Da reportagem
A Secretaria Municipal de Educação prevê inaugurar até o segundo semestre a Ceat (Clínica-Escola para Autistas de Tatuí), para atender a pessoas com TEA (transtorno do espectro autista).
De acordo com o secretário da pasta, professor Miguel Lopes Cardoso Junior, a unidade está sendo construída pela prefeitura por meio de parceria com o Ministério Público estadual e as obras já “estão avançadas”.
“A Ceat já está levantada, vamos começar a fase do acabamento. Acredito que não consigamos inaugurar no primeiro semestre, pois dependemos da construtora e da entrega de alguns materiais de construção que estão em falta no mercado. Por isso, a previsão é abrir no segundo semestre”, informou o secretário.
O investimento total previsto para a obra é de R$ 1,4 milhão e inclui a construção de um prédio de 700 metros quadrados em terreno de 12 mil metros quadrados, no loteamento Jardim Esplanada.
O recurso para a implantação da Ceat foi direcionado pela promotora de Justiça Izabela Angélica Queiroz Fonseca, da Comarca de Tatuí. O valor vem de ações e acordos judiciais efetuados pelo MP.
Conforme o MP, se não fosse realizada a parceria com a prefeitura, o dinheiro seria aplicado no Fundo de Interesse Difuso do Estado de São Paulo. A proposta do MP foi aplicar os recursos em projetos que fizessem “diferença prática” na vida dos munícipes.
Inicialmente, a prefeitura tinha indicado o antigo prédio do Lar do Bom Menino, no Vale da Lua, para abrigar o projeto. Mas, por questões jurídicas, o MP não aceitou o espaço, e a administração conseguiu uma nova área.
Segundo Cardoso, a unidade ajudará no processo de inclusão da pessoa autista, oferecendo atendimento especializado. A capacidade de atendimento será de 250 pessoas, com idade a partir de dois anos.
Conforme Cardoso, apesar de a unidade prever atendimento para esse volume de crianças, a princípio, a Secretaria de Educação e o Departamento da Pessoa com Deficiência devem estipular um número menor e, posteriormente, ampliar as vagas, conforme a necessidade.
“Ainda não sabemos exatamente o número de crianças que vamos atender. Podemos começar com cerca de 80, para a gente aprender – porque tudo ainda é muito novo para nós –, e, depois, podemos ampliar este número”, comentou.
Conforme o projeto, a intenção é seguir o modelo idealizado por Berenice Piana (autora da lei federal 12.764, que trata de políticas públicas para o autismo), já em funcionamento há dois anos em Itaboraí (RJ), a qual é referência nacional no tratamento de pessoas com TEA – a primeira unidade inaugurada no país.
Cardoso explicou que a unidade desenvolverá ações de forma intersetorial, como atendimento integral de saúde, serviços multiprofissionais, acesso a medicamentos, incentivo à formação de profissionais especializados no atendimento a pessoas com TEA e promoção de capacitação de pais e responsáveis.
O secretário apontou que a unidade terá como foco a questão terapêutica para o desenvolvimento das crianças com TEA. No entanto, disse existir planejamento para a inserção de outras atividades, visando ainda o atendimento às famílias dos assistidos.
“Também teremos atividades voltadas à família. Uma das ações será ensiná-las a fazer uma alimentação adequada, pois nós sabemos que existem alimentos que potencializam alguns tipos de transtorno e outros que podem ajudar a criança”, argumentou o secretário.
Quanto aos serviços oferecidos, a proposta prevê estrutura multidisciplinar com psiquiatra, nutricionista, pediatra, fonoaudiólogo, psicólogo, psicopedagogo, professores especializados e enfermeiros.
“É uma unidade muito importante. O número de autistas está aumentando e precisamos dar atendimento. Toda cidade tinha que ter uma clínica como esta que estamos construindo e este trabalho para o desenvolvimento da pessoa com o transtorno”, disse o secretário.
“Lá, temos um jardim sensorial que é lindo e vai ajudar muito. Tenho certeza de que é o mais bonito que nós vamos ter neste segmento, além de salas preparadas e planejadas para atender o aluno da melhor forma possível”, adicionou.
Fora o atendimento especializado, o secretário antecipou ter projetos visando oferecer oficinas esportivas e culturais. “Queremos oferecer aulas de judô, balé e outras oficinas para oportunizar o desenvolvimento dessas crianças”, garantiu Cardoso.
“Ainda não temos uma grade completa, mas temos certeza de que o avanço para os alunos será muito grande. Na rede de ensino, tem muitas famílias que não conseguem proporcionar o acompanhamento adequado para a pessoa com TEA, e ali teremos tudo que eles precisam”, completou o secretário.
Em paralelo à construção do prédio da unidade, a prefeitura, por meio da Secretaria de Educação e do Departamento da Pessoa com Deficiência, atua no planejamento das atividades a serem oferecidas e nos detalhes para a implantação da Ceat.
“Existem reuniões constantes para estar discutindo o que trazer de melhor, os equipamentos que vão ser adquiridos, os profissionais que serão contratados etc. Todos os detalhes estão sendo pensados para o bem-estar da criança. É um legado que vai ficar para as próximas gerações”, salientou Cardoso.
Para a formatação do projeto tatuiano, uma equipe esteve no Rio de Janeiro para identificar, com os idealizadores, como são realizadas as atividades, além da estrutura física e burocrática necessária para a unidade.
A terapeuta ocupacional do Departamento da Pessoa com Deficiência, Talita de Campos Urso, fez parte da equipe que participou das reuniões em Itaboraí e frisou que a visita foi importante para conhecer o funcionamento da unidade.
“Itaboraí é a primeira unidade criada, e nós estivemos lá para conhecer mais sobre o projeto, para que a gente pudesse utilizar aquilo que viu como um meio potente para produzir o que a nossa unidade da cidade vai precisar”, contou.
“Não é que a gente vai usar o modelo a ferro e fogo; a gente vai usar as melhores perspectivas deles dentro do que Tatuí precisa”, acrescentou a terapeuta.
A criação da clínica-escola está prevista em lei que cria a Política Municipal dos Direitos das Pessoas com TEA e é voltada às pessoas com transtorno autista, síndrome de Asperger, transtorno desintegrativo da infância, transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação e síndrome de Rett.
“É um sonho que está se realizando e vai sair do papel. Será a terceira unidade do Brasil e, com certeza, a mais moderna. Seremos referência aqui na região e no estado. Nosso trabalho está sendo muito bem elaborado para que isso ocorra”, concluiu o secretário.