós temos que qualificar. Temos a demanda, mas não temos a qualificação. E elas têm que vir dos prefeitos e dos empresários”, defendeu.

“E nós, como parceiros, temos que alocar naquilo que a região tem de melhor; caso contrário, será um desperdício de dinheiro público”, avaliou o secretário.

Ele ressaltou a importância da realização de uma espécie de mapeamento regional para que cada região possa elencar as necessidade e demandas delas.

O governo, contudo, propõe tratar o estado de São Paulo como “se fosse um país”, dividindo-o em 16 regiões administrativas. O objetivo, segundo o secretário, é formar 16 coalizões empresariais focadas no desenvolvimento, geração de empregos, educação e oportunidades.

De acordo com o mapa de desenvolvimento traçado pelo Ciesp, a Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) está dividida em cinco regionais, além da cidade-sede.

Tatuí contempla a sub-região 2, que tem como integrantes as cidades de Porangaba, Cesário Lange, Guareí, Torre de Pedra, Quadra e Capela do Alto.

Com 123.942 habitantes, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o município tem na indústria a representatividade de 30% do PIB e conta, segundo dados do Ciesp, com um polo industrial preparado para receber novos investimentos.

Para este ano, por exemplo, há previsão de R$ 40 milhões em investimentos da empresa Santista, conforme antecipado durante o encontro.

O assistencialismo social também foi apontado por Lima como um problema global pós-pandemia. “As pessoas voltaram para o assistencialismo. Elas acham que o estado tem que sustentá-las. Acostumaram-se a receber gratuitamente, que agora não querem mais sair”, declarou.

“As pessoas precisam voltar a ter dignidade. E dignidade é CPF, CNPJ e emprego. Não podemos transformar algo que é temporário em eterno”, emendou.

Ele reforçou, como ponto de partida para o desenvolvimento regional, a estratégia de direcionamento de vocações focadas à demanda de cada lugar.

“Qual é a característica de Tatuí? O que dá para trazermos para cá em forma de desenvolvimento? Esse é o caminho que também envolve a qualificação”, sustentou.

A qualificação profissional das mulheres, “diferentemente de como era tratada no passado”, disse ele, também foi apontada como necessária. “Fica parecendo que ainda estamos fazendo um favor a elas. Temos que desenvolvê-las tecnicamente”, frisou.

Malha ferroviária

O secretário enfatizou a necessidade da recuperação do modal ferroviário com o intuito de reduzir o custo logístico. Também mencionou a importância do modal fluvial, citando o rio Tietê como alternativa para o desafogamento das rodovias.

“Não posso continuar acreditando ou apoiando que, por mais que São Paulo tenha as melhores rodovias do Brasil, esse será o modal do futuro”, declarou.

Transição energética

Lima criticou a forma como o estado tem tratado o etanol e afirmou que não investirá “nenhum centavo para as concessionárias hidrelétricas”.

“Ninguém no mundo domina a cadeia, estrutura e tecnologia da cana igual São Paulo. Estamos apostando na energia verde. O estado tem a condição de liderar o mundo”, afirmou.

“São Paulo está determinada na transição energética. Esse é o nosso principal projeto, acoplado à reindustrialização e ao desenvolvimento regional”, afirmou.

Ele ainda defendeu que a solução viável para que uma cidade de até 5.000 habitantes receba a transição energética é consorciá-la a mais municípios. “Para elas, será inviável economicamente; no entanto, se a consorciarmos a dez cidades, começará valer a pena”, explicou.

Turismo como negócio
O secretário também destacou a importância do turismo como negócio e não apenas como lazer. Ele citou que o PIB do turismo mundial é de 10,5%, enquanto, no Brasil, de 7,7%. Se o país alcançar a média mundial, isso representaria acréscimo de R$ 250 bilhões por ano e a criação de 4 milhões de empregos.

Ele apontou a cidade de Campos de Jordão como exemplo. “Como uma cidade que vive do turismo não ter nenhum curso voltado a ele? Eu fico revoltado em perdê-la para Gramado – que atualmente é a segunda cidade mais visitada país. Não dá para aceitar! Nós temos que direcionar as nossas vocações para a demanda do lugar”, reforçou.

Tecnologia 5G

Para o secretário, é “inaceitável e inviável” o desenvolvimento de um estado que não possua um modelo eficaz de investimento na área da comunicação. “Aqui em Tatuí, fiquei em cinco lugares sem sinal. Como você irá desenvolver um lugar sem internet?”, questionou.

A implantação da tecnologia 5G, de acordo com Lima, já tem legislação voltada à implantação em 145 cidades do estado, e espera-se que, até dezembro deste ano, alcance 300 municípios.

“Esse modelo de comunicação 5G é inclusão. Não tem como desenvolver um país sem internet. E isso só será possível com o movimento da sociedade”, argumentou.

Palestras

Durante o evento, o público acompanhou quatro palestras voltadas ao desenvolvimento empresarial.

A primeira foi ministrada pelo diretor titular do Ciesp regional de Sorocaba, Erly Domingues de Syllos, voltada ao direcionamento dos encontros empresariais.

Syllos apresentou um breve histórico sobre o foco no desenvolvimento regional em parceria com o governo do estado, além de apresentar os números baseados no desenvolvimento de cada cidade da sub-região 2.

Segundo relatório apresentado, a região tem na metalmecânica o maior setor produtivo, com 33% da produtividade, seguida de alimentos (17%), madeira e mobiliário (12%), têxtil (10%), plástica e borracha (9%), química (8%), papel, celulose e gráfica (5%), automotiva (4%) e construção civil (3%).

Segundo os últimos registros do Sistema Estadual de Análise de Dados (Sead Municípios), de 2021, Tatuí exportou US$ 52.499.289 e importou US$ 54.606,966, divididos entre agropecuária, indústria e serviços.
“Nós temos que convergir e verificar o que o estado e o Ciesp, via Sesi e Senai, têm para que possamos fazer um ‘booking’ sobre o que podemos trabalhar e oferecer para os municípios”, pontuou Syllos.
A segunda palestra da noite trouxe o tema “Jornada de Transformação Digital”, com foco voltado ao “maior programa de digitalização de micros, pequenas e médias empresas industriais.

De acordo com o analista de inovação do Senai, Daniel da Cruz, o projeto é uma iniciativa da Fiesp, Ciesp, Senai e Sebrae e oferece treinamento e consultorias para modernização e automatização dos processos de produção. A participação é gratuita a empresas com faturamento de até R$ 8 milhões ao ano.

Para participar da ação, deve-se registrar interesse por meio do site www.jornadadigital.sp.senai.br.

Ministrada pelo coordenador de relações com a indústria e a comunidade do Sesi, Gustavo Gorski de Toledo, a palestra “Trilha de Segurança e Saúde do Trabalho” foi focada nos programas de saúde por meio do sistema informatizado de gestão “S”, que interliga todas as unidades do Sesi, atendendo as empresas do estado.

No programa, o Sesi auxilia indústrias beneficiárias na gestão de laudos e programas, como a emissão do PGR (Programa de Gerenciamento de Risco) e do PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional).

Syllos chamou atenção para a importância do tema. “Essa trilha elaborada pelo Sesi é muito importante neste momento em que as empresas estão tendo que se adequar ao eSocial. Uma gestão eficaz em segurança e saúde no trabalho”, avaliou.

A última palestra da noite trouxe o processo de geração de emprego e renda e energia sustentável por meio da reciclagem como parte do movimento de reindustrialização.

O diretor executivo da CervBrasil (Associação Brasileira da Indústria da Cerveja), Paulo de Tarso Petroni, acredita que o lixo possa transformar catadores de latinhas em empreendedores, se oferecida a eles uma “visão ampla de oportunidade de vida”.
“Essas pessoas têm que ser estimuladas não para catar latinhas, mas a apostar nessa prática como oportunidade de vida, e não uma maneira de vender o almoço para ganhar o jantar”, defendeu.
Ele apontou a ação de logística reversa como forma de incentivo às empresas na iniciativa de reduzir o acúmulo de “inservíveis” à natureza.
Na prática, para cumprir as metas de logística reversa de embalagens, as empresas devem adquirir uma quantidade de certificados de reciclagem que seja equivalente a pelo menos 22% da massa total de embalagens colocadas no mercado.
Essas metas são progressivas e buscam direcionar as empresas a adequarem seus processos a fim de serem alcançadas taxas de reciclagem cada vez mais altas no país.
Ainda assim, os altos custos de logística e reciclagem dificultam o desenvolvimento da cadeia de reciclagem e a implementação da logística reversa nas empresas.
O prefeito de Tatuí, Miguel Lopes Cardoso Júnior, observou que o encontro busca abrir uma discussão no sentido de buscar parcerias para que a cidade seja cada vez mais industrializada.

“A prefeitura e o sistema ‘S’ sempre caminharam lado a lado em busca de progresso e oportunizar os microempreendedores e grandes empresários para estarem ampliando seus horizontes”, comentou.

Segundo ele, “a cidade está em um momento muito bom de expansão empresarial”. “Temos algumas empresas na cidade que estão buscando ampliação. Muitas coisas estão nos bastidores, e ainda não podemos divulgá-las”, concluiu.