Do registro do primeiro caso de coronavírus no Brasil, no dia 26 de fevereiro de 2020, à primeira paciente com contágio confirmado em Tatuí, em 20 de março do mesmo ano, muita coisa mudou em relação ao comportamento do brasileiro diante da pandemia e, também, do tatuiano frente ao coronavírus.
Em todas as esferas da federação, o país enfrentou – e Tatuí como está dentro dele não passou incólume – por várias etapas, que todos nós estão “carecas de saber”, mas que não custa nada lembrar. Saímos do estágio de negação, da contestação de dados e dos protocolos de atendimento para a dúvida da eficácia do isolamento e da vacina. É o resultado da crença que sempre se sobrepõe à razão.
Sobre a crença, Friedrich Nietzsche, filósofo, escritor e crítico alemão, afirmava que conhecer é julgar, mas o juízo é uma crença de que algo é tal qual e não conhecimento. Sem entrar no mérito filosófico da questão, é exatamente isso o que estamos testemunhando, quando estão em pauta assuntos importantes, como a Covid-19.
Para a infelicidade das sociedades, sempre adoecidas não somente a partir de doenças provocadas por vírus, todas essas crenças, senão encontram ecos, partem de movimentos políticos, carregados por ideologias quase sempre extremistas.
O remédio administrado para o povo tem sido a crença e não o conhecimento; a dúvida e não a certeza; a individualidade e não a responsabilidade social.
Ao contrário de todo placebo, o remédio “fake” administrado mundo à fora traz efeitos e graves, por sinal. A bem da verdade, em Tatuí, há um grande empenho do poder público e das autoridades de saúde para o controle da doença. Mas a falta de uma medida substancial, coordenada nacionalmente, segundo especialistas, tem cobrado um preço caro, mesmo aqui, onde perdemos mais de 200 vidas.
Entre os efeitos, não podemos nos esquecer do risco iminente do colapso no sistema de saúde, o qual a cidade está conseguindo evitar com muito custo e dedicação. Em partes, pela eficiência das autoridades locais, pelo poder de articulação com o estado e pela bravura dos profissionais que atuam na linha de frente da Saúde. Em outra medida, pelas mobilizações da própria população.
Um exemplo claro dessa união é a campanha iniciada pelo Rotary Club de Tatuí, em parceria com o Rotary Club “Cidade Ternura” e com o Lions Clube de Tatuí. A iniciativa que previa arrecadação de R$ 25 mil para compra de mil recargas de cilindros de oxigênio a serem doadas para a Santa Casa de Misericórdia, atingiu 80% da meta programada em apenas dois dias. A campanha começou no dia 5, estava prevista para terminar no dia 25, mas acaba neste domingo, 11.
Para além da questão humanitária, esse movimento local, ainda que inspirado em ação iniciada em outro estado brasileiro (o Rio Grande do Sul) mostra que, apesar das diferenças de credo (não no sentido da fé religiosa, mas da convicção), os tatuianos estão mais preocupados em se ajudar que ter razão. Pelo menos quando o assunto é o coronavírus. Não fosse isso verdade, talvez a situação da cidade estivesse pior, estivesse colapsada. Isso, claro, do ponto de vista das vidas, sem entrarmos no pormenor da economia.
Não se pode negar os efeitos nocivos da pandemia, que afetou a todos, dos produtores aos consumidores, inclusive as grandes corporações – vide a saída da Ford do país. É visível a olho nu que os pequenos e os médios empresários não só da cidade, mas de todo o Brasil, estão agonizando. Falta, para eles, leitos e oxigênio, embora sobrem criatividade, espírito de luta e de perseverança.
Ocorre que os remédios para a economia estão além das forças da população, que é onde está o ponto central para uma mudança de panorama.
Em Tatuí, pacientes e empresários, cada qual com sua luta, estão resistindo e existindo frente ao coronavírus, cada vez mais unidos e não mais separados. Tem sido assim com outras doenças, além da Covid-19. Para combater a dengue, por exemplo, empresários se uniram ao poder público para o estabelecimento de parceria viabilizando a aplicação gratuita de fumacê em 15 bairros.
À imprensa, cabe o papel de defender a ciência e a vacina como único caminho viável para a preservação da vida, ainda que com o mínimo de dano econômico.
Dentro desse processo, de mudança do comportamento diante das crenças, o jornal O Progresso, do alto de seus 99 anos a serem completados em 30 de julho deste ano, nunca se alterou. Isso porque, o veículo coloca o conhecimento científico em primeiro lugar, mantendo-se firme no propósito de proteger a vida, os tatuianos e de garantir acesso à informação de qualidade.
Como as demais empresas brasileiras e tatuianas, o jornal não está alheio às dificuldades, venham elas da situação econômica ou trazidas pelo Sars-Cov2. Da mesma forma que o faturamento não está imune, os funcionários também não. Apesar disso, O Progresso, a exemplo dos tatuianos, existe e resiste ao vírus.
Este editorial é dedicado ao jornalista, escritor e editor-chefe, Ivan Camargo, à gerente comercial, Lívia Amara Rodrigues, e a todos os colaboradores do bissemanário. Resistam, nós vamos vencer essa pandemia!