Da reportagem
Neste dia 21 de março, no auditório “Jornalista Maurício Loureiro Gama”, do Núcleo de Educação Básica Municipal “Ayrton Senna da Silva” (Nebam), aconteceu uma reunião para tratar de assuntos referentes ao Centro de Hemodiálise em Tatuí.
O encontro foi proposto pelo prefeito Miguel Lopes Cardoso Júnior ao diretor regional de saúde Carlos Ribeiro de Moura, que veio à cidade para falar em especial às autoridades e profissionais envolvidos diretamente com os serviços de hemodiálise.
A questão foi levantada após informações terem sido divulgadas, por meio de redes sociais, em relação às tratativas sobre a efetivação dos serviços pela clínica na cidade. Desta forma, o assunto ganhou repercussão durante a sessão da Câmara Municipal de Tatuí do dia 11 de março.
Na ocasião, o presidente do Legislativo, Eduardo Dade Sallum (PT), afirmou que o ministro e chefe da Secretaria de Relações Institucionais do governo federal, Alexandre Padilha, destinou a Tatuí um recurso no valor de R$ 500 mil para a área da Saúde.
De acordo com ele, a articulação a favor da demanda havia indicado a verba para o início dos serviços da clínica na cidade, alegando que, como o recurso fora disponibilizado “de forma aberta”, ele poderia ser destinado a qualquer finalidade dentro da área de saúde.
Desta forma, segundo ele, com a aprovação do Legislativo, a prefeitura buscaria, no estado, o credenciamento da clínica para os atendimentos na cidade.
A informação, no entanto, foi rebatida pelo vice-presidente da Casa de Leis, Antonio Marcos de Abreu (Republicamos), o qual afirmou não existir credenciamento de serviços de alta complexidade e de custo a nível estadual.
Esse processo, de acordo com ele, é de responsabilidade do governo federal, cabendo ao estado apenas a compra de serviços. No entanto, segundo Abreu, para que isso aconteça, a clínica teria de ter um histórico de atendimento de, no mínimo, seis meses.
Durante o encontro no Nebam, Abreu disse que tem acompanhado o processo de implantação da clínica particular na cidade desde a instalação da pedra fundamental, em 2019. Desta forma, afirmou ter “propriedade ao esclarecer sobre os trâmites em relação ao serviço na cidade”.
De acordo com ele, já foram feitas diversas reuniões entre o dono da clínica, Alcir Weiller Ferrari, e Moura sobre a situação dela e o que caberia a cada um deles fazer para que tivesse início o funcionamento. Entretanto, em uma dessas visitas, foi observado que a clínica não possuía nenhum equipamento necessário para os atendimentos.
“O doutor Carlos presenciou e não vai me deixar falar mentira. O objetivo nosso é fazer com que essa clínica funcione aqui na cidade. É isso que nós queremos. Precisamos de união para que isso aconteça. No entanto, lá, só tem o prédio”, declarou.
Abreu também reiterou as condições básicas, as quais a clínica teria de ter para pleitear a compra de serviços pelo estado e, consequentemente, o credenciamento por meio do governo federal. Entre elas, a série histórica de atendimento de seis meses.
“Desta forma, a clínica tem de estar funcionando de forma independente durante esse período. A partir daí, o estado verifica as condições de funcionamento para saber se ela está cumprindo as normas de vigilância sanitária, porque isso é um problema que causa risco de vida”, salientou.
Para a compra de serviços de hemodiálise pelo estado, de acordo com a DRS, a clínica deve “credenciar” no mínimo 130 pacientes. Em Tatuí, há 80 que se deslocam, no mínimo, três vezes na semana para as cidades de Itapetininga e Sorocaba, onde passam pelas sessões de hemodiálise.
De acordo com Abreu, a prefeitura, por meio da Secretaria de Saúde, enviou um ofício à clínica, requisitando informações sobre a capacidade de atendimento conforme a demanda exigida pelo órgão. Segundo Ferrari, a clínica teria a capacidade de atendimento dos 130 pacientes em prazo de um ano. Atualmente, segundo ele, o espaço tem como atender, no primeiro mês, 25% desses pacientes; no segundo, 45%; e no quinto, 50%, até atingir a meta de 100% em um ano.
“E o porquê disso? Porque tem aproximadamente 80 pacientes de Tatuí e mais 50 de fora, que ele (o estado) ia trazer à cidade para fazer esse tipo de atendimento. Então, de primeiro, a clínica não comportaria a necessidade do governo estadual”.
“Agora, a clínica precisa estar aberta aqui. Digo isso porque não adianta ter o prédio, tem que ter funcionários, máquinas e várias outras coisas”, acentuou Abreu.
Ele sustentou, ainda, que a compra de serviços requer “responsabilidade”, em razão de o estado ter de romper com outras clínicas para que os pacientes possam ser realocados em Tatuí.
Ainda declarou que, para que a clínica funcione, ela tem de seguir algumas normas técnicas, “não sendo possível colocar o paciente para ser atendido sem médicos, serviços e atendimentos necessários, além da hemodiálise”.
Moura disse ter recebido o convite para a reunião como maneira de explicar para a população, “de forma clara, as diversas informações que vêm sendo divulgadas em relação à clínica e a posição da DRS sobre à compra de serviços”.
Para ele, a intermediação do órgão regional requer “cuidados e responsabilidade”. Ele disse entender a situação dos pacientes que têm de viajar por mínimo três vezes na semana a cidades de região. No entanto, sustentou não ser simples a manutenção de serviços diários na cidade.
Ele explicou que o atendimento requer uma estrutura maior, além do processo da hemodiálise. Para isso, o local teria de ter máquinas e serviço de água adequados, fornecimento de remédios, entre outras situações, segundo ele, essenciais, para a saúde dos pacientes. Além disso, acentuou ser preciso um suporte de UTI e pronto-socorro, os quais “a cidade não comportaria”.
“E tem que fazer a fístula” (tipo de acesso vascular para diálise feito cirurgicamente pela conexão direta entre uma artéria e uma veia no antebraço ou no braço), apontou.
“Se estiver ruim, tem que fazer um outro procedimento mais chato para que ela possa funcionar. Então, junto com a hemodiálise, tem um monte de outras coisas que também têm que estar junto para que o serviço possa funcionar”, reiterou.
Moura explicou que, atualmente, a cidade de Itapetininga é o centro da microrregião em relação à concentração de serviços de saúde. No entanto, reconheceu que, com o crescimento dessa região, daqui a algum tempo, ela não conseguirá suprir a demanda.
“Então, a gente precisa de outros locais da região que assumam esse papel. E Tatuí é uma delas. Não apenas ela, mas Capão Bonito também é uma cidade desenvolvida e que tem condições de ser um outro polo de atendimento”, argumentou.
Moura declarou que, atualmente, Tatuí não conseguiria atender tecnicamente os pacientes em razão, segundo ele, “de o dinheiro gasto ser alto, com o retorno pequeno”, o que, segundo ele, “acabaria não dando certo”.
Além disso, esclareceu que a cidade está próxima a dois centros que já realizam a diálise (Sorocaba e Itapetininga) e que não há demanda reprimida do serviço.
“Não tem pacientes esperando na fila para fazer diálise. Então, como é que você justifica por um serviço a mais onde não há necessidade? E quando eu digo justificar, não é para mim ou para o estado: é justificar para a União. Por que vai querer um novo serviço de diálise, se não tem gente na fila esperando?”, pontuou.
Ele ainda apontou serem necessários outros critérios para justificar, ao governo federal, a presença de mais uma diálise na região. “Depois dessa análise, eu conversei com o prefeito (Cardoso Júnior). Tatuí é um lugar que pode fazer isso”, afirmou.
“Que outra cidade fora Itapetininga, com essa população, pode ter um serviço desse aqui? Se não for aqui, não vai ser em outro lugar. Tatuí é a bola da vez para ter um serviço de hemodiálise”, defendeu.
Ele justificou “ter comprado a ideia” para a aquisição de serviços na cidade em razão de uma lógica de atendimento. De acordo com Moura, para que o Ministério da Saúde não tenha prejuízo com o credenciamento de clínicas, o mínimo de pacientes atendidos tem de ser 80.
“Hoje, parece um número cabalístico, mas Tatuí tem 79 que realizam diálise fora daqui. Então, o que a DRS imaginou: há várias cidades próximas a Tatuí que não são tão próximas assim de Itapetininga. Então, se a gente trouxesse os pacientes dessas cidades, aumentaria esse número e nós conseguiríamos chegar em 140 pacientes, juntando algumas cidadezinhas ao redor”, detalhou.
Desta forma, segundo ele, a justificativa de índice ficaria mais robusta para ser levada ao Ministério da Saúde. “Independente de não ter gente na fila, nós estamos fazendo isso”, salientou.
Moura também garantiu que a DRS está empenhada para que os serviços sejam realizados em Tatuí. No entanto, salientou que a cidade ainda não possui estrutura adequada para receber pacientes da região.
Para ele, abrir a clínica nas condições atuais de Tatuí é “criar uma armadilha”.
“Não adianta montar se aqui não realiza todos os serviços. Ele tem que ser correto e completo. Você tem que ter lugar para fístula, tem que ter UTI, tem que ter ambulatório, tem que ter essa linha de cuidado”, repetiu.
Para ele, o município tem de investir em estruturas e ações para que que a população evite ser dialítica. Desta forma, chamou de “atenção básica” os cuidados a serem tomados de forma preventiva a doenças renais crônicas.
“As pessoas têm de evitar ser hipertensas. Tratarem de hipertensão, ou, se forem diabéticas, cuidarem da doença e evitarem esses males”, declarou. Para ele, é necessário “investir pesadamente” na atenção básica, não só para quem já tem o problema, mas para orientar a família de quem tem a doença.
“A atenção básica tem que ser reforçada. Tem que ter um ambulatório e especialidade para cuidar daquele paciente que ainda não é de diálise, mas já tem uma disfunção para que não piore. Tem que ter os exames necessários, ultrassom, entre outros”, emendou.
Moura também comentou sobre o recurso de R$ 500 mil, os quais, segundo Sallum, seria destinado ao Centro de Hemodiálise. Desta forma, apontou como positiva a busca por recursos para a Saúde de Tatuí. No entanto, disse que o valor seria “irrisório” perto dos custos necessários para a manutenção da clínica.
“Fiquei sabendo que a cidade conseguiu R$ 300 mil e que, com esse valor, daria para montar o serviço. Mas, até quando? Com esse valor, a clínica sobreviveria por três meses. E o quarto mês?”, questionou.
“Eu mando o paciente para onde? Aí eu tiro o leito, a vaga no carro, por exemplo, tiro o paciente de uma cidade e coloco ele aqui. Três meses depois, acaba o dinheiro. Não pode ser assim. O serviço tem que estar montado, adequado, tem que garantir o sustento dia a dia, mês a mês, ano a ano”, afirmou.
Para ele, os recursos oriundos de emendas parlamentares vêm para se somar a um serviço já custeado pelo estado ou União, como é o caso dos serviços de hemodiálise, o qual o estado habilita e o governo federal credencia.
E como a cidade não possui esse serviço, segundo ele, essas emendas têm de ser utilizadas na atenção básica de saúde, na melhoria desse serviço. “Nós não vamos começar o serviço de hemodiálise com essa emenda. Não dá para ser simples”, concluiu Moura.