Desinformar é a estratégia

José Renato Nalini *

É preocupante a disseminação de inverdades sobre as urnas eletrônicas brasileiras. Há mais de 20 anos elas funcionam e nunca houve comprovação de fraude, se não o inconformismo dos perdedores.

Irineu Francisco Barreto Júnior escreveu o artigo “Desinformação como estratégia política: fake news sobre urnas eletrônicas e o ataque permanente às instituições democráticas”, veiculado nos cadernos Adenauer vol.1-2021.

O autor pensa que simplificar o sofisticado fenômeno de comunicação chamando-o de meras “notícias falsas”, representa mitigar os nefastos efeitos da sua adoção na arena democrática e em disputas eleitorais.

A questão é muito mais séria. A tática da desinformação política encontra-se em pleno funcionamento no Brasil, alicerçada em rede com ampla capilaridade e impulsionada por diversos agentes públicos e privados que compõem um verdadeiro ecossistema de disseminação de desinformação política.

Quem é que se encarrega dessa tática? É uma tribo numerosa, que inclui autoridades com mandato executivo, parlamentares, assessores alocados em gabinetes e no parlamento, influenciadores digitais, produtores de conteúdo de texto, vídeo e imagem, todos envolvidos com a produção e disseminação de inverdades em redes sociais.

Utilizam-se também de plataformas de vídeos, portais simulacros de páginas noticiosas, mas que na realidade espalham desinformação. Conteúdo deliberadamente falso, distorcido, enviesado ou descontextualizado.

É um verdadeiro Ecossistema de Desinformação Política, atuante nos ataques contra o regime democrático e contra o Supremo Tribunal Federal.

Durante o ano de 2019, foram abundantes as mensagens que incitavam à invasão do STF, conclamavam intervenção militar ou do Poder Executivo junto à Suprema Corte.

Divulgou-se uma série de pedidos de impeachment de ministros, colocou-se a urgência manifestações e protestos em Brasília e exortou-se o Congresso a instalar uma CPI que se chamaria “Lava Toga”.

Em cenário tal, a desinformação sobre as urnas eletrônicas representa uma falsa narrativa engendrada pelo ecossistema da desinformação. As eleições de 2020 foram regulares e as providências adotadas pelo Tribunal Superior Eleitoral conferiram, mais uma vez, lisura ao pleito.

As pessoas lúcidas precisam convencer aqueles que foram alvo de cruel campanha para desprestigiar o exitoso sistema eleitoral brasileiro e colaborar para que essa poluição do ambiente político não interfira rumo a indesejável retorno ao anacronismo do voto escrito.

* Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras – 2021-2022.