
Da redação
Faleceu na noite de segunda-feira, 5, José Coelho de Almeida, conhecido como Maestro Coelho. Educador, músico e referência na formação artística de gerações, ele foi fundador da Corporação Musical “São Jorge” e esteve na direção do Conservatório de Tatuí entre os anos de 1968 e 1983.
“Foi um agente transformador na história da instituição e da vida cultural da cidade. Durante sua gestão, promoveu importantes avanços, como a inclusão do curso de artes cênicas no currículo do Conservatório e a mobilização que resultou na construção do Teatro ‘Procópio Ferreira’”, lembra a prefeitura municipal, em nota divulgada na terça-feira, 6.
“Com dedicação incansável ao ensino e à valorização da cultura, Maestro Coelho formou centenas de artistas ao longo da trajetória. Sua atuação foi reconhecida por diversas homenagens ao longo dos anos”, segue a assessoria do Executivo.
Em 2019, foi convidado a reger parte de um concerto da Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí, ocasião em que também foi homenageado pelo projeto “Ilustres Tatuianos”, promovido pelo Museu Histórico “Paulo Setúbal”.
Em 2024, teve a imagem eternizada na exposição “70 Artistas Celebrando os 70 Anos do Conservatório de Tatuí”, assinada por Binho Vieira, ação que marcou a inauguração do Museu da Imagem e do Som – MIS Tatuí “Jornalista Renato Ferreira de Camargo”.
O velório do Maestro Coelho será realizado nesta quarta-feira, 7, a partir das 10h, na Paróquia Sagrada Família (avenida Cônego João Clímaco, 115).
“Tatuí se despede com profundo respeito, gratidão e emoção de um de seus maiores mestres. Maestro Coelho não deixa apenas notas e partituras, mas uma herança viva de dedicação à arte, à educação e à sensibilidade humana”, acentua a prefeitura.
“Maestro Coelho”
José Coelho de Almeida nasceu em Tatuí em 13 de janeiro de 1935. Casado com Nilda Fonseca Coelho de Almeida, pai do oboísta Carlos Eduardo Fonseca Coelho, flautista Tadeu Coelho (José Coelho de Almeida Júnior), do fagotista Benjamin Antônio Coelho Neto e do clarinetista e saxofonista Luiz Fernando Fonseca Coelho.
Pedagogo musical, administrador escolar e cultural, flautista, regente e 22º mestre de banda da história de Tatuí. Em 1948, iniciou os estudos musicais na Escola Estadual “‘Barão do Suruí” com o professor Nacif Farah e, em janeiro de 1951, ganha uma flauta e inicia estudo do instrumento com Eulico Mascarenhas de Queiroz e João Baptista Del Fiol.
Com a inauguração do Conservatório de Tatuí em 1954, ingressou na instituição, formando-se em flauta na classe do professor e maestro Spartaco Rossi, no ano de 1957.
A partir de 1955, foi flautista da Orquestra da Associação Cultural “Pró-Música” de Tatuí, sob regência do maestro Spartaco Rossi. Teve a oportunidade de reger a tradicional Banda Santa Cruz – segundo registros históricos considerada uma das mais antigas do país.
José Coelho de Almeida foi vereador por dois mandatos na cidade (terceira legislatura, 1956-1959, e quarta legislatura, 1960-1963).
No início dos anos 60, a pedido do vereador Lucas Pelagalli, chefe do setor de manutenção da Fábrica de Fiação e Tecelagem São Martinho – em nome de um de seus proprietários, João Chammas -, organizou uma banda de música para os filhos dos operários daquela indústria.
No campo da formação de prática coletiva de sopros e percussão, foi o pioneiro no Brasil, organizando em 1962 a Corporação Musical “São Jorge” de Tatuí (de 1962 a 1967).
Por meio de uma exposição realizada na vitrine da loja Casa dos Presentes, atraiu centenas de pessoas curiosas em conhecer os instrumentos de uma banda que haviam sido adquiridas para a formação do grupo.
Assim nasce, a Corporação Musical “São Jorge”, que realizou o primeiro concerto público no dia 20 de janeiro de 1963, no palco do Cine Teatro São Martinho, de Tatuí, “para uma plateia lotada, que a aplaudia entusiasticamente”.
À frente da corporação, o maestro Coelho realizou mais de 150 apresentações públicas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, atendendo filhos de funcionários da indústria Têxtil São Martinho.
Segundo o maestro, “a corporação foi um sucesso pois (…) industriais, empresários em geral, são pessoas extremamente intuitivas e práticas; quando analisam um projeto da área cultural que se lhes é apresentado, imediatamente conseguem filtrar o que lhes interessa”.
Em 1967, por ocasião das festas juninas, como maestro da Corporação São Jorge, realizou um arranjo exclusivo para a festividade tendo como foco a música “Cai, Cai, Balão”.
Mestre de Banda da Corporação Musical São Jorge, marcou época com a famosa “Velha Guarda Imortal,” composta por Spartaco Rossi a pedido da família Chammas, para o gênero seresta. Mas, o sucesso da corporação ocorreu quando, em um dos intervalos dos primeiros festivais de seresta de Tatuí, o maestro Coelho executou “São Paulo Antigo” com músicas do cancioneiro popular.
Em maio de 1968, o professor de flauta e regente assume a direção do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos” de Tatuí, “dedicando seu empenho em fazer com que a Instituição atingisse o lugar merecido no contexto artístico musical do estado de São Paulo, visto que, como era de notório conhecimento, o Governador Abreu Sodré (1967/1971) quase havia fechada a Instituição”, conforme lembrado pela prefeitura municipal.
Em sua gestão, conseguiu convencer a classe política local a ceder, em comodato para o estado de São Paulo, o prédio onde funcionava a Câmara e a Biblioteca Municipal, cedido ao Conservatório de Tatuí em seu atual endereço (rua São Bento, 415), para que a escola tivesse melhores acomodações, fato consolidado no dia 24 de abril de 1969. Com o novo prédio, a instituição dobra o número de alunos, passando de 250 para 600.
No ano 1970, é iniciada a construção do auditório da escola, atualmente Teatro “Procópio Ferreira”, com apoio do secretário da Cultura, Esporte e Turismo, Orlando Gabriel Zancaner, e do prefeito de Tatuí, engenheiro Orlando Lisboa de Almeida.
Em 1971, realizou a unificação do conteúdo programático das áreas de cordas e piano, “de maneira que pudesse ser ampliado de forma mais objetiva e eficaz”. Replicando os moldes curriculares da Escola Nacional de Música da Universidade do Brasil (piano) e do Conservatório Municipal de São Paulo (cordas).
Em 1976, institui o curso de artes cênicas no Conservatório de Tatuí e, em 1977, realiza o Festival Estudantil de Teatro Amador, com o intuito de incentivar a atividade teatral entre os estudantes da cidade e atrair alunos para o curso.
O Festival Estudantil de Teatro do Estado de São Paulo (Fetesp), que nasceu como “Festival Estudantil de Teatro Amador”, foi oficializado por decreto estadual de número 18.434/82 em 15 de fevereiro de 1982
Foi em sua gestão, mais precisamente no ano de 1976, que o Conservatório recebe o título de “maior escola de música da América Latina”. Nesse mesmo ano, a Instituição ganha uma importante contribuição do empresário José Mindlin, que doa à instituição “uma enorme quantidade de instrumentos”.
Outra importante doação ocorre em 1981, quando o empresário Wanderley Bocchi cede um extenso terreno onde atualmente está construído o alojamento da escola.
Quando José Coelho de Almeida saiu do cargo em 1983, “deixou um legado importantíssimo para a história da música tatuiana e do Conservatório de Tatuí”, como descreveu o maestro João Carlos Martins em maio de 2019, no Salão Villa Lobos da Instituição.
Disse ele então: “O Conservatório viveu bons e maus momentos em sua história. Dois momentos foram bastante positivos vivenciados pela direção dos maestros Coelho e do Neves”.
Em sua gestão, lembra o Executivo, introduziram-se “os mais modernos métodos de trabalho, tanto no setor administrativo como no didático, modernizando completamente a parte pedagógica da Instituição”. Maestro Coelho ainda Idealizou, criou e dirigiu a Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí.
De 1973 a 1978, foi também assistente do maestro Eleazar de Carvalho no departamento de prática de orquestra do Centro de Cultura Musical. Foi professor de regência de banda no Festival de Inverno de Campos do Jordão de 1979 e 1980 e coordenador pedagógico em 1981 e 1982, introduzindo a banda sinfônica e possibilitando o atendimento de maior número de bolsistas.
Em 1979, a Folha de São Paulo noticiou: “A coordenação de todo o trabalho com as bandas e maestros será feita por José Coelho de Almeida, da Escola de Tatuí, e do major Rubens Leonelli, da Banda da Polícia Militar”, e acentuou: “Do total de 300 bolsas, 84 seriam destinadas a instrumentistas de violino, viola, violoncelo e contrabaixo. A razão desta ênfase é justificada pelo professor José Coelho de Almeida, um dos coordenadores do evento, pela carência deste tipo de instrumentistas nas orquestras brasileiras”.
De 1983 a 1987, prestou serviços de assessoria técnico-administrativa aos Departamentos de Artes e Ciências Humanas e Museus e Arquivos da Secretaria de Estado da Cultura do Estado de São Paulo.
De 1987 a 1991, trabalhou no Departamento de Música do instituto de Artes da Universidade de Campinas (Unicamp), na organização e implantação de uma banda musical comunitária, a Unibanda.
Na Unicamp, também, ministrou aulas de flauta, música de câmara e instrumentação. De 1988 a 1994, deu aulas de flauta e prática de conjunto na Escola Britânica de São Paulo. De 1991 a 1999, coordenou e implantou o plano de ação de atividades de lazer musical no Sesi-SP.
Professor Coelho voltou a Tatuí em 1991, para introduzir a prática coletiva de instrumentos musicais de sopros e percussão na Corporação Musical Santa Cruz, cujo presidente era Arlindo Vieira Pinto.
“Durante toda sua vida profissional, o Maestro Coelho, teve a oportunidade de empreender projetos de ensino coletivo, nos setores público, privado e autárquico, e em diversos graus – primário, médio e superior -, trabalhando com crianças, jovens, adultos e pessoas da terceira idade.
Em 2014, participou da entrevista da série “Notas e Compassos na Capital da Música”, relembrando a História de Tatuí como Capital da Música, sendo entrevistado por Sílvia Corradi de Azevedo Cruz, neta de Bimbo Azevedo. Atualmente, tem recebido diversas homenagens pelos serviços prestados no campo de educação e das artes.
Entre vários reconhecimentos, recebeu diploma de honra ao mérito pela criação e manutenção artística da Corporação Musical São Jorge, pela Câmara Municipal de Tatuí; diplomado pela Confederação de Teatro Amador do Estado de São Paulo, pela organização do 1º Festival Estudantil de Teatro Amador de Tatuí em 30 de novembro de 1977; título de cidadão emérito de Tatuí; e agraciado pelo Centro do Professorado Paulista (CPP) com a medalha “Sud Menucci”.
Decretado luto oficial de três pela morte do Maestro Coelho
Considerando a destacada trajetória da José Coelho de Almeida, “sua importante contribuição à música da cidade, à formação de músicos e bandas e o reconhecimento nacional de seu trabalho”, conforme informado pela assessoria de comunicação do Executivo, o prefeito Miguel Lopes Cardoso Júnior decretou luto oficial de três dias pelo falecimento do maestro, a contar a partir desta terça-feira 6.
Durante o período de luto oficial, as bandeiras do município são erguidas a meio-mastro em todos os edifícios “públicos, em sinal de respeito e tristeza pela partida de um ente tão querido”.
O velório do Maestro Coelho será realizado nesta quarta-feira, 7, a partir das 10h, na Paróquia Sagrada Família (avenida Cônego João Clímaco, 115).
“Tatuí se despede com profundo respeito, gratidão e emoção de um de seus maiores mestres. Maestro Coelho não deixa apenas notas e partituras, mas uma herança viva de dedicação à arte, à educação e à sensibilidade humana”, conclui a assessoria da prefeitura.